Mulheres Indígenas e Camponesas unidas na luta, por Egon Heck

Nolaila, Kaiowá Guarani, presença altiva, mesmo que silenciosa, denunciando a violência contra as mulheres indígenas e anunciando a vida, a luta pela terra mãe, o Yvy mara’ynei, a terra sem males.

Pela primeira vez as mulheres do movimento indígena Kaiowá Guarani e camponesas do estado do Mato Grosso do Sul estão juntas na Jornada de Lutas, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, numa histórica luta contra o latifúndio, o agronegócio, a não demarcação das terras indígenas, a paralisação da reforma agrária e o descaso com os assentamentos.

Dourados que tem se notabilizado pela corrupção nas esferas dos poderes Executivo e Legislativo locais, pela inoperância das políticas com relação aos povos indígenas, dá mostras de que a população oprimida, vítima dessas mazelas, está organizada e lutando contra todo o tipo de políticas que desrespeitem seus direitos e suas vidas. As mulheres guerreiras e lutadoras são as maiores vítimas, mas também as mais aguerridas lutadoras contra esse sistema e estrutura de violência e morte.

Em documento que entregaram essa manhã no Ministério Público Federal em Dourados, fazem várias exigências: “Nós, mulheres indígenas Guarani Kaiowá e camponesas, reunidas na Jornada de Lutas, realizada nos dias 06 a 08 de março, em Dourados-MS, estamos nos unindo na luta pelos direitos de todas as mulheres de nosso Estado e do Brasil, que neste dia oito de março trazem a memória de tantas “Marias” que no silêncio e no anonimato constroem e gestam este país mais cheio de ternura e de fortaleza. Mulheres guerreiras, sim, e sempre na luta sem se cansar. Mulheres da resistência e da esperança de que outro mundo é possível, mais justo e solidário”.

Indignação e organização das mulheres Kaiowá Guarani

Na recente Aty Guasu, realizada na terra indígena Jaguapiré, as mulheres indígenas deram uma mostra de sua disposição e capacidade de indignação e luta pelos seus direitos.

No encontro da Jornada de Lutas das Mulheres Camponesas e Indígenas do Mato Grosso do Sul, elas externaram sua dura realidade: “Cansamos de esperar nossa terra, que para nós é sagrada, é nossa vida, onde a mata é nosso espírito… Queremos nossa terra de volta. Chegou a hora das mulheres indígenas na luta, conseguirmos nossa vitória. Derramamos lágrimas pela terra. Lutamos pelos nossos direitos, sofremos pela nossa terra, olhamos para a frente, nossa terra sem males”.

No documento entregue ao Ministério Público Federal, as mulheres indígenas e camponesas fazem graves denúncias de violação de seus direitos e de violências impetradas pelo sistema de concentração de terra, considerado um sistema de morte: “Desde 2008 o Brasil se transformou no maior consumidor de agrotóxico do mundo. Em 2009 foram despejados na agricultura nada menos que 1 milhão de toneladas. Nós mulheres somos as mais atingidas direta e indiretamente pelas mazelas causadas por este sistema produtivo dependente do agrotóxico, baseado no monocultivo, na concentração da terra e da riqueza. Acreditamos em outra forma de viver e produzir que contribua para a soberania alimentar do país e a  preservação da biodiversidade”.

Com relação aos povos indígenas o documento reafirma as exigências da recente Aty Guasu de Jaguapiré, reafirmando sua firme decisão de lutar contra toda forma de violência e pela recuperação e garantia de seus territórios: “A urgente identificação e demarcação de nossas terras, como condição para diminuir a fome, a dependência e violência em nossas aldeias e acampamentos. Caso isso não aconteça vamos ajudar nossos guerreiros nas retomadas de nossos tekohá. Se o governo não cumprir os prazos vamos levar às instâncias internacionais como OEA e ONU”.

Mas não foram apenas três dias de informação, debate, construção de alianças e solidariedade na luta. Foi também um tempo de protesto, com uma mobilização contra os agrotóxicos, numa das empresas distribuidoras desses insumos em Dourados.

Em recente mensagem ao Povo Kaiowá Guarani, D. Pedro Casaldáliga, assim expressa sua solidariedade com esse sofrido, mas guerreiro povo: “Nos unimos de coração às lutas e às esperanças do sofrido povo Kaiowá Guarani. Parabéns pela sua resistência; está dentro da procura da Terra Sem Males. O Deus da Vida está com esse povo… Companheiros(as) do Cimi e de outros grupos solidários, continuem dando testemunho e acompanhando com paixão.”

A organização e luta das mulheres é sem dúvida um dos maiores avanços da vida e da esperança nesse século 21.

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6127&action=read

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.