Microgeração, “savoir faire” e apagões

Condomínio com microgeração solar fotovoltaica

Por Telma Monteiro

Especialistas afirmam que microgeração será maior revolução do setor 

“O setor elétrico está prestes a passar pela sua maior revolução, de acordo com o presidente do conselho do Forum Latino Americano de Smart Grid, Cyro Boccuzzi. Com a resolução 482, publicada em abril deste ano, que define prazos para que as distribuidoras formulem regras para conexão de microgeradores à rede, o executivo prevê uma grande mudança no perfil do setor nos próximos cinco anos. Em palestra no XX Seminário de Distribuição de Energia Elétrica, na última quinta-feira, 25 de outubro, no Rio de Janeiro, Bocuzzi afirmou que “a microgeração é uma tecnologia que, no nosso entender e olhando tudo o que tem acontecido no mercado, é considerada um caminho sem volta para as empresas de energia. Como costumo dizer, a 482 marca o início do fim do mercado cativo de energia”. Com a microgeração, o caminho da energia não será mais unilateral, mas terá duas vias. O cliente passará a ser então consumidor e gerador, gerando sua própria energia e injetando seu excedente na rede. (Agência CanalEnegia – 26.10.2012)” IFE

Comentário: O lobby das empreiteiras construtoras de barragens vai continuar impedindo o avanço da microgeração no Brasil. Enquanto não conseguirem esgotar os MWs da Amazônia, veja-se a urgência como têm sido tratados os processos de aprovação de inventários de bacias hidrográficas e de viabilidade técnica de projetos hidrelétricos. Some-se o “entusiasmo” da presidente Dilma Rousseff em defender a geração hidrelétrica sem conhecimento (pelo menos aparente) de alternativas genuinamente limpas.

A Agência Internacional de Energia, sediada em Paris, declarou que será preciso duplicar a geração hidrelétrica até 2050, ignorando completamente o avanço tecnológico do século XXI em alternativas limpas e descentralizadas. Esse poder que emana dos “donos” do mundo que dominam o setor energético tem que ser extinto.

A microgeração já é uma realidade em várias regiões do planeta onde estão sendo utilizados os painéis fotovoltaicos ou microgeradores eólicos em condomínios, clubes, comércio. O Brasil, um campeão de horas de sol, engatinha, se arrastando na esbórnia burocrática do setor elétrico de Sarney/Lobão. (Telma Monteiro)

Inauguração da UHE Estreito - Foto: Jornal Exemplar

Hidrelétrica de Estreito (MA) afeta vida de moradores

“A construção da hidrelétrica de Estreito (MA) forçou ex-moradores de áreas afetadas pela barragem a viver em acampamentos sem eletricidade ou em assentamentos com racionamento de água. Os problemas começaram há cerca de dois anos, quando a usina estava em obras e os moradores tiveram de se retirar. A hidrelétrica afeta 12 municípios na divisa entre o Maranhão e o Tocantins. O principal é Estreito, sede da usina. Lá, a população teme que, no período chuvoso a ser iniciado em dezembro, o rio provoque enchentes por causa da barragem. Na zona rural, a erosão causada pela barragem à beira do rio já derrubou plantações. O Ceste (Consórcio Estreito Energia), responsável pela hidrelétrica, diz que 2.000 famílias afetadas foram removidas e indenizadas. Parte delas, segundo o Ceste, foi reassentada em outros locais. Há outras 900 famílias, porém, que reivindicam indenização. Elas não receberam nada porque não eram donas das terras onde moravam ou não tinham documentos que provavam a posse das áreas. (Folha de São Paulo – 28.10.2012)” IFE 

Comentário: Mesmo assim a presidente Dilma Rousseff foi inaugurar a UHE Estreito, estufando o peito de um orgulho obsceno. Enalteceu os coronéis donos do estado do Maranhão que têm trocado apoio ao governo, por “mensalão” da energia.

