Proibição de uso de quatro venenos e restrições à pulverização aérea das monoculturas ameaçam diminuir lucro do agronegócio e revoltam ruralistas*

Nota: Não são apenas as abelhas e outros polinizadores que são mortos por esses venenos, levando a um prejuízo incalculável (esse sim) para o futuro do meio ambiente e da humanidade. A pulverização aérea desses produtos envenena igualmente terras, águas e vidas de comunidades tradicionais e de camponeses, e os voos rasantes são muitas vezes usados inclusive para expulsá-los de suas terras. No Ceará, José Maria do Tomé, liderança camponesa, foi assassinado em abril de 2010 por denunciar esse fato, na Chapada do Apodi. Mas essas vidas não contam para a ganância do agronegócio. E o pior é que, como pode ser lido na matéria, o IBAMA já “publicou um comunicado às empresas fabricantes para que sejam entregues estudos sobre os produtos. ‘Vamos reavaliar esses produtos e já pedimos às empresas fabricantes que entreguem novos estudos para decidirmos se vamos liberar seu uso ou não'”. É uma grande piada pedir à raposa que faça um laudo garantindo a segurança do galinheiro! Tania Pacheco.

Por Tarso Veloso, de Brasília – Valor Econômico – 03/12/2012 (*O Título e a Nota inicial são de Combate ao Racismo Ambiental)

A um mês do início da entrada em vigor das restrições parciais à pulverização aérea nas lavouras brasileiras, sojicultores alertam que o prejuízo pode chegar a um valor de R$ 3 bilhões somente nesta temporada 2012/13 em razão de um possível ataque de lagartos e percevejos e o decorrente incremento das perdas na produção.

As restrições foram estabelecidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) com a justificativa de que o uso de algumas substâncias são prejudiciais a insetos polinizadores, em especial às abelhas. Apesar da pressão do setor produtivo, a autarquia informou ao Valor que não pretende rever a medida, pelo menos não por sua iniciativa.

As restrições impostas implicam a proibição de aplicação aérea dos quatro princípios químicos mais usados pelos sojicultores hoje para o combate a pragas. Além disso, só será permitida a pulverização com aviões na lavoura de soja até fevereiro em todo o país – para o Centro-Oeste o prazo é janeiro -, sendo somente uma aplicação durante todo o ciclo da planta. Passados os prazos, os produtos somente poderão ser usados em aplicações terrestres.

A única possibilidade de a proibição não entrar em vigor em janeiro é o Ministério da Agricultura solicitar formalmente um adiamento. “Até o momento nada chegou para nós. Quem tem que pedir uma prorrogação é o ministério. Foram eles que decidiram o prazo para suspensão, as culturas, as datas e todos os detalhes. Nós só concordamos”, disse Márcio Freitas, coordenador-geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Ibama.

Segundo José Carlos Vaz, secretário-executivo do ministério, há discussões em curso com o Ibama para a realização de “ajustes” no calendário de aplicações de defensivos. “Estamos na expectativa de conseguir um tratamento que equilibre as expectativas do Ibama e dos produtores [SIC]. Na semana que vem devemos realizar diversas reuniões para discutir o assunto”, afirmou Vaz.

Levantamento feito pela Associação dos Produtores de Soja (AprosojaBrasil) e pela Embrapa Soja prevê que as perdas em valor da produção até 2020 poderão alcançar R$ 14 bilhões. O setor produtivo [SIC] já estimava prejuízos na ordem de 4 milhões de toneladas de soja em 2012/13, com um impacto de R$ 3 bilhões, que seria provocado por perdas sem “a utilização correta dos defensivos”.

O presidente da Aprosoja Brasil, Glauber Silveira, afirmou que o estudo mostra o impacto da proibição “no pior cenário possível”. “Imagine um ataque de pragas em fevereiro e com muita chuva? Ninguém conseguirá fazer a aplicação terrestre. Além disso, quem só tem aviões, como fará?“, questiona. Para ele, a proibição veio em cima da hora, quando os produtos já estavam comprados e a indústria não possui capacidade para produzir substitutos.

Publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 19 de julho, a medida cautelar do Ibama colocou uma séria de condições para a aplicação aérea de defensivos e proibiu o uso dos ingredientes ativos Imidacloprido, Fipronil, Tiametoxan e Clotianidina. Segundo dados do Ibama, os quatro princípios ativos correspondem a 10% do consumo brasileiro de defensivos, ou quase 7 mil toneladas de um total de 74 mil toneladas em 2011.

Apesar de a quantidade das substâncias corresponder a somente uma fração da total usada, produtores explicam que esse cálculo não é adequado. “A quantidade usada de inseticidas é muito menor do que a de outros agrotóxicos como, por exemplo, o glifosato. Enquanto no glifosato são aplicados quatro litros por hectare, inseticidas são algo em torno de meio litro”, exemplificou Silveira.

Por pressão do setor produtivo [SIC]foi publicada em 3 de outubro no DOU, um ato conjunto do Ministério da Agricultura e do Ibama autorizando, em caráter temporário, o uso de produtos agrotóxicos que contenham Imidacloprido, Tiametoxan e Clotianidina para arroz, cana-de-açúcar, soja e trigo até o dia 30 de junho de 2013, obedecendo a períodos específicos de aplicação por região e por cultura. Além disso, antes da aplicação, os produtores deverão notificar os apicultores localizados em um raio de 6 quilômetros com antecedência mínima de dois dias.

