Patativa do Assaré: para a maioria, um desconhecido

Vídeo feito e postado por Giselle França Bernard no Youtube.

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Redescobrir Patativa do Assaré nos 10 anos de sua morte

Rafael Hofmeister de Aguiar*

O ano de 2012 marca os 10 anos do falecimento do poeta popular Patativa do Assaré. A data poderia ser de tristeza não fosse a permanência do poeta popular. Nascido Antônio Gonçalves da Silva, aos 20 anos recebeu a alcunha de Patativa, pela beleza de seus versos ser comparável ao canto dessa ave do Nordeste. Inicialmente, cantador ao som da viola, ele conquistou fama quando teve sua “Triste partida”, que narra o drama dos retirantes nordestinos, gravada pelo rei do baião, Luis Gonzaga. Estreou em livro em 1954 com Inspiração nordestina, apesar de compor poemas desde a tenra idade de seis anos.

Aliás, sua forma de composição revela, por si só, a genialidade de Patativa. Dono de uma memória impressionante, ele primeiro compunha os poemas na memória, em meio ao seu trabalho como agricultor. Só, posteriormente, quando julgava necessário, ele registrava os seus poemas no papel ou os ditava a alguém que os transcrevia. O povo de Assaré conta que, até sua morte aos 93 anos de idade, ele conseguia declamar qualquer poema seu, quando lhe era solicitado. É bom ressaltar que muitos de seus poemas são longos. Por exemplo, “O retrato do Sertão” possui 190 versos, distribuídos em 19 estrofes.

Todavia, não se pode pensar que a poesia de Patativa do Assaré é uma poesia fácil. Pelo contrário, a qualidade estética e estilística de sua obra é impressionante quando se tem em vista que o poeta teve somente seis meses de educação formal. Ele dominava a métrica com exatidão e descrevia a vida do caboclo sertanejo. Ademais, ele descreve o Sertão com maestria – assemelhando-se a um Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, entre tantos outros. Isto pode ser percebido nos seguintes versos: “Meu sertão das vaquejadas,/ Das festas de apartação,/ Das alegres luaradas,/ Das debulhas de feijão,/ Das Danças de S. Gonçalo,/ Das corridas de cavalo/ Das caçadas de tatu,/ Onde o caboclo desperta/ Conhecendo a hora certa/ Pelo canto do nambu”.

Escrevo este breve artigo no avião voltando de Assaré-CE, onde participei do VIII Patativa do Assaré em Arte e Cultura; festa que comemora o aniversário do poeta. Lá consegui perceber como Patativa continua vivo e que é necessário redescobrir e revisitar este grande poeta aqui no Sul do país também.

*Graduado em Letras pela Unisinos e Mestrando em Processos e Manifestações Culturais pela Universidade FEEVALE

http://www.famalia.com.br/?p=11793

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