Ministério Público Federal identifica desrespeito à legislação e recomenda suspensão da construção de aquário no Ceará

Daniel Fonsêca ressalta os mais de 30 km de orla marítima de Fortaleza muito acertadamente. Mas talvez mais absurdo ainda seja que, numa cidade que vem expulsando famílias de forma revoltante, deixando-as em desespero, privadas de moradia e do convívio com familiares e amigos, sob a alegação de ter que construir um VLT para a Copa de 2014, o governo faça empréstimos para construir o “terceiro maior aquário do mundo”! Talvez a poluição do mar de Fortaleza faça com que os peixes necessitem desse abrigo… Quanto às pessoas em questão, que saiam do mapa da cidade, se possível. Mais importante é abrir espaço para bairros modernos e para a especulação imobiliária como um todo. TP.

Por Daniel Fonsêca

O governador Cid Gomes (PSB), irmão do ex-ministro Ciro Gomes, está enfrentando a resistência do Ministério Público Federal (MPF) para a construção do “Acquário Ceará” (sic), um megaprojeto de oceanário a ser implantado em Fortaleza, cidade com mais de 30 quilômetros de orla marítima. Nesta quarta-feira (21/3), os procuradores Alessander Sales e Nilce Cunha, do Ministério Público Federal no Ceará, recomendaram que o Governo do Estado suspenda as obras do Acquario e que o Iphan embargue o empreendimento, caso o governo não paralise a obra. O MPF entrou no caso após ser informado de que o Governo do Estado havia passado por cima das competências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Apesar da ilegalidade apontada, as fundações da construção já foram iniciadas na semana passada. O equipamento está previsto para ser instalado na Praia de Iracema, um dos bairros mais densos da cidade, e deve ser o “terceiro maior do mundo”, de acordo com a estimativa lúdica da família hoje à frente do Estado – Ivo, irmão de Cid e Ciro, é chefe de gabinete do governador. A partir das decisões do Governo e do Iphan, o MPF deve tomar novas medidas, sendo acompanhado pelo grupo “Quem dera ser um peixe”, uma articulação em rede contrária ao projeto que envolve moradores do bairro, artistas de diversas linguagens, profissionais liberais, ambientalistas, entre outros ativistas.

De acordo com a legislação ambiental federal, a região do empreendimento (orla), além do Estudo de Impactos Ambientais e do Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA-Rima), precisa passar por um estudo arqueológico, a ser analisado pelo Iphan, responsável por emitir o parecer, aprovando ou não a construção. Somente com esse trâmite é que qualquer licenciamento ambiental poderia ser concedido. O problema, segundo a Superintendência do Iphan no Ceará, é que o instituto não foi sequer requerido para analisar o EIA-Rima do aquário, o que deixa o processo de licenciamento incompleto e compromete inclusive a Licença de Instalação, já concedida pela Superintendência Estadual de Meio Ambiente (Semace).

Empréstimo ilegal

O movimento contrário ao aquário também acusa o governo de tentar contratar um empréstimo junto a um banco internacional sem a autorização do Senado, exigência determinada pela Constituição Federal. Com o projeto orçado em US$ 150 milhões (cerca de R$ 250 milhões), o Governo já via como certo o financiamento do Ex-Im Bank, instituição financeira dos Estados Unidos. Segundo os planos do Governo, o banco financiará 70% (US$ 105 milhões) do valor total da obra. Os 30% restantes serão provenientes do tesouro do Estado.

Antes, o Governo já havia negociado o empréstimo antes mesmo de a Assembleia Legislativa aprovar o projeto de lei que o autorizava, o que gerou insatisfação entre os deputados, incluindo alguns da base aliada, fato não tão difícil assim, já que é composta por 42 dos 46 parlamentares. Em tempo: Cid Gomes é um dos cinco governadores que, desde 2008, movem uma ação direta de inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal contra a Lei do Piso Salarial dos professores da educação básica, hoje fixado em R$ 1.451. Eles alegam que os estados não podem arcar com o impacto na folha de pagamento.

Movimento reacendeu debate

O projeto do Acquario Ceará tem sido contestado há mais de um mês por um coletivo de ativistas, “Quem dera ser um peixe”, que identificou erros, lacunas e até ilegalidades nos processos de licitação, licenciamento e de financiamento da obra, o que levou o Ministério Público a voltar a abordar o caso.

O resultado foi a realização de uma reunião entre o Iphan, Juçara Peixoto e os procuradores da República, que aconteceu na última terça-feira (20/3). O grupo contesta ainda a inexigibilidade de licitação para a contratação da empresa estadunidense International Concept Management (ICM Reynolds), escolhida pelo Governo para a instalação do equipamento, na Praia de Iracema.

A atuação do grupo nas mídias sociais (www.facebook.com/contraoaquario e acquarionao.wordpress.com) também levou o Governo a iniciar uma apressada e ainda desorganizada reação, que não tem dado conta das manifestações negativas que têm surgido na rede. Somente a título de exemplo, o grupo dos críticos à obra no Facebook, mesmo sendo “secreto” (invisível ao público e com entrada restrita) tem 230 integrantes, enquanto a página oficial do “Acquário Ceará” conta com apenas 190 curtições, apesar de toda a publicidade governamental nos meios de comunicação comerciais.

Ao que parece, a correnteza de Cid Gomes e aliados, que parecia tranquila e quase sem obstáculos, ainda vai sofrer muita resistência da piracema desse cardume de insatisfeitos.

Comments (1)

  1. Não sabia dessa polêmica toda.. é uma pena porque a população em sua maioria aprova a obra e já espera há tanto tempo.. esse movimento vai causar prejuízo é no cronograma da obra que, de uma forma ou de outra, vai acabar saindo e quem vai arcar com o prejuízo da demora é o próprio cidadão..vou ver se começo uma campanha na minha cidade..

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