Racismo não tem graça nenhuma

O Fórum da Igualdade Racial (FOPIR), que reúne dezenove organizações da sociedade civil em todo o país, entre elas, as organizações negras e a AMNB, lançaram nesta segunda-feira (10/09) uma Carta Aberta contra o Programa Zorra Total, que vem exibindo semanalmente episódios racistas através da personagem Adelaide (foto). Na carta, o FOPIR denuncia que Adelaide é o estereótipo da mulher negra, afirma que o “racismo não tem graça nenhuma” e acusa a TV Globo de exibir conteúdo racista, sexista e ofensivo à população negra, em especial, às mulheres negras. Leia abaixo a carta na íntegra:

Carta aberta contra o programa Zorra Total – “Racismo não tem graça nenhuma!”

O Fórum Permanente de Igualdade Racial (FOPIR), que reúne organizações da sociedade civil e organizações negras para o combate ao racismo e para a promoção da igualdade racial no Brasil, vem a público manifestar total repúdio ao programa Zorra Total, veiculado semanalmente pela TV Globo e, em especial, ao episódio intitulado “Adelaide”. Dissimulado como suposto humor, o programa exibe conteúdo explicitamente racista, sexista, recheado de estereótipos e ofensivo à população negra, ferindo gravemente os direitos humanos de milhões de brasileiros.

“Adelaide” é o estereótipo de uma mulher negra pobre, sem instrução formal, que pede esmolas no metrô. Cada episódio traz uma narrativa diferente, sempre com conteúdo racista e humilhante para negros e negras. No programa que foi ao ar no dia 01/09/2012, “Adelaide” – interpretada pelo ator Rodrigo Sant´anna – chama ao palco sua filha, que é anunciada como “linda” e traz uma faixa atravessada sobre o peito com os dizeres “urubu branco”.

A menina é retratada com as mesmas características da mãe: sem dentes, cabelos “despenteados”, erotizada, dissimulada e usuária de uma forma de linguagem cujo objetivo é o de desqualificar pessoas que não tiveram acesso ao ensino formal. O coreógrafo Carlinhos de Jesus é convidado para o quadro na condição de padrinho da menina e diz a esta que vai lhe presentear com um pente de alisar o cabelo, evidenciando, mais uma vez, um conjunto de estereótipos ofensivos sobre as características de pessoas negras em geral. Se os conteúdos racistas veiculados por este quadro já haviam, desde o seu surgimento, ultrapassado todos os limites do respeito à dignidade humana, a utilização da imagem de uma personagem que representa uma criança se choca, de forma contundente, com o dever de proteção à infância e à adolescência.

É inadmissível que um país de maioria negra, conforme o último Censo divulgado pelo IBGE, mantenha um programa televisivo que, em nome de um pseudo-entretenimento, utiliza-se de um suposto humor para humilhar e desrespeitar a dignidade humana da sua própria população. Os veículos de comunicação têm de estar comprometidos com a produção e difusão de conteúdos não discriminatórios e não estereotipados sobre os negros e negras, conforme foi destacado nas propostas prioritárias da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Por isso, nós, do FOPIR, reforçamos a necessidade de os meios de comunicação dedicarem especial atenção a todo e qualquer conteúdo produzido e veiculado na mídia que possam reforçar a discriminação e o preconceito de quaisquer espécies.

Assinam a carta as organizações abaixo listadas:

1. Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB
2. Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do estado do Rio de Janeiro – ACQUILERJ
3. Associação Nacional de Pesquisadores Negros/as – ABPN
4. Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas – CONAQ
5. Central Única de Favelas – CUFA
6. Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC
7. Redes de Desenvolvimento da Maré
8. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT
9. Comissão de Jornalistas Pela Igualdade Racial – COJIRA-RIO
10. Fundação Ford
11. Fundação Carlos Chagas
12. Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros – IPEAFRO
13. Baobá – Fundo para Equidade Racial
14. Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ – LAESER
15. Laboratório de Pesquisa em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento – LACED
16. Observatório de Favelas
17. Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa/IESP-UERJ – GEMAA
18. Geledés Instituto das Mulheres Negras
19 . ODARA – Instituto da Mulher Negra

http://www.geledes.org.br/racismo-preconceito/racismo-no-brasil/15524-racismo-nao-tem-graca-nenhuma

Comments (3)

  1. Por que além da carta aberta as organizações não entram com um pedido no MPF para tirar esse quadro depreciante do ar? Seria possivel? Acho que motivos e argumentações tem de sobra.Penso que se todos que assinaram a carta aberta se manifestarem em conjunto surtira efeito, e não se esqueçam das redes sociais, hoje elas tem o poder de glorificar ou detornar algo ou alguma coisa em tempo real, muito mais que o radio e a tv. Marcia

  2. Pessoal estou de pleno acordo com tudo que foi exposto acima. Acho esse quadro deprimente desde o começo de sua apresentação, e me desculpe o ator, mas ele deveria se envergonhar de ganhar dinheiro de uma forma tão mediocre. Acho que ele não consegue enxergar sua própria cor e origem. Quanto a emissora, trata-se de uma organização decadente e hipócrita que ainda pensa dominar a sociedade, mas esta com seus dias contados, ainda não perceberam que pra sempre também se acaba. Seria interesante ampliar esta campanha nas redes sociais. A pergunta é: Como a emissora do CRIANÇA ESPERANÇA, pode ser a mesma do DESRESPEITO A CRIANÇA? Esse quadro deveria sair do ar. Onde esta o MP que ainda não viu isso? Afinal este é um País de todos, ou um País de alguns? Temos que ir em frente e acabar com essa falta de sensibilidade e respeito ao cidadão como um todo, não importa a sua origem. Abraços. Marcia

  3. Sr. “Antonio M. Silva, da ONNQ 20/11/1970 – REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil”,

    Informo que seu comentário não será publicado pelo conteúdo igualmente preconceituoso nele contido. Assim como eu não liberaria um texto que ofendesse e denegrisse negros, indígenas, integrantes de comunidades tradicionais, nordestinos ou qualquer grupo de seres humanos a partir da cor de sua pele, de sua cultura ou de suas tradições, me recuso igualmente a ceder espaço para qualquer tipo de fundamentalismo baseado em questões de fundo religioso. Judaísmo, islamismo, budismo, cristianismo e outras profissões religiosas merecem o mesmo respeito que defendemos para a umbanda, o candomblé, os “encantados” presentes nos rituais indígenas. Ou agimos assim, de forma coerente com tudo o que aqui defendemos, ou teríamos que abrir espaço, igualmente, para as pessoas que “satanizam” as religiões de matriz africana, para começar.

    Este espaço continua aberto para que o Sr. Antonio M. Silva exerça seu direito à liberdade de expressão. Mas repito, como consta das intruções. que tanto o comentário deve ser devidamente assinado, como o e-mail informado deve ser válido (que não é o caso de [email protected]). O nome “Antonio M. Silva” não pode ser citado só na última linha do texto, ligado a outras informações, da forma por mim repetida entre aspas acima.

    Além disso, reafirmo que este Blog luta contra todos os tipos de racismo e preconceito. Não publicaremos, pois, comentários baseados em visões que incitem à discriminação, como deixei claro acima.

    Tania Pacheco.

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