Acometidas de diarreia, vômito e febre, quatro crianças indígenas, sendo três do povo Kanamari e uma Mayoruna, morreram em menos de 24 anos em Atalaia do Norte, cidade que fica no extremo oeste, a 1.138 quilômetros em linha reta de Manaus, capital do Amazonas. “Tem muita gente doente e ainda vai haver mais mortes”, previa uma agente de saúde que prestava assistência aos indígenas.
Há vários dias na cidade, cerca de 700 indígenas estão morando nas mais de 90 canoas que se encontram no porto de Atalaia do Norte. As canoas abrigam 20, 30 e até 40 pessoas, conforme constata a equipe do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, que atua no Vale do Javari. Por falta de acesso a água potável, os indígenas são obrigados a beber água diretamente do rio – de onde também a água é utilizada para lavar roupa, louças e tomar banho pelos indígenas e por pessoas de outras embarcações de médio e grande porte.
“A situação é gravíssima, é caótica”, enfatizou Eduardo Meira da Silva Júnior, presidente do Conselho Municipal de Saúde. Devido ao agravamento do quadro de saúde, os indígenas não poderão seguir viagem até que seja realizada investigação para detectar o tipo de doença que os está matando rapidamente.
Segundo ele, só tem uma médica no município. Ela, quatro enfermeiros e agentes de saúde estão se esforçando para prestar atendimento, mas não tem pessoal qualificado para realizar a investigação epidemiológica. “Não podemos mandá-los de volta sem um diagnóstico”, disse Eduardo Meira.
Por volta das 16 horas desta quinta-feira, 11, o Conselho Municipal de Saúde estava tentando se reunir para discutir e encaminhar soluções para o problema. Eles aguardavam o secretário municipal de Saúde, Adno Castro da Silva, que se encontrava em local ignorado.
A maioria dos indígenas foi estimulada por políticos a se deslocar das aldeias para votar na sede municipal. Eles estão revoltados, sofrendo com a doença e obrigados a permanecer tanto tempo nas suas canoas porque a prefeitura não estaria mais disposta a fornecer combustível para o retorno às aldeias. A prefeita Anete Peres (PSD) não conseguiu se reeleger.
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