Esperançosas mudanças na concepção brasileira sobre a ditadura militar

As homenagens aos militares que comandaram a ditadura está na maioria das cidades brasileiras, como em Ribeirão Preto, cidade de porte médio no interior paulista, onde permanece a praça em lembrança a Garrastazu Médice

Três necessários fatos novos fazem população rediscutir a ditadura militar no Brasil. Hoje, finalmente, se fala mais em ditadura, mas a versão deles ainda prevalece

Vitor Gianotti

Pelo Núcleo Piratininga, dou cursos pelo Brasil afora. Uma das minhas tristezas, até uns dois anos atrás, era ver a maioria dos abaixo dos 60 não saber que no Brasil houve uma Ditadura Militar que amordaçou o país e prendeu, torturou, assassinou e exilou milhares de pessoas. Este fato tem suas explicações. A Ditadura que dominou o Brasil de 64 a 84 conseguiu enganar muitos com o seu breve “milagre econômico” e uma enorme máquina de propaganda, capitaneada primeiramente pelo IPES e depois pela Rede Globo.

Meu grande espanto era descobrir que esta memória estava esquecida. E que os ditadores eram homenageados. Em todos os Estados por onde andava, me deparava com avenidas, praças, escolas, estádios e pontes com o nome dos ditadores que comandaram o assassinato, a tortura e a morte de milhares de opositores do regime.

Hoje as coisas estão mudando. Há três fatos novos:

1 – Nestes dois últimos anos, dezenas de livros e artigos foram publicados sobre este período encoberto da nossa história. Todos os meses saem um ou dois livros novos que contam as prisões, as torturas e as mortes de heróis da luta pela liberdade.

2 – Em muitas capitais, o Levante Popular da Juventude denuncia torturadores, assassinos e estupradores, que agiram a serviço da repressão comandada pelo Estado, para reprimir qualquer protesto contra o capital que reinava absoluto protegido pelo regime.

3 – O terceiro é a criação da Comissão da Verdade para apurar os crimes cometidos por funcionários públicos a serviço do regime de repressão e extermínio da esquerda naquele período.

A versão deles ainda prevalece

A visão dominante ainda é a da ditadura. Ainda se inauguram monumentos aos ditadores da época. E o pior, ainda há milhões de alunos e de professores de escolas de ensino fundamental que não sabem, ou não ligam para este assunto. Mas hoje a memória destes anos de morte está em disputa.

É ainda uma disputa desigual. Mas possível. Estamos disputando com quem ajudou a implantar esta ditadura e a apoiou até o fim. Ou seja, estamos disputando com a mídia patronal que, em peso, com exceção do jornal Última Hora, implorou pelo golpe em 64 e o aplaudiu.

A Comissão da Verdade, para cumprir com louvor sua tarefa, precisa apoiar mil iniciativas de divulgar, publicizar, espalhar o que aconteceu nesta época. A Comissão pode aproveitar seu peso político para estimular que suas discussões, suas conclusões sejam espalhadas para milhões de alunos do ensino fundamental através de caderninhos, cartilhas, livretos, vídeos, músicas. Incentivar a produção e sua distribuição em massa em escolas, sindicatos e para os movimentos sociais.

Esperançosas mudanças na concepção brasileira sobre a ditadura militar

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