Por Waldemar Rossi
Dado o primeiro Grito, em 1995, como que lançado num longo e profundo vale, o Grito dos Excluídos vai ecoando e chegando às cidades mais longínquas do Brasil, motivando e incorporando as novas gerações inconformadas com a barbárie que se implantou no país e que cresce a cada dia.
Barbárie que, enquanto concentra riquezas nas mãos de uns poucos favorecidos pelos podres poderes públicos, vai gerando miséria, excluindo sempre mais e mais pessoas da participação nas riquezas que são criadas pelo trabalho coletivo; modelo de Estado que vai gerando todo tipo de corrupção, de violências, ceifando vidas indiscriminadamente país afora.
Fruto de parcelas significativas de homens e mulheres conscientes e engajados(as) nas lutas populares, a cada ano um, aparente, novo tema é lançado, visando despertar as consciências do explorado povo trabalhador. Entretanto, os temas não têm sido díspares. Todos eles primam por revelar a indignação de muita gente com os desmandos praticados pelo Estado – em prejuízo da imensa maioria da nação, mas em benefício do capital espoliador e predador – e em apontar um caminho de reconstrução do Estado, onde o povo seja seu verdadeiro protagonista.
Por isso tudo, o tema do Grito deste ano de 2012 trata diretamente da rejeição ao Estado burguês, excludente e criminoso, e da importância de ir construindo um novo Estado, em que os direitos de toda a população sejam verdadeiramente respeitados; um Estado em que o povo tenha voz ativa, decisória sobre todos os temas nacionais de interesse público, voz acima do pseudo (falso e enganador) direito de voto da ideologia burguesa, em que você “escolhe” para dirigir o país, estados e municípios aqueles já selecionados e financiados pelo poder econômico.
Estarão presentes neste Grito as mais diversas reivindicações populares, básicas para a qualidade de vida do povo, como a urgente e imprescindível reforma agrária, serviços públicos de saúde, educação, moradias populares, transporte coletivo, lazer e tantos outros. Porém, serviços públicos de qualidade condizente com as necessidades e a dignidade de todo o povo trabalhador, e não mais apenas para as minoritárias camadas privilegiadas da população. É mais um passo importante nesse processo de conscientização e organização da sociedade visando a futura construção de um novo Estado, instrumento indispensável para a edificação de uma Sociedade do Bem Viver para todos.
Se ainda não temos a necessária acumulação de forças populares para impor tais mudanças estruturais, há que caminhar de acordo com o tamanho do passo coletivo, porém, sem perder de vista que, para muito além do horizonte do Estado burguês, deve estar o horizonte da edificação de outro Estado, verdadeiramente democrático, da sociedade da solidariedade humana e da partilha, assim como a exclusão de todo e qualquer processo de exploração do trabalho alheio.
É nesse rumo que aponta a 5ª Semana Social Brasileira, que os setores sociais da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), com aprovação de sua Assembleia e participação de vários movimentos sociais organizados, acabam de lançar. A 5ª Semana Social Brasileira tem como tema de estudos e de ações políticas transformadoras “um novo Estado, caminho para uma nova sociedade do bem viver”. Seu lema: “Estado para que e para quem?”
As expectativas, portanto, são de que o Grito dos Excluídos, além das denúncias e reivindicações justas e inadiáveis, seja também uma forte e firme alavanca para o desenvolvimento da 5ª Semana Social Brasileira (2012-2013), contribuindo para o avanço organizativo dos movimentos populares e de suas lutas em defesa dos direitos de todo o povo brasileiro.
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Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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