Veja ‘quase’ consegue se superar: “Visão medieval de antropólogos deixa índios na penúria”

O link para a matéria foi compartilhada por Maria Luísa Lucas, com a observação: “Posto só pra que a gente nunca se esqueça do que sai escrito por aí”. Perfeito. Há horas em que de fato é necessário fazê-lo. Já o ‘quase’ é meu e vai por conta da recordação de outras coisas ainda mais grotescas, como a inesquecível “A farra dos antropólogos oportunistas“, bem mais longa e até “melhor argumentada”. Em compensação, esta tem vários trechos humorísticos, principalmente sobre o CIMI e os “silvícolas”. Um merece destaque especial, entretanto: a visão misógina (que só não nos honra por ser injusta) de que fomos nós, mulheres, que nas diversas cidades não perdemos a “chance de protestar de peito aberto diante das câmeras”. Felizmente para nós, para o Brasil e para a civilização, nunca estivemos sozinhas nesta e em outras lutas, pois o compromisso com a defesa dos direitos e da justiça não é exclusividade das mulheres, mas de todos o seres humanos dignos, independente de seus sexos. Tania Pacheco. 

Na crise dos guaranis-caiovás estão envolvidos interesses da Funai, de antropólogos e de ONGs. Ninguém se preocupa com os próprios índios

Leonardo Coutinho

O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, tomou uma decisão para abrandar um movimento sem precedentes de homens brancos em nome de um grupo indígena brasileiro. Acatando um pedido da Advocacia-Geral da União, o TRF determinou que os índios guaranis-caiovás podem continuar ocupando as terras da Fazenda Cambará, no município de Iguatemi, em Mato Grosso do Sul. Em uma carta divulgada na internet no dia 10 do mês passado, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) condenaram a ordem de despejo dada pela Justiça Federal de Naviraí, em Mato Grosso do Sul, comparando-a a uma “morte coletiva”. Logo se espalhou pelas redes sociais a versão de que os índios iriam cometer um ritualístico suicídio coletivo. Das redes, a solidariedade ganhou as ruas de diversas cidades, onde muitas brasileiras não perderam a chance de protestar de peito aberto diante das câmeras.

O governo agiu rápido, pediu a suspensão da ordem de despejo e exigiu que a Fundação Nacional do Índio (Funai) conclua em um mês o laudo antropológico que serviria como o primeiro passo para a demarcação oficial da terra reclamada pelo Cimi em nome dos índios.

Com o episódio, o Cimi conseguiu mais uma vez aproveitar a ignorância das pessoas das grandes cidades sobre a realidade em Mato Grosso do Sul e, principalmente, sobre quais são as reais necessidades dos índios. As terras indígenas já ocupam 13,2% da área total do país. Salvo raras exceções, a demarcação de reservas não melhorou em nada a vida dos índios. Em alguns casos, o resultado foi até pior. A 148 quilômetros da Fazenda Cambará, no município de Coronel Sapucaia, há uma reserva onde os caiovás dispõem de confortos como escolas e postos de saúde, mas não têm emprego, futuro nem esperança. Ficam entregues à dependência total da Funai e do Cimi, sem a menor chance de sobrepujar sua trágica situação de silvícolas em um mundo tecnológico e industrial. São comuns ali casos de depressão, uso de crack e abuso de álcool. A reserva Boqueirão, próximo a Dourados, abriga caiovás submetidos ao mesmo estado desesperador. Levantamento feito por agentes de saúde locais revelou que 70% das famílias indígenas têm um ou mais membros viciados em crack. “Infelizmente, a vida dos 170 caiovás acampados na fazenda em Iguatemi não melhorará com um simples decreto de demarcação”, diz o antropólogo Edward Luz.

Os caiovás formam o segundo grupo indígena mais populoso do Brasil, atrás apenas dos ticunas, do Amazonas. Segundo o IBGE, há 43 400 membros dessa etnia no país. Outros 41 000 residem no Paraguai. Eles transitam livremente entre os dois países, como parte de sua tradição nômade. Os antropólogos os convenceram de que o nascimento ou o sepultamento de um de seus membros em um pedaço de terra que ocupem enquanto vagam pelo Brasil é o suficiente para considerarem toda a área de sua propriedade. Com base nessa visão absurda, todo o sul de Mato Grosso do Sul teria de ser declarado área indígena – e o resto do Brasil que reze para que os antropólogos não tenham planos de levar os caiovás para outros estados, pois em pouco tempo todo o território brasileiro poderia ser reclamado pelos tutores dos índios.

Em sua percepção medieval do mundo, os religiosos do Cimi alimentam a cabeça dos índios da região com a ideia de que o objetivo deles é unir-se contra os brancos em uma grande “nação guarani”. Ocorre que o território dessa “nação” coincide com a zona mais produtiva do agronegócio em Mato Grosso do Sul. O Cimi e algumas ONGs orientam os índios a invadir propriedades. A Funai também apoia o expansionismo selvagem. Os 170 caiovás acampados na Fazenda Cambará moravam em uma reserva situada do outro lado da margem do Rio Hovy. Em novembro do ano passado, membros dos clãs Pyelito Kue e Mbarakay foram levados pelos religiosos e antropólogos a cruzar o rio e se estabelecer em uma área de 2 hectares. O secretário nacional de Articulação Social da Secretaria-Geral da Presidência da República, Paulo Maldos, visitou os caiovás em Iguatemi um dia antes e deu-lhes a garantia de que o governo federal zelaria pelos seus direitos. Ex-marido da presidente da Funai, Marta Azevedo, Maldos é um conhecido oportunista que não perde a chance de usar a desgraça alheia em favor de suas convicções políticas. “Além de terra, queremos ter condições de plantar e trabalhar, mas isso nem a Funai nem ninguém faz por nós”, diz o cacique caiová Renato de Souza, da aldeia Jaguapiru, em Dourados. Enquanto os índios tiverem a vida manipulada pelos medievalistas do Cimi, pelos ideólogos da Funai e pelas ONGs, seu destino será de sofrimento e penúria.

Com reportagem de Kalleo Coura.

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/titulo-falso-a-ilusao-de-um-paraiso.

Comments (2)

  1. Na visão dos chefes do Coutinho, os índios são meras marionetes nas mãos do Cimi e dos antropólogos da FUNAI. Estes, por algum motivo obscuro, estão interessados em lotar o MS de índios submissos às suas vontades. Será uma estratégia dos antropólogos e missionários para criar novas reservas de mercado? Em breve a Veja vai dizer que existe uma conspiração internacional de antropólogos para criar a Antropotlântida a fim de salvar sua medieval e superada profissão.

    Na cabeça dos editores do Coutinho é impossível que os próprios “silvícolas” (onde dele achou selva no cerrado, sinceramente, eu não sei), tenham sonhos, objetivos, passado, história e organização para lutar. Marionetes não lutam, apenas se enchem de crack nas reservas ou ficam dançando de tanguinha a tarde toda no meio da plantação de soja, esperando a cesta básica da FUNAI.

    Lamentável que um “escriba” (e ele honra a longa tradição dos mercenários da palavra, de serem pagos para escrever e não para pensar) desses tenha coragem de assinar tamanha peça de má-fé jornalistica. Devia ter vergonha de se prostituir a esse ponto em nome de um pequena caixinha concedida pelos poderosos interesses por trás da “reporcagem”.

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