Indígenas incendeiam caminhões de madeireiros ilegais no Pará

Ruy Sposati, de Brasília

Indígenas Tembé incendiaram caminhões e maquinários de madeireiros ilegais nesta sexta-feira, 28. A madeira era extraída ilegalmente da Terra Indígena (TI) Alto Rio Guamá, no trecho do território que fica no município de Nova Esperança do Piriá, no Pará, divisa com Maranhão. A terra foi homologada em 1993.

“Eles tiram madeira de lá faz muitos anos. Não é de hoje”, explica uma liderança indígena Tembé. Para o indígena, a ausência de uma política de Estado que proteja a terra faz com que a situação perca o controle.  “A gente sempre avisa a polícia, às vezes pega a máquina, traz pra aldeia e avisa polícia. Mas aí o madeireiro entra na Justiça e a polícia acaba tendo que devolver, ele recupera a máquina e invade de novo. A única saída é tocar fogo”, afirma.

“Acontece que lá, os indígenas acabam fazendo vigilância por conta própria”, explica Juscelino Bessa, coordenador técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Belém. “Na quarta-feira [26], eles encontraram quatro caminhões, três tratores e duas caminhonetes [de madeireiros] e, pela primeira vez, destruíram os maquinários. Isso demonstra que a situação é bastante grave”, expõe.

Através de imagens de satélite, é possível observar que cerca de 50% da área já foi devastada. “O norte [da TI] já foi completamente depredado. O que ainda resta de madeira está na região sul, na divisa com o Maranhão”, conta Juscelino. Relatos de indígenas à Funai apontam que há pelo menos 10 anos já acontecem invasões nesse trecho do território.

O servidor da Funai explica que antes mesmo das terras serem regulamentadas, já aconteciam invasões. “Depois que a terra foi regularizada, aliás, esse processo vem se intensificando”. Em geral, os extratores de madeira são pequenos proprietários que trabalham para compradores de madeira. “Na verdade, quem retira são só testas-de-ferro. Estão à frente do serviço, mas tem outras pessoas por trás. É só você observar o investimento, os caminhões, tratores novos. Aqueles colonos não têm dinheiro pra esse tipo de equipamento”.

Indígenas, indigenistas e Funai temem uma retaliação por parte dos madeireiros. Os Tembé enviaram relatórios sobre os últimos acontecimentos à Funai, que por sua vez encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal, e aguarda posição do Estado para realizar uma operação no território indígena.

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