Cineasta Silvio Da-Rin lança nesta segunda em Belo Horizonte o documentário ‘Paralelo 10’

Filme trata da relação dos sertanistas da Funai com índios isolados na Amazônia brasileira

José Carlos Meirelles com índios ashaninkas, em cena do documentário Paralelo 10: em busca do diálogo

Ana Clara Brant – EM Cultura

Mais do que descobrir que o Brasil é o país com o maior número de índios isolados no mundo, com 72 ocorrências já mapeadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai) na Amazônia brasileira, o diretor Silvio Da-Rin ficou surpreso com a existência de uma profissão dedicada exclusivamente a desenvolver uma política de contato e integração com os indígenas, tentando demarcar suas terras e protegê-los. Foi assim que surgiu a ideia de realizar um documentário sobre o assunto.

Depois de entrar em contato com um dos sertanistas mais importantes do país, José Carlos Meirelles, Da-Rin e sua equipe se embrenharam na floresta amazônica durante três semanas, no fim de 2010. O resultado é Paralelo 10, em que Da-Rin, Meirelles e o antropólogo Terri de Aquino sobem o Rio Envira, no Acre, enfrentando vários tipos de obstáculos e se aproximando de índios isolados. Nessa jornada, o indigenista rememora experiências, expõe contradições de seu ofício e discute com os madijás e ashaninkas a melhor forma de se relacionar com os índios “brabos”, sem tentar amansá-los ou exterminá-los.

A produção será exibida e debatida nesta segunda-feira, durante o projeto Sempre um Papo, na Sala Prof. José Tavares de Barros, no Sesc Palladium, com a presença do documentarista. “Percorremos 500 quilômetros subindo o Rio Envira em direção ao pararelo 10, na fronteira com o Peru. Não deixa de ser uma expedição. No entanto, o que mais me impressionou foi o próprio Meirelles. Seu voluntarismo, sua capacidade de realização, já que é um homem multitarefa. Ao mesmo tempo em que desenvolve um importante trabalho de conscientização com os índios, ele conserta motor de barco, fabrica algumas coisas, planta, colhe. É uma figura de muitos atributos e com uma grande capacidade de adaptação, já que era extremamente urbano. Além disso, é um excelente narrador e sua capacidade de transformar em palavras suas vivências impressiona”, observa Da-Rin.

José Carlos Meirelles é a figura central do documentário e é difícil não se fixar em seus depoimentos sobre sua relação com os índios e acerca da árdua missão de mediar conflitos. Dois episódios que marcaram sua vida são momentos fortes do documentário: a experiência de ser flechado e a de ter matado um índio. “Quem está aqui sabe da possibilidade de isso acontecer. Acabei levando uma flechada que quase me tirou a vida. E o caso da morte do índio é notório. Se aquilo não foi legítima defesa, não sei o que é. Eu matei um índio. Se não tivesse feito isso, teria morrido. O lema ‘morrer se preciso for, matar jamais’, do marechal Cândido Rondon, funciona na literatura, mas na realidade, quando você se vê cercado por 100 índios e sua vida corre perigo, é diferente”, relembra o sertanista no documentário.


Oficinas 

Para Da-Rin, as oficinas de conscientização ministradas por Meirelles e o antropólogo Terri Aquino com os índio aldeados que vivem à beira do Envira, com o objetivo de minimizar conflitos e preconceitos, deram relevo ao filme. O diretor relembra que foi bastante interessante constatar o modo como os nativos vivem, o processo de aculturação e as diferenças entre os isolados e os aldeados. “O Meirelles já tinha realizado essas oficinas com outros índios, mas faltava a cabeceira do Envira. Ele, junto com o Terri, percebeu que era muito relevante promover um trabalho preventivo de pacificação da área e foi gratificante e proveitoso acompanhar tudo aquilo”, destaca. Paralelo 10 será lançado em DVD no fim de julho e vai ser exibido de hoje a domingo, em três sessões, na Sala Prof. José Tavares de Barros, no Sesc Palladium.

Três perguntas para… 

Silvio Da-Rin – cineasta

 

Xingu, de Cao Hamburger, e o documentário Hotxuá, de Letícia Sabatella e Gringo Cardia, têm os índios como tema. Você acha que está havendo um maior interesse pelo assunto? 

Foi uma coincidência. Não acredito que o interesse por estudos antropológicos indigenistas esteja em alta. Pelo contrário. Nos anos 1980, a preocupação era muito maior e o apogeu foi a Constituinte, que deu garantias constitucionais aos índios. O curioso é que as populações indígenas que já foram muito menores, com 200 mil, agora estão na faixa de 750 mil pessoas. Por outro lado, os interesses anti-indígenas se fortaleceram muito.

Como você vê a relação do público brasileiro com o documentário? 

O Brasil tem produzido muitos documentários. Entre 2001 e 2010 foram cerca de 100 filmes, sendo 40% de documentários. E isso se deve principalmente às políticas públicas de fomento à produção, que possibilitam realizar filmes que são importantes para o mapeamento cultural do Brasil. O volume de documentários nacionais nas premiações estrangeiras é grande. Mas a nossa vida não é fácil. Não temos uma televisão interessada em difundir os documentários brasileiros.

E como fica a exibição nos cinemas?

O mercado mudou radicalmente. Não existem mais salas de ruas, e o cinema é uma âncora para atrair consumidores aos shoppings. Quem vai ao cinema hoje está em busca de entretenimento. Essas pessoas não estão em busca de informação. Com exceção dos documentários sobre música e esportes, os demais não atraem público significativo. Graças às políticas públicas, essas produções estão sendo feitas e permanecerão eternamente disponíveis. Isso é importante, porque elas cumprem papel relevante.

Serviço:

Paralelo 10 – Lançamento do documentário de Silvio Da-Rin, nesta segunda-feira, às 19h30, na Sala Prof. José Tavares de Barros, no Sesc Palladium (Av. Augusto de Lima, 420), dentro do Sempre um Papo.

Informações: (31) 3261-1501 e www.sempreumpapo.com.br. O documentário será exibido de hoje a domingo, às 16h, 18h e 20h, no mesmo local. Classificação livre, com entrada franca.

http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_8/2012/06/11/ficha_cinema/id_sessao=8%26id_noticia=54126/ficha_cinema.shtml

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