Moradores relatam terem sido coagidos pela PM a assinar carta

Campinas/SP – Está confirmada a suspeita: a carta assinada por moradores pedindo que a PM de Campinas fizesse a revista a jovens, “especialmente” pardos e negros, e que a PM pretendia usar como álibi para justificar a Ordem de Serviço considerada racista assinada pelo Capitão Ubiratan de Carvalho Góes Benedutti, foi forjada pelo próprio comandante do Batalhão.

A denúncia foi feita pelos subscritores da carta – os moradores Sérgio Maurício Montagner e Fujio Sato – em reunião no Sindicato dos Metalúrgicos convocada pelo Fórum Contra o Racismo, o Genocídio da População Negra e a Violência Policial, realizada na noite de sexta-feira (15/02).

Segundo Reginaldo Bispo, coordenador de Organização do Movimento Negro Unificado (MNU), um dos líderes do Fórum, que neste domingo, promoveu manifestação de protesto no Taquaral, Montagner e Sato compareceram espontaneamente e contaram como foram envolvidos pela PM na trama para justificar a ordem baixada pelo Comando.

Segundo disseram o próprio capitão Ubiratan os convocou para uma reunião e lhes apresentou o texto da carta, com data retroativa a 21 de dezembro. Os dois disseram que questionaram a data e teriam recebido a resposta: “É praxe”. A carta tem a mesma data da Ordem de Serviço – 21 de dezembro.

Após a denúncia

A reunião no Comando aconteceu logo em seguida o fato ter sido noticiado pela mídia, em matéria no Jornal da Record, provocando a reação indignada do movimento negro e de entidades de defesa dos direitos humanos. Sato e Montagner, que disseram estar assustados e temer represálias, não souberam informar a data do encontro com o capitão da PM.

Afropress publicou com exclusividade a cópia da carta dos Moradores no dia 29 de janeiro. A carta começava com um “Caro Comandante” o que colocou em dúvida a autenticidade do documento, pelos termos pouco usuais como os moradores se dirigiam ao oficial.

Na carta, Sato e Montagner que disse estar passando por problemas de saúde, pediam reforço das rondas da PM nas ruas Castro Alves, Avenida Júlio Diniz, Baronesa Geraldo de Resende e Oratório, próximo ao Liceu “pois estamos sendo vítimas de criminosos que estão assaltando nossas residências”.

Assalto 

Na reunião de sexta, Montagner contou que no dia 14 de novembro do ano passado foi vítima de assalto nas imediações da sua casa, e fez um Boletim de Ocorrência. Posteriormente procurou a PM e lembra ter participado de uma reunião com moradores do bairro, em que teriam sido orientados pelo comando a assumirem o Programa chamado Vizinhança Solidária.

Assustados com a repercussão do caso, os dois, primeiro procuraram a Associação dos Docentes da Unicamp e depois o Sindicato dos Trabalhadores na Universidade, para relatar o ocorrido. Segundo Reginaldo Bispo, os dois “estavam tensos”. A reunião em que relataram a farsa foi gravada, com conhecimento de ambos. Há áudio e imagens.

Muito grave

Segundo Reginaldo Bispo “a denúncia dos moradores do Taquaral põe fim a mais esse ato ilícito, uma fraude inventada pelo oficial da PM para produzir seu álibi, expondo os  moradores e responsabilizando-os pelo ato racista”.

Para Bispo, a denúncia “aprofunda ainda mais as irregularidades e denuncia os métodos fraudulentos utilizados pela corporação, a exemplo dos atos de resistência, seguidos de morte, contra jovens negros.

Fonte: Afropress

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