Torturador do Ceará põe filhos e empregados para atacar manifestação

Ato reuniu cerca de 80 manifestantes - Foto: Levante Popular da Juventude

A juventude cearense realizou uma ação de “esculacho”, neste dia 26, no escritório de advocacia do ex-delegado da Polícia Federal em Fortaleza (CE), José Armando Costa, localizado no bairro da Aldeota, na rua João Carvalho, 310. Foram cerca de 80 pessoas do Levante Popular da Juventude no ato, iniciado às 10h da manhã, que levaram cartazes, faixas e materiais de agitação e propaganda para denunciar o “Dr. Armando”, como era conhecido durante a ditadura civil-militar brasileira.

Durante a ação, saíram de dentro do escritório Armando Costa Advogados Associados os filhos e funcionários do ex-torturador para tentar impedir a colagem de cartazes e as denúncias dos manifestantes. Os advogados do “Dr. Armando” entraram em conflito com os jovens, tentando impedi-los de continuar a ação, mas não houve feridos. A Polícia foi acionada, porém, vendo que se tratava de um ato pacífico, não abordou as pessoas na manifestação. O próprio José Armando Costa encontrava-se no local, mas não teve coragem de sair.

Um carro de som estava na região para divulgar à população do entorno quem era Armando Costa. A primeira reação dos vizinhos e operários que trabalham em obras próximas ao escritório foi de surpresa, pois o ex-delegado hoje em dia é dono de um dos escritórios de direito de maior prestígio em Fortaleza. De acordo com Paulo Henrique Lima, integrante do Levante Popular da Juventude, foram feitas panfletagens no bairro e os moradores e trabalhadores demonstraram apoio aos manifestantes.

Entre os jovens que participaram da ação estavam alguns ex-presos políticos, o Coletivo Aparecidos Políticos (de agitação e propaganda no Ceará), da União Nacional dos Estudantes e o Sindicato dos Gráficos do estado.

Quem é Dr. Armando?

José Armando Costa foi delegado da Polícia Federal em Fortaleza (CE) no início da década de 1970. À época, presos políticos relataram à Justiça Militar que a tarefa do delegado era fazer interrogatórios logo após as sessões de tortura e também os coagia a assinar falsos depoimentos sob ameaça.

Costa aparece nos depoimentos de ao menos cinco ex-presos políticos torturados no Ceará, contidos no projeto Brasil Nunca Mais, da Arquidiocese de São Paulo. “Olha, rapaz, se você não concordar com isso que eu mandei colocar, você pode entrar numa faixa pesada”, teria dito ao engenheiro Lavoisier Alves Cavalcante, com 28 anos em 1973, conforme depoimento da vítima.

No depoimento de Ricardo de Matos Esmeraldo, estudante de 24 anos em 1973, teria desdenhado das torturas sofridas pela vítima quando levado à sua presença para interrogatório. “Dr. Armando, então, disse que aquilo era tolice e que em matéria de surra, até ele, Dr. Armando, havia apanhado de seus pais, motivo por que o interrogando não devia dar muita atenção àquele tratamento”.

José Armando Costa também é citado nos depoimentos, todos coletados em 1973, de Geraldo Majela Lins Guedes, comerciante, 24 anos, José Auri Pinheiro, estudante, 22 anos, e Vicente Walmick Almeida Vieira, físico, 31 anos. Em todos os casos, as vítimas sofreram tortura e foram levadas à presença de Costa, frequentemente identificado como “Dr. Armando”, para interrogatório.

De acordo com uma matéria do jornal universitário Campus, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, que o entrevistou na edição 336, de 25 de Maio de 2009, José Armando Costa cursou direito na Universidade Federal do Ceará e, assim que se formou, ingressou na Polícia Federal como delegado. Além do Ceará, onde chegou a ser superintendente da PF, atuou em Brasília, Bahia, Rio de Janeiro, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco.  Ao se aposentar da polícia, em 1993, Costa abriu um escritório de advocacia em Aldeota, bairro nobre de Fortaleza. Publicou seis livros sobre direito.

Também foi corregedor-geral dos Órgãos de Segurança Pública do Ceará. A associação 64/68 Anistia pediu sua exoneração em 2009 devido a seu envolvimento com torturas. Na ocasião, entrevistado pelo jornal “O Povo” (edição 24 de julho de 2009) afirmou: “Vamos admitir que eu torturei. Se meu único erro foi esse e de lá pra cá os meus detratores não encontram mais nenhum motivo pra me execrar, então respeite que este homem tem muita dignidade”.

Enviada por Rodrigo de Medeiros Silva.

http://www.brasildefato.com.br/node/9162

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