É, Dilma, você ainda não se dignou a prestar solidariedade ao agonizante povo Guarani-Kaiowá, de MS, mas se valeu de holofotes para anunciar a prorrogação da redução do IPI dos automóveis, em evento em São Paulo. Com o mesmo savoir faire ignorou os 12 municípios e suas populações que já sofrem com a usina de Estreito da francesa Tractebel, subsidiária da GDF Suez. (Telma Monteiro)

Mortandade de peixes nas obras da UHE Estreito – Foto: P Negrão

Consórcio Estreito Energia diz que remanejou mais de 500 famílias

“O Ceste (Consórcio Estreito Energia) afirma que aprovou a indenização de 70% das famílias que solicitaram a inclusão no plano de remanejamento de afetados pela hidrelétrica de Estreito. Segundo o consórcio, até mesmo famílias que não eram proprietárias das terras onde moravam foram indenizadas. Em nota, diz que “foram remanejadas mais de 500 famílias não proprietárias”. Já o governo federal afirma que existem cerca de 900 famílias no entorno da hidrelétrica que reivindicam indenização por terem sido impactadas e que será realizada “em breve” uma reunião para discutir a situação. Sobre o abastecimento de água, o Ceste informa que a água captada no poço artesiano apresentou características salobras, e que providenciou a instalação de filtros para melhorar suas condições. Os moradores, porém, dizem que a qualidade da água continua ruim. O Ceste afirma aguardar um posicionamento do Ibama para saber se interrompe o fornecimento de água por meio dos caminhões-pipa. (Folha de São Paulo – 28.10.2012)” IFE

Comentário: Quem, em sã consciência socioambiental, ainda consegue acreditar no que diz qualquer um dos consórcios responsáveis pelas hidrelétricas no Brasil? Só mesmo as autoridades do governo federal e o setor elétrico. Tantos ensaios técnicos para construir uma barragem e o Ceste não detectou a água salobra no poço artesiano que deveria abastecer a população? (Telma Monteiro)

“Apaguinhos e apagões”

“No artigo para O Estado de São Paulo, Celso Ming faz uma dura crítica ao governo Dilma quanto ao investimento em infraestrutura e logística, que estaria aquém do esperado. O autor do artigo destaca a série de apagões do sistema elétrico como exemplo dos grandes problemas na economia. Somente em 2012 foram 65 cortes no fornecimento de energia e por isso o jornalista acredita ser um absurdo o diretor do ONS chamar um desses episódios de “apaguinho”. Ming também critica a postura do governo em relação à Petrobras e ao setor de etanol e açúcar. O autor conclui afirmando que o fornecimento energético passou a atender prioridades políticas. Para ler o texto na íntegra, clique aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 29.10.2012)” IFE

Comentário: Posso postar uma centena de fotos que constatam a precariedade e falta de manutenção nos equipamentos das subestações e linhas de transmissão no Brasil. Quem é o Operador Nacional do Sistema (ONS)? É pessoa jurídica de direito privado, sob a forma de associação civil e responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).Quem são os membros associados e participantes? Não é preciso nenhum esforço para adivinhar que ele é constituído por empresas de geração, transmissão, distribuição e consumidores livres de grande porte. Também participam importadores e exportadores de energia, além do Ministério de Minas e Energia (MME). A lista completa está aqui, confira. (Telma Monteiro)

Conama veta proposta que exigia estudos integrados para hidrelétricas

“O Conama arquivou proposta de resolução que previa a exigência de realização de estudos integrados de bacias hidrográficas para liberação do licenciamento ambiental de novas usinas. A proposta, apresentada pela organização Ecodata, baseava-se no argumento de que as usinas têm sido liberadas de forma independente, sem considerar o efeito cumulativo que seus reservatórios causam aos rios e à região onde são erguidas. O documento tratava ainda da exigência de realização de estudos de impacto ambiental (EIA/Rima) para todo tipo de aproveitamento hidrelétrico. Hoje, pequenas usinas, com geração inferior a 10 MW, apresentam apenas um relatório ambiental simplificado para obter a liberação do empreendimento. As duas propostas foram arquivadas pelo Conama, que se comprometeu a voltar a discutir o assunto, independentemente do arquivamento. Antes da decisão do conselho a proposta já havia sido refutada pelo Ibama e pelos MMA e MME. (Valor Online – 26.10.2012)” IFE

Comentário: O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) – alguém ainda lembra que ele existe? –  vem mais uma vez provar do que é capaz: de absolutamente nada, quando se trata de bater de frente com grandes interesses econômicos. A reivindicação de estudos integrados de bacias hidrográficas, antes de licenciar um empreendimento hidrelétrico, não é de hoje. O próprio Ministério Público Federal tem feito essa recomendação que, por sinal, é solenemente ignorada.

A proposta feita pela Ecodata não era perfeita e precisava de ajustes, mesmo se fosse boa não teria sucesso naquele (des)ambiente oprimido que se encontra o Conama desde 2004, segundo desabafo de um conselheiro ambientalista. (Telma Monteiro)

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http://telmadmonteiro.blogspot.com.br/2012/10/microgeracao-savoir-faire-e-apagoes.html

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