Aldeia Maracanã promove resistência a projetos contrários aos territórios indígenas

Evandro Bonfim, Jornalista da Adital

Indígenas de diversas etnias e apoiadores da causa ameríndia se reuniram na última quinta-feira (21) na aldeia Maracanã na cidade do Rio de Janeiro em ato pela manutenção da área como espaço de resistência multiétnica, diante da ameaça de expulsão por conta das obras para a Copa do Mundo de 2014. A manifestação, em forma de abraço simbólico à aldeia urbana, serviu ainda de balanço sobre a situação indígena no Brasil e a participação dos povos originários no âmbito da conferência Rio + 20.

A aldeia Maracanã é uma comunidade nativa instalada no prédio e nas dependências do antigo Museu do Índio, ao lado do estádio Mário Filho, o Maracanã, em reforma para o próximo campeonato mundial. A previsão é que as obras atinjam o território indígena para a construção de facilidades como estacionamentos. Para índios Pataxó, Tukano, Guajajara e representantes de outras etnias que vivem na aldeia, o lugar possui um longo histórico relacionado com a luta dos povos originários, e deve ter destinação concebida e realizada pelos próprios indígenas.

“Não temos faculdade, mas temos conhecimento da terra. Aqui pode se tornar um lugar de difusão da sabedoria indígena, para o bem de todos”, comenta Apurinã, uma das lideranças indígenas presentes ao encontro. “O conhecimento científico deve dialogar com o conhecimento tradicional de igual para igual. A população do Rio de Janeiro tem que ajuda a preservar esse espaço de perpetuação dos povos originários”, cobra Urutau Guajajara. Ambos concebem a aldeia Maracanã como ponto de articulação para os povos indígenas de todo Brasil e centro de difusão da cultura ameríndia, em áreas como Linguística, Ecologia e Saúde.

Outra função importante da aldeia Maracanã é servir de base de apoio para indígenas em trânsito provenientes de todas as partes do país, principalmente os que veem em busca de melhores condições de educação e trabalho em virtude do esgotamento do modelo das reservas indígenas. “Estamos presos na demarcação de terras, com pouco espaço para garantir nosso sustento. Como viver nas aldeias sem recurso? Por isso a gente tem que sair em busca de melhores condições”, explica Apurinã. A aldeia Maracanã auxilia os indígenas migrantes sem contar com apoios oficiais brasileiros e estrangeiros nem o suporte de organizações não-governamentais.

Rio + 20

Segundo Amarildo Tukano, liderança que integra a Secretaria de Estado para Povos Indígenas, a questão da aldeia Maracanã, sobretudo as reivindicações de posse definitiva do terreno, integram o documento preparado pelos povos indígenas entregue ao governo federal dentro das discussões da Rio + 20.

Na avaliação dos líderes indígenas presentes, o evento não tem sido favorável aos povos nativos no que diz respeito à negociação com as instâncias políticas. “As 20 propostas apresentadas pelos povos originários ao governo para constarem na carta final a ser entregue hoje aos chefes de estado de todo mundo foram rejeitadas”, comenta Urutau Guajajara sobre a exclusão dos encaminhamentos feitos por diversos setores da sociedade reunidos na Cúpula dos Povos, incluindo os grupos indígenas, dos documentos oficiais da conferência.

Dentre os pontos desconsiderados está a posição contrária ao Projeto de Emenda Constitucional 215, que transfere para o Legislativo as decisões sobre reconhecimento, demarcação e homologação das áreas indígenas e quilombolas. De acordo com as lideranças, os votos favoráveis a PEC 215 pelas bancadas ruralista evangélica ameaçam os direitos constitucionais dos povos originários, fornecendo base legal para a pressão cada vez mais intensa contra grupos indígenas na área de expansão do agronegócio, como no caso dos Guarani-Kaiowá, que somente de 2003 a 2010 teve cerca de 250 líderes mortos.

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