Convite à polêmica: sobre a “democracia” do racismo

Tania Pacheco

Sassá Tupinambá fez, no facebook, um comentário provocativo sobre a (bela) foto ao lado: “Fico intrigado com a imagens das propagandas antirracismo; elas transmitem a ideia que só há racismo entre (povos) brancos e negros, o que não é verdade, principalmente aqui no Brasil, onde povos ciganos e povos indígenas são vitimados tanto por pessoas brancas como por negras. É passada a hora de discutir a questão racial no Brasil com mais seriedade e buscar incluir no diálogo todas as vítimas para não parecer que ‘é melhor a sardinha no meu prato'”.

Não sei se povos indígenas e ciganos sofrem racismo por parte de negros. Não conheço exemplos nesse sentido. Mas reconheço que o maior genocídio entre nós foi o indígena, que de certa forma continua a ocorrer (Mato Grosso do Sul que o diga!). Também não há dúvida de que tivemos uma espécie de genocídio em relação aos povos negros escravizados e trazidos da África. E digo “uma espécie de” na medida em que, aqui chegados e comprados, era um mau negócio deixar que morressem. Não por acaso, haviam as “fazendas de engorda”, das quais o atual Quilombo da Marambaia é remanescente; não por acaso os castigos em geral levavam em consideração os limites da vida. Como hoje a “mercadoria” já não é comprada, cada vez crescem mais as estatísticas de assassinatos em relação à juventude negra, sem dúvida de todas a mais estigmatizada.

Por outro lado, o racismo entre nós é muito mais “democrático” que os exemplos dados por Sassá. Tanto que, embora com um grau de violência física menor,  inclui entre as pessoas tratadas como “seres inferiores”, além de outras comunidades tradicionais, @s própri@s branc@s pobres do Nordeste, que descem para o Sul/Sudeste em busca de trabalho e de condições dignas de vida (que raramente encontram). Os Twitters, Facebooks e blogs da vida estão cheios de comentários raivosamente preconceituosos a respeito do Nordeste em si e dos nordestinos e nordestinas, não esqueçamos disso. E essa “violência simbólica”, que também atinge, marca e em muitos casos se corporifica igualmente em violência física, também tem o mesmo nome repulsivo e criminoso: racismo.

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