Justiça do Acre manda prender vice-presidente da CNA por pedofilia. Ele e outro fazendeiro estão foragidos, depois de presos mas liberados

No Acre, em 2010, Kátia Abreu e Assuero Veronez receberam cumprimentos do então governador Binho Marques e do ex-governador Jorge Viana

Assuero Veronez, um dos principais expoentes em defesa de um novo Código Florestal, foi afastado temporariamente do cargo de vice-presidente da Confederação Nacional de Agricultura após o escândalo

Por Altino Machado – Blog daAmazônia

A Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Acre revogou nesta quinta-feira (29) a decisão do desembargador Francisco Djalma da Silva que havia concedido, em decisão liminar, liberdade aos pecuaristas Assuero Doca Veronez, 63, e Adálio Cordeiro de Araújo, 79, acusados de envolvimento com uma rede de pedofilia em Rio Branco (AC).

Assuero Veronez, um dos principais expoentes em defesa de um novo Código Florestal, foi afastado temporariamente do cargo de vice-presidente da Confederação Nacional de Agricultura após o escândalo. Adálio Cordeiro recebeu do governador do Acre, Tião Viana (PT), em janeiro, a insígnia no Grau de Cavaleiro, do Quadro Especial da Ordem da Estrela do Acre.

Os dois ruralistas foram presos no mês passado em decorrência da operação Delivery, a pedido do Ministério Público do Acre, por ordem do juiz Romário Divino Faria, da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Rio Branco.

Durante a sessão da Câmara Criminal, o desembargador Pedro Ranzi assinou mandado de prisão contra os dois fazendeiros. O mandado está sendo cumprido por um oficial de justiça, que tenta localizar os dois acusados.

– Como mulher, me sinto enojada ao tomar conhecimento das provas que constam nos autos. Os dois fazendeiros e todos os demais envolvidos merecem ser presos. Estou arrependida de ter votado pela liberdade de um dos agenciadores e quero reformar a minha decisão – afirmou a desembargadora Denise Bonfim.

A rede de prostituição, além de contar com sete aliciadores identificados e denunciados, tinha como integrantes, na condição de garotas de programas, pelo menos 25 adolescentes menores de 18 anos e 104 mulheres maiores de idade.

Foram identificados pela operação Delivery 105 clientes, sendo que 22 pessoas já foram denunciadas pelo Ministério Público à Justiça. A lista de criminosos inclui autoridades que gozam de “foro de prerrogativa de função”.

O Ministério Público e a Justiça não divulgaram os nomes de todos os acusados sob alegação de segredo de justiça.

– A lista da operação é uma bomba de 50 mil megatons. Embora o caso esteja sob segredo de justiça, o Acre é terra de muro bairro e todos sabem os nomes dos envolvidos – comentou o desembargador Pedro Ranzi durante a sessão.

No Tribunal de Justiça alguns desembargadores entendem que segredo de justiça é para proteger a imagem das menores que foram exploradas sexualmente e não a imagem dos criminosos: empresários, comerciantes, advogados, secretários de estado e até membros da Justiça e do Ministério Público.

Escutas telefônicas

De acordo com o Ministério Público, os fazendeiros eram assíduos usuários de uma extensa rede de exploração de prostituição de mulheres adultas e adolescentes. Interceptações telefônicas, autorizadas judicialmente, dão conta que os dois fazendeiros realizaram inúmeros contratos de serviços sexuais mediante pagamento para os agenciadores, dos quais se vislumbra a participação de mulheres maiores de idade, mas sobretudo de garotas menores de 18 anos.

Os agenciadores chegavam a convencer as garotas a saírem da escola durante a aula para fazerem programas sexuais com os fazendeiros, mesmo estando adoentadas, a necessitar de auxílio médico.

De acordo com o Ministério Público, em certo trecho dos diálogos, evidencia-se a exigência de prática sexual de Adálio Cordeiro Araújo sem uso de preservativo com as garotas menores de idade. Isso tornava os programas sexuais mais caros, submetendo-as a imenso risco de contraírem doenças sexualmente transmissíveis.

A prisão dos dois fazendeiros decorreu de minuciosa investigação criminal. Nas conversas interceptadas e em fotos que constam nos autos, ficou evidente que os fazendeiros realizavam programas frequentes com mulheres menores e maiores de idade, em motéis e residências.

Durante a sessão da Câmara Criminal, a procuradora Gilcely Evangelista de Araújo Souza narrou que, em depoimento, uma das adolescentes contou que Assuero Veronez sabia de sua condição de menor e mesmo assim realizou mais de dez programas com a mesma, tendo chegado a ir buscá-la na escola.

A mesma adolescente relatou que manteve relação sexual, sem camisinha, com o fazendeiro Adálio Cordeiro de Araújo.

A prisão preventiva dos fazendeiros foi defendida pelo Ministério Público como uma necessidade imperiosa porque, em liberdade, teriam total liberdade para intervir junto às testemunhas e garotas agenciadas, podendo interferir na colheita de provas.

– Não se pode olvidar a indispensável necessidade de manter o encarceramento dos representados, com o escopo de interromper ou diminuir a atuação a nefasta conduta  (….). Não há o que falar em constrangimento ilegal ou abuso de poder – argumentou Gilcely Evangelista de Araújo Souza.

Atualização às 19h30

Os fazendeiros Assuero Doca Veronez, 63, e Adálio Cordeiro de Araújo, 79, acusados de envolvimento com uma rede de pedofilia em Rio Branco (AC), já são considerados oficialmente foragidos da Justiça.

Ambos foram procurados em todos os endereços residenciais e profissionais informados à Justiça, mas não foram localizados. Os nomes deles já constam no Banco Nacional de Mandados de Prisão, assim como nos demais sistemas de informação da polícia

Compartilhada por Sonia Mariza Martuscelli.

http://terramagazine.terra.com.br/blogdaamazonia/blog/2012/11/29/justica-do-acre-manda-prender-ex-vice-da-cna-por-pedofilia/

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.