Giuliander Carpes
No dia 16 de junho, durante a Copa das Confederações, finalmente a bola volta a rolar no Estádio do Maracanã. Enquanto os fãs de futebol matam a saudade do lendário campo carioca, índios de várias tribos do País estarão de luto. Eles ocupam desde 2006 um terreno vizinho ao estádio onde funcionou o Museu do Índio até 1977. O governo do Estado negocia para comprar a área da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e, segundo a Defensoria Pública da União (DPU), a ideia é utilizá-la como estacionamento para os eventos que o Maracanã receberá a partir do próximo ano.
O governo confirma a negociação e a futura remoção dos índios, embora não revele os planos de utilização da área. Segundo a assessoria de imprensa da Casa Civil, o projeto será definido apenas após a finalização da compra. Os índios que utilizam o terreno como moradia já sentem o cerco se fechando. A poucos metros de suas casas improvisadas estão os locais de alojamento e administração do canteiro de obras do Maracanã.
“A pressão está aumentando. Eles já fecharam a rua (Mata Machado) e colocaram muros até quase a porta do prédio. A nossa área já é bem menor do que era em 2006, quando chegamos. As máquinas da obra estão cada vez mais próximas. Já vemos a hora em que elas avançarão sobre o nosso espaço”, afirma Carlos Tukano, um dos moradores da área.
Os moradores não passam de 20, mas afirmam que o local virou ponto de encontro e passagem de índios de várias tribos do Brasil. Ali muitos deles se hospedaram durante a Rio+20 e outros tantos participam de eventos que pretendem unir os poucos indígenas que sobraram na cidade.
A DPU, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-RJ) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RJ) lutam na Justiça pelo tombamento do prédio centenário que serve como um centro de eventos da comunidade indígena. Ele foi sede do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), fundado pelo Marechal Rondon, e depois deu origem à Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Museu do Índio, que passou para Botafogo em 1977.
Segundo o presidente do CREA, Agostinho Guerreiro, a manutenção do prédio não causa qualquer impedimento para a obra do Maracanã. “Em termos de engenharia, a parte estrutural do edifício está intacta e a sua restauração seria um trabalho mais de arquitetura”, afirmou. O defensor público federal André Ordacgy acrescenta que a área não causa problemas de dispersão nem daria tanto espaço para estacionamento.
Os índios sugerem a reforma do prédio e utilização dele como centro cultural indígena, onde os visitantes estrangeiros que virão ao País para a Copa do Mundo e a Olimpíada terão acesso a parte importante da história brasileira.
“Lá em Londres mostraram o que vai ser Rio 2016. Teve funk, mas nada de índio. Na Austrália, eles resgataram a importância dos aborígenes para o país durante a Olimpíada. Por que não se pode fazer algo assim no Brasil?”, questiona Afonso Apurinã. Na verdade, os oito minutos brasileiros na Cerimônia de Encerramento mostraram dança feita por índios “high tech”, com cocares iluminados.
“Disseram que com R$ 20 milhões é possível fazer a reforma do prédio, mas o governo considera muito caro. Estão gastando R$ 1 bilhão no Maracanã e nós aqui na aldeia não temos nem dinheiro para pegar um ônibus”, diz Tukano.
Compartilhada por Teceres Teares.
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