O Minhocão pode ser desativado?

Raquel Rolnik*

Matéria publicada hoje na Folha Online mostra como os paulistanos ocuparam este ano o Minhocão como área de lazer e eventos, entre os quais: a Virada Gastronômica, o Festival Baixo Centro, passando pelo carnaval e pela Meia Maratona Internacional de São Paulo.

A construção do Minhocão fez parte de uma série de intervenções urbanísticas da cidade através de vias expressas pra garantir as conexões  leste-oeste e norte-sul que cortam o centro, viabilizando a abertura de frentes de expansão imobiliária das classes médias baseadas  nos deslocamentos por automóvel.

A  abertura destas vias rasgou diversos bairros residenciais centrais, gerando verdadeiras cicatrizes…  É o caso do Minhocão na Avenida São João, que era espaço residencial de alta qualidade, e também do bairro da Bela Vista, de um pedaço da Liberdade…   tudo isso para que os carros pudessem circular mais rapidamente.

A transformação do Minhocão em área de lazer permanente – hoje isto ocorre apenas aos domingos e feriados – ou até mesmo sua demolição, como querem alguns, depende basicamente do equacionamento da mobilidade urbana que dispense a necessidade destas vias expressas para os automóveis. Hoje em dia, do jeito que São Paulo está, não dá para simplesmente demolir ou passar a utilizá-lo como área de lazer permanente. Para que isso seja possível, precisamos de um projeto de mobilidade mais integrado e mais completo para a cidade de SP.

*Urbanista, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e relatora especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada.

O Minhocão pode ser desativado?

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