Família de trabalhador rural assassinado no AM abandona assentamento por medo

Chalub foi morto em 21 de novembro dentro do sítio dele, na gleba Iquiri (álbum da família)

Investigação sobre o caso, que permanece em delegacia de Rondônia, está parada. Raimundo Nonato Chalub foi assassinado no dia 21 de novembro, em seu sítio, na Gleba Iquiri, na região do município de Lábrea (a 702 quilômetros de Manaus)

Elaíze Farias

Uma semana após o ouvidor agrário nacional, Gercino Silva, solicitar apoio da Polícia Civil do Amazonas na investigação do assassinato no mês passado de Raimundo Nonato Chalub, 42, no sul do Amazonas, supostamente por problemas decorrentes de conflitos agrários, a família da vítima sequer foi chamada para dar depoimento e o caso ainda permanece sendo acompanhado pela Delegacia de Extrema, distrito de Porto Velho (RO).

Raimundo Nonato Chalub, que possuía uma terra regularizada pelo Programa Terra Legal (projeto de regularização fundiária federal), foi assassinado no dia 21 de novembro, em seu sítio, na Gleba Iquiri, na região do município de Lábrea (a 702 quilômetros de Manaus), divisa entre Amazonas e Rondônia. O assassinato foi presenciado pelo filho mais velho de Chalub.

Devido a Gleba Iquiri estar situada nas proximidades da divisa com Rondônia (apesar de pertencer à justiça de Lábrea, os assentamentos ficam muito distantes da sede deste município), o caso foi registrado em Extrema. No entanto, pelo fato de Iquiri fazer parte do território amazonense, as investigações devem ser tocadas pela Delegacia de Lábrea.

No último dia 28, Gercino Filho enviou uma carta ao delegado Josué Rocha de Freitas pedindo a designação de um delegado para “apoiar a Polícia Civil de Lábrea na apuração do homicídio do trabalhador rural Raimundo Nonato da Silva Chalub”. Na carta, o ouvidor agrário diz o homicídio “estava repercutindo em Brasília”, mencionando um pronunciamento da deputada federal Janete Capiberibe (PSB/AP).

Nesta quarta-feira (05), delegado Talles Beiruth disse ao jornal A CRÍTICA que uma greve dos servidores da Polícia Civil de Rondônia compromete o andamento do caso, mas que ele está conseguindo “fazer o que dá para ser feito”.

Beiruth disse que até o momento ouviu apenas “um peão” que trabalhava para Chalub. Ele afirmou também que aguarda o laudo do Instituto Médico Legal (IML) do corpo de Raimundo para enviar o inquérito para Lábrea.

Em entrevista ao jornal A Crítica, a viúva, Luzinete da Conceição, 40, disse que desde o homicídio, ela e seus seis filhos abandonaram o terreno e seus bens (plantação). No momento da entrevista, Luzinete estava em casa de parentes no Acre.

Intimidação

A suspeita do assassinato recai sobre um homem conhecido como Antônio Baiano, que segundo a sobrinha de Raimundo Nonato, Nilcilene Chalub, vinha pressionando a vítima para vender sua terra.

“Ele queria derrubar as castanheiras da ‘colônia´ do meu tio para fazer queima. Todos sabem que ele é o principal suspeito mas a polícia não investiga, não pergunta. Não ouviram nem meus primos”, disse Nilcilene, que mora em Rio Branco (AC).

Conforme Nilcilene, Raimundo Chalub foi alvejado por dois homens que estavam escondidos na mata atiraram e fugiram.

“Meu tio morreu às 5h, mas a polícia nem apareceu. Somente à tarde é que a gente decidiu carregar o corpo nas costas e levar para o caixão. A gente foi na delegacia de Extrema, mas o policial que nos atendeu disse que ali era a lei do cão e que ninguém ia fazer nada. Ainda mandaram a gente ir para Manaus para fazer a denúncia. Mas como vamos se estamos longe?”, indagou. Segundo Nilcilene, o corpo de Raimundo Nonato Chalub foi enterrado no Acre.

Conflito

Segundo Luzinete da Conceição, o conflito entre o marido e Baiano começou em 2010, após o Terra Legal ter colocado os marcos fundiários nos terrenos da Gleba Iquiri.

“A confusão começou porque o Baiano dizia que a nossa terra estava na terra dele. Depois, teve o caso envolvendo uma vaca. E tudo foi juntando. Só que esse Baiano quer tirar todo mundo de lá. Ele compra terras de pessoas que estão com dívida. Ele é um grande fazendeiro e expulsando todo mundo”, afirmou.

Conforme Luzinete, alguns dias antes do marido ser assassinado, ele já vinha recebendo “avisos” de que poderia morrer. O conflito entre o marido e Baiano começou em 2010, após o Terra Legal ter colocado os marcos fundiários.

Com esta nova execução, o sul do Amazonas registra 12 mortes causadas por conflitos no campo entre 2001 e 2012, segundo dados da Ouvidoria Agrária Nacional.

Até o fechamento a noite dessa quarta-feira (6), a Polícia Civil do Amazonas ainda estava levantando dados para responder à reportagem sobre este assunto. Assim que a assessoria de imprensa enviar as respostas, elas serão postadas no portal.

http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonas-Amazonia-acritica-com-jornal_A_Critica-jornal_A_Critica-acritica-Familia_de_trabalhador_rural_assassinado_no_sul_do_AM_abandona_assentamento_por_medo_0_823117772.html

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