Das quatro culturas autorizadas, apenas a soja deverá seguir um cronograma de aplicação. No Centro-Oeste brasileiro a pulverização aérea foi autorizada entre 20 de novembro e 1º de janeiro de 2013. No Norte, de 1º janeiro a 20 de fevereiro. No Sul, de 1º de dezembro de 2012 a 15 de janeiro de 2013.

No caso específico da soja, a aplicação deverá ser restrita a uma única pulverização aérea durante todo o ciclo da cultura para o controle de pragas agrícolas, em especial, os percevejos. Nas áreas de produção de sementes de soja, foram permitidas duas aplicações.

No caso de canaviais, a aplicação fica restrita a uma única vez, 30 dias antes da colheita, para o controle de cigarrinha-da-raiz, quando não for possível a entrada de equipamentos terrestres.

O setor produtivo [SIC] discorda da proibição e alega que o ato conjunto publicado no dia 3 de outubro não resolve o problema. “Além de abrir a possibilidade de uma única pulverização em toda a safra, a metade do recomendado na bula dos produtos é incapaz de resolver um caso mais grave de infestação, e a única janela estabelecida de pulverização, que se concentra entre novembro e janeiro, não contempla um país de dimensões continentais como o Brasil”, afirmou Glauber Silveira.

A Embrapa Soja produziu um documento em que mostra que os períodos definidos no ato conjunto para a proibição são impraticáveis. O documento, datado do dia 9 de novembro e assinado pelo chefe geral da Embrapa Soja, Alexandre José Cattelan, e pelo pesquisador da unidade, Décio Luiz Gazzoni, diz que a regra é prejudicial ao país  [SIC] e o prejuízo chegaria a “dezenas de bilhões de dólares” [SIC].

Ainda de acordo com o documento, a janela de plantio muda entre as regiões, o que torna impossível definir uma data de proibição para todo o país. “Em Mato Grosso, a semeadura começou em setembro, enquanto outras localidades do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, fazem a semeadura em dezembro. Além disso, parte do território brasileiro situa-se no Hemisfério Norte, como Amapá e Roraima. Nesses Estados, a semeadura é feita no que seriam os meses de inverno restante do país”. No fim, o estudo sugere que o ideal seria definir quando a floração ocorre e proibir a aplicação apenas nesses períodos.

Segundo o coordenador-geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas do Ibama, o setor produtivo  [SIC] reclama sem razão. “A restrição não é contra a pulverização aérea e sim contra quatro produtos que causam morte de animais polinizadores. A solução para o setor produtivo  [SIC] é começar a busca por substâncias substitutas”, explicou Márcio Freitas. Na semana passada, o órgão publicou um comunicado às empresas fabricantes para que sejam entregues estudos sobre os produtos. “Vamos reavaliar [!!!] esses produtos e já pedimos às empresas fabricantes [!!!] que entreguem novos estudos para decidirmos se vamos liberar seu uso ou não”, disse.

As pesquisas que estão sendo feitas pelo Ibama podem levar a uma restrição maior do que a atual, pois estudos feitos pelo órgão indicam que os princípios ativos são prejudiciais. “O estudo que estamos fazendo pode indicar a proibição além do uso aéreo. Apesar de sermos sensíveis aos produtores [SIC], as perdas de produção são problema do Ministério da Agricultura. Nossa responsabilidade é com o meio ambiente”, garantiu Freitas.


Bancada ruralista combate a medida

Valor Econômico – 03/12/2012

Em Brasília, a bancada ruralista da Câmara dos Deputados já se mobilizou para tentar reverter as restrições à pulverização aérea. Na terça-feira passada, um grupo de parlamentares encabeçado pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Homero Pereira (PSD/MT), reuniu-se com o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Carlos Vaz, e entregou um ofício ao ministro Mendes Ribeiro solicitando a modificação da proibição.

“Ficamos indignados com a posição que o Ministério da Agricultura vem adotando em relação a esse assunto, inclusive referendando medidas adotadas por outros órgãos que não enxergam com bons olhos o segmento produtivo rural“, afirmou Pereira. Dessa maneira, de acordo com o deputado, o setor se sente desprotegido. Ele pede uma postura “firme e decidida” do Ministério da Agricultura em defesa dos agricultores.

Na correspondência, Homero sugere ao ministro Mendes Ribeiro um esforço para o fortalecimento do agronegócio brasileiro. “Apesar de tantos êxitos, esse segmento [agropecuário] não tem merecido a devida atenção e a simpatia dos outros setores“, reclamou Pereira.

Representantes de produtores rurais prepararam um documento que será entregue ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Ministério da Agricultura em que afirmam que a pulverização não põe em risco as abelhas na região Centro-Oeste do país [SIC]. De acordo com o documento, foram feitos estudos no Sudeste, pela presença da apicultura associada aos pomares de laranja.

Além disso, os produtores [SIC] dizem ser “impossível” atender à medida. A explicação, de acordo com eles, está no tamanho das propriedades de soja. Algumas delas têm dezenas de milhares de hectares, o que inviabiliza a pulverização por maquinário terrestre.

“Não existem máquinas suficientes. Além disso, com o solo encharcado ninguém conseguiria entrar com veículos em uma lavoura”, afirmou ao Valor Glauber Silveira, presidente da AprosojaBrasil, entidade que representa produtores de soja.

Enviada por Zuleica Nycz. Todos os [SIC] e os destaques em negrito são de Combate ao Racismo Ambiental.

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