Aldeia Maracanã: Cabral se irrita com polêmica e diz que contraproposta já está aprovada

Índios da Aldeia Maracanã se reuniram com o secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos nesta terça-feira para definir seu futuro após a remoção. Fotos: Douglas Shineidr / Jornal do Brasil

Henrique de Almeida e Luciano de Pádua, Jornal do Brasil

Durante a inauguração da Unidade de Polícia Pacificadora de Manguinhos e Jacarezinho, na manhã desta quarta-feira (16), o governador Sérgio Cabral informou que já leu e aprovou a minuta da proposta da Secretaria de Assistência Social, oferecida aos índios da Aldeia Maracanã na noite de terça-feira. De acordo com a proposta, seria criado um Centro de Referência da Cultura Indígena para a preservação de seus hábitos e costumes, em contrapartida à remoção dos índios da Aldeia Maracanã, no Rio. Questionado sobre por que, se os índios estão no local desde 2006, só agora o governo insiste na remoção, o governador mostrou impaciência e disparou:

“Porque antes não tinha Copa do Mundo, antes eu não era governador. Podemos fazer muitas perguntas nesta ordem: ‘Por que não foi feita a pacificação de Manguinhos e Jacarezinho antes? Por que não foi feita a Linha 4 do Metrô antes? Por que não se reformou os trens da SuperVia antes? Por que não foram comprados  novos carros para o Metrô antes?'”

Na noite de terça-feira, em entrevista a jornalistas, o governador Sérgio Cabral disse que se referir ao local como uma aldeia é “deboche”. O governador destacou ainda que os índios ocupam o lugar desde 2006. “Eles não estão lá desde 1506, 1606, 1906…”

Foto: Douglas Shineidr / Jornal do Brasil

Governo acena só com aluguel social para Aldeia Maracanã

O semblante cabisbaixo dos índios da Aldeia Maracanã na Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, na terça-feira (15), transmitia o resultado da reunião com o secretário Zaqueu Teixeira. Eles foram chamados para negociar uma alternativa em relação à demolição do antigo prédio do Museu do Índio e a realocação dos habitantes, mas não houve desfecho.

A Secretaria ofereceu o pagamento de aluguel social e, a pedido dos indígenas, apresentará uma proposta por escrito de um novo local em que possam ficar. A data, porém, não foi definida. Ao falar com jornalistas, Teixeira ainda aventou a possibilidade de se criar um centro de referência da cultura indígena.

“Temos proposta da Assistência Social que é de ter o aluguel social, um espaço de moradia depois, um depósito e transporte (para os objetos pessoais). Além disso, percebo a necessidade de algo que venha a atendê-los culturalmente. Acredito que com a proposta de um centro de referência indígena vamos conseguir atender ao desejo e à manutenção da cultura indígena, e garantir o caso da saída imediata”, disse Teixeira.

Índios negam proposta de centro de referência

No entanto, esta proposta foi negada pelos índios. Segundo Araão Silveira, presidente do Conselho Nacional dos Direitos Indígenas e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, “ele não disse isso”:

“Pedimos essa proposta por escrito para ser discutida no coletivo. Na reunião, não foi colocado nenhum detalhe, não se definiu nada. Ele simplesmente disse que essa negociação não interrompe os atos de remoção do Estado, que já está sendo providenciada independente desta negociação”.

De acordo com ele, o secretário deixou claro que a remoção é uma “decisão de governo”. Frisou também que o oferecimento de aluguel social, entre outros, já um serviço automático prestado pela Secretaria.

Resoluções restritas

Presente no local como observador, o membro do Conselho de Ética da Presidência da República Antônio Modesto da Silveira, alertou para o excesso de restrições e privacidade nas decisões tomadas sobre o Museu do Índio. “Não fui mandando, mas é meu dever observar onde haja violação ética. Estou atento e muito preocupado porque está havendo resoluções muito fechadas, restritas, nas quais nem os advogados da Aldeia puderam entrar. Essa questão mexe não só com a ética, mas viola a lei, a Constituição”, ponderou Modesto.

Ele disse que somente quatro caciques, das 17 etnias da Aldeia, puderam entrar na reunião com o governo, e apenas um advogado dos índios pôde participar. Alertou, com isso, para a falta de transparência no processo:

“Creio que se o estado tivesse tanta certeza do seu direito não precisaria fazer reunião com quatro indígenas das 17 etnias da Aldeia e somente um advogado. Estão conosco os representantes do próprio governo e da secretaria, mas não pudemos estar na reunião. Nem na coletiva de imprensa com o secretário. Aqui, está aberta a todos. Os caciques que estiveram lá, estiveram com 10 ou mais pessoas”, destacou o membro da Comissão de Ética da Presidência.

Auxílio-oca

O defensor público federal Daniel Macedo classificou a proposta do governo como uma “imposição”. Ele disse que a Defensoria já interpôs um recurso para tentar cassar a decisão da presidente do TRF2 perante o plenário do Tribunal, que se reunirá para tentar decidir sobre assunto.

“Como vai se dar um “auxílio oca”, um aluguel social para um índio que tem uma relação intrínseca com a terra? Isso não é viável”, questionou Macedo. “A pergunta é: o que fazer com 23 famílias que estão ali? Vai oferecer um aluguel social, vai oferecer o programa Minha Casa, Minha Vida? Isso é incompatível com eles”.

Segundo ele, o episódio de sábado (12), quando o batalhão de Choque da PM ficou de prontidão no local por horas e teve de se retirar porque não tinha ordem judicial para retirar os indígenas, arranhou a imagem do governo e, por isso, a reunião desta terça-feira foi convocada. “

O defensor explicou que o governo precisa ajuizar uma ação própria de imissão de posse. Sem ela, não pode ingressar na posse e promover a demolição do prédio. “Isso significa que o estado tomou uma atitude arbitrária no último sábado. Não fosse a Defensoria Pública, o batalhão de choque entraria lá e haveria uma carnificina. Esta é a segunda vergonha que o governo do estado passa. A primeira foi afirmar que a FIFA era a favor da demolição, e a entidade se posicionou contra”.

Compartilhada por Margaret Pereira.

http://www.jb.com.br/rio/noticias/2013/01/16/indios-cabral-se-irrita-com-polemica-e-diz-que-contraproposta-ja-esta-aprovada/

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