“O Grande Tambor”: documentário do Grupo Catarse sobre a diáspora no Rio Grande do Sul

Imperdível: longo e meio lento, no início, mas em seguida engrena e mostra uma visão e uma história inteiramente nova, pelo menos para mim, sobre o processo como se deu a diáspora no RS e toda a sua influência sobre o que normalmente se considera “cultura gaúcha”, começando pela ligação da “charqueada” com os Orixás… As lutas, as guerras, o positivismo “embranquecendo” a História! Como diz a música final, cantada enquanto os “créditos” (aquela coisa que desaprendemos a ler no final dos filmes, as luzes já acesas para a próxima sessão), “A escravidão/ a cidade esquece/ purga e cala!”. Confesso que não consegui ir até o fim sem chorar. Importantíssimo!!! TP.

O filme narra a trajetória do Tambor de Sopapo, que carrega a história da diáspora africana no Rio Grande do Sul. Sua matriz vem pelas mãos e mentes dos africanos escravizados para a região das charqueadas, ao extremo sul do Brasil. É considerado sagrado, retumbando o som por séculos de um purificar religioso para os rituais de matança – realidade presente nas propriedades que produziam o charque entre os séculos XVIII e XIX. A partir da década de 1950, inicia seu caminho no carnaval, quando surgiram as primeiras escolas de samba no estado. O Grande Tambor conta uma parte da história sobre a contribuição dos afrodescendentes na formação simbólica e cultural do povo do Rio Grande do Sul. Sobreviveu pelas mãos de Mestre Baptista, Griô, que preservou a memória e a arte da fabricação de um instrumento de som grave e marcante e que hoje é patrimônio brasileiro.

Entrevista com Mestre Baptista na sua oficina de tambores em Pelotas foto: Leandro Anton

A produção de O Grande Tambor foi feita durante o ano de 2010 por intermédio de um edital do IPHAN que teve como proponente o Coletivo Catarse de Comunicação. A ideia do documentário teve seu ponto de partida durante uma Ação Comunitária do projeto Economia Solidária na Prevenção à Violência no início de 2009, quando, durante o curso de Comunicação em Audiovisual, deste projeto desenvolvido pela Guayí no Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, organizamos uma delegação de 13 pessoas para visitar Neives Meireles Baptista na rua São Jorge, Bairro Santa Teresinha.

Assim, nos dias 28 e 29 de março de 2009 estivemos em Pelotas visitando Mestre Baptista e Dona Maria para filmar a construção de um Tambor de Sopapo presenteado pelo Mestre ao Ponto de Cultura. Mestre Baptista, é um dos padrinhos do Quilombo do Sopapo juntamente com Mestre Giba Giba e Bataclã FC.

O grupo que fez a visita foi composto pelo Quilombo do Sopapo, Ação Griô O Sopapo de Todos os Papos, Coletivo Catarse, Conselho Gestor Comunitário do Quilombo do Sopapo, Bataclã FC, jovens que faziam o curso de audiovisual e pelo Aprendiz do Mestre Baptista, Paulo Barbosa. Na visita também estava presente com toda sua alegria, vitalidade e leveza a Mestre Sirlei.

Daquele mágico final de semana resultou o vídeo abaixo que faz parte da abertura do documentário O Grande Tambor. Neste mesmo final de semana, na noite de sábado, no bar Liberdade, foi escrita, entre uma cerveja e outra e os olhares admirados do grupo a um casal que dançava no Liberdade, frases da poesia de uma das músicas que faz parte da trilha sonora do documentário, A Princesa é uma Senhora. Após o vídeo da entrega do tambor há outro vídeo em visita a casa de Maria e Baptista para apresentar a música e ter o acompanhamento do Tambor de sopapo conduzido pelo Mestre Baptista.

Em Pelotas, Mestre Batista entrega o Sopapo para um grupo da Rede Sopapo. Um encontro de Griôs (mestres da cultura oral do povo negro), um instrumento histórico, um som magnífico.


Enviado por Sérgio Botton Barcellos para Combate ao Racismo Ambiental.
http://quilombodosopapo.blogspot.com.es/2012/07/o-grande-tambor-filme.html

Comments (2)

  1. Tinha te respondido longamente, Gustavo, mas me distraí e acho que saí da página sem enviar. Em resumo: foi efetivamente uma coincidência interessante. E, embora tenha ficado triste, o fato dela ter existindo me deixou um tantinho consolada. No mais, você/s não têm que me agradecer nada! Fazem um trabalho importante e que respeito, como esse em questão! Axé!

  2. Interessante você postar no dia 2 de dezembro, último dia de vida do Mestre Baptista.
    Infelizmente, perdemos nesta vida terrena a companhia de um querido amigo e importante figura pro processo de reconhecimento da matriz afro-descendente no Rio Grande do Sul.
    Em nome do Coletivo Catarse, agradeço a menção e valorizo o estímulo à distribuição cada vez maior deste conhecimento.

    Axé!

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