Carta da Aldeia Bananal

Nós, povo indígena Terena da Terra Indígena TAUNAY/IPEGUE (Aldeia Imbirussú, Aldeia Água Branca, Aldeia Morrinho, Aldeia Lagoinha, Aldeia Bananal, Aldeia Ipegue), reunidos na aldeia Bananal,  juntamente com nossas lideranças, anciãos, movimento das mulheres, professores indígenas, acadêmicos indígenas e demais organizações,  em prol do desencadeamento da demarcação  de nosso território,  viemos em público expor:

1.   O estudo de identificação de nosso território encontra-se concluso e publicado, mas até o momento não foi realizado pela FUNAI a etapa de finalização da demarcação. Ademais, o processo está paralisado por ordem judicial que acatou pedido de suspensão da demarcação por parte dos proprietários rurais.

2.  Enquanto isso, nossa terra esta ficando cada vez menor devido ao crescimento populacional, trazendo consequências de várias ordens, principalmente a questão da subsistência, meio ambiente, acarretando a dependência dos programas sociais. O extrativismo que antes era praticado por nós índios atualmente não se pode realizar esta atividade, o que deixou de ser repassado à classe mais jovem. Na questão do meio ambiente existe a insuficiência de mananciais de água para praticar a pesca e também a caça, pois os rios e lagos aptos a prática da pesca encontram-se dentro de fazendas que cercam nossa terra.

3.  A terra indígena encontra-se cercada por propriedades rurais que desenvolvem atividades ligadas ao agronegócio,  propriedades rurais estas que dizem ser produtoras, mas entendemos que as mesmas não se preocupam com as questões ambientais.

4. Somos vistos como um entrave para o desenvolvimento do agronegócio do pais, mas queremos aqui ressaltar que somos os guardiões do meio ambiente, onde por questões dessa natureza deveríamos ser compensados por isso.

5.   Quanto a questão da saúde a cada dia que passa em nossa aldeia está cada vez mais pior, nossa comunidade está sofrendo com a fragilidade do órgão que trata da questão da saúde. Só para exemplificar, em menos de uma semana faleceram 04 pessoas vítimas de várias enfermidades na Terra Indígena Taunay/Ipegue.

6.   Na área da educação, também temos sofrido com a falta de nossa autonomia, o descaso com nossos profissionais indígenas é tamanho que seus espaços em sala de aula não são garantidos, prevalecendo a contratação e indicação pelo viés político. O que deixa de ser respeitado nossa vontade que é de poder ver as escolas todas composta por profissionais indígenas.

Face a estas problemáticas, o que  queremos é a garantia de nossos direitos de acesso a terra, uma vez que hoje nós vivemos sob forte pressão do agronegócio que se alastra ao entorno deste pequeno pedaço de terra. Terra esta que é insuficiente para garantirmos nossa sobrevivência, diante desta situação muitas famílias tem deixado nossa aldeia e partindo para as cidades onde estão localizadas os pólos industriais.

Deixamos claro que nosso movimento está forte e organizado, pronto para lutarmos para a retomada de nossos territórios.


Aldeia Bananal, MS em 17 de março de 2012.

http://ggrauna.blogspot.com.br/2012/03/carta-da-aldeia-bananal.html

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