Construir uma tipologia diferente e atualizada para análise dos espaços do campo a partir da releitura do Brasil rural contemporâneo. Esse é o escopo principal do projeto “Repensando o conceito de ruralidade no Brasil: implicações para as políticas públicas”, apresentado durante a 52ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Condraf/ MDA).
Marcada pela presença do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, a Reunião contou com a participação de 60 conselheiros, convidados e coordenadores dos Comitês Permanentes do Condraf, além de representantes das unidades do MDA. O estudo foi apresentado por sua coordenadora, a economista Tânia Bacelar, que é pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A pesquisa sobre o conceito de ruralidade é fruto de parceria entre Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) e Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT); Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA); Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog); Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Banco do Nordeste do Brasil (BNB); e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Joaquim Soriano, diretor do NEAD/MDA, destacou a importância do projeto para o desenvolvimento das políticas públicas. “O estudo está na vanguarda do conhecimento, há muito tempo não ousamos tanto em abordar um tema como este. Temos grande expectativa para o desenvolvimento desse trabalho, é algo que vai marcar os debates por um longo período e construir um espelho desse Brasil rural que queremos”.
Para o representante do IICA no Brasil, Manuel Otero, a parceria é importante para modificar a visão reducionista do rural no Brasil. “A pesquisa irá se projetar para os demais países latinoamericanos, estamos convencidos de que o tema deve estar no topo das discussões”, afirmou.
Construção da pesquisa
O estudo contou com uma base inicial da análise comparativa entre Brasil, Equador, Chile, Uruguai, México, Espanha e França. Construída essa análise, a pesquisa explicitou as implicações e efeitos das concepções e tipologias adotadas sobre o desenvolvimento rural nos países. “É preciso escolher uma divisão de partida mais adequada, já que o Brasil é diverso, heterogêneo e desigual. Vamos olhar para 90 milhões de brasileiros”, destacou Tânia Bacelar.
A primeira etapa da pesquisa é uma análise do alcance e das limitações das metodologias aplicadas no Brasil. Em seguida é montada uma proposta de tipologia dos espaços rurais do Brasil com análise das implicações dessa proposta. A terceira etapa consistirá na discussão, validação e divulgação desses dados. Segundo Tânica Bacelar, atualmente, o conceito de rural depende da definição de urbano, o que prejudica a compreensão de sua complexidade. “O urbano compreende todos aqueles que vivem nos perímetros urbanos, restando para o rural o espaço periférico, residual, dominado. É contra essa visão que o estudo pretende trabalhar”, explicou.
A diretriz de partida da pesquisa é a proposta de uma caracterização e tipologia que considere os diversos contextos territoriais do país. “O estudo vai dialogar com a diversidade rural”, afirmou Tânia. O resultado esperado é uma releitura do rural brasileiro e a construção de uma tipologia dos espaços rurais do Brasil atual, com indicações das implicações dos resultados para as políticas públicas de desenvolvimento rural e para estudos do IBGE. As variáveis utilizadas na pesquisa levam em consideração o habitat, a inserção na vida produtiva através do trabalho, e das condições de vida e socioculturais; políticas em ação, além das dinâmicas demográficas e econômicas recentes.
Foram apresentados no seminário, além da proposta inicial e objetivos do estudo, os resultados iniciais. “Primeiro, o rural não é agrícola, isso faz parte um equívoco histórico. O rural contém o agrícola e mais do que lugar de produção, é lugar de vida”, explicou a pesquisadora e coordenadora do estudo. Tânia ainda ressaltou que os traços que definem o rural são variáveis e, portanto, não será encontrado na pesquisa apenas um único rural. “O resultado esperado é o mapa do Brasil com cerca de 20 tipos de realidades rurais, respeitando limites municipais e estaduais e levantando todas as políticas públicas estaduais, relacionando com a tipologia de análise”, afirmou a pesquisadora.
“Teremos esse mapa para que, como gestores de políticas públicas, possamos enfrentar um outro desafio: qual o futuro que queremos para o nosso Brasil? O que é necessário como política pública para fazer um Brasil mais homônimo e sustentável?”, enfatizou Soriano, diretor do NEAD/MDA.
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http://www.mda.gov.br/portal/nead/noticias/item?item_id=11097969
Muitas cidades no Brasil contém o rural, se considerarmos os traços culturais, as relações de trabalho no campo e o passado rural recente… Boa iniciativa pois o rural brasileiro é impar em complexidade. Seria interessante que, de alguma forma, as demandas específicas da educação do campo em cada lugar também fossem consideradas.