Absurdo!!! Juiz decide por retirada de 170 Guarani Kaiowá da terra indígena Laranjeira Nhanderu – FUNAI NÃO APRESENTOU RELATÓRIO

Com a justificativa de que a Fundação Nacional do Índio (Funai) não apresentou o relatório de identificação da Terra Indígena Laranjeira Nhanderu, onde vivem 170 indígenas Guarani Kaiowá em área invadida pela Fazenda Santo Antônio, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, o juiz que cuida do caso decidiu pela retirada os indígenas.

De acordo com relatos, a notícia desolou os Guarani Kaiowá. Os indígenas vivem em situação precária no acampamento, à beira da rodovia, há pouco mais de dois anos. Inúmeros casos de atropelamentos, suicídios e mortes por falta de assistência na área da saúde ocorreram neste período.

No ano passado, órgãos federais queriam enviá-los para um terreno do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), na zona urbana de Rio Brilhante. Os indígenas se recusaram a abandonar o tekoha. O escadaloso é que o próprio DNIT entrou com ação contra os indígenas de Laranjeira, para que não permanecessem na beira da estrada.

Segue carta escrita pela comunidade do tekoha Laranjeira Nhanderu direcionada às autoridades de Justiça:

TEKOHA GUARANI-KAIOWÁ ÑANDERU LARANJEIRA-RIO BRILHANTES-MS, EM 26 DE JANEIRO DE 2012

Para: todas as autoridades das Justiças do Brasil.

Senhores juízes federais do Brasil, nós, 170 membros (100 crianças, 30 idosos, 40 adultos) do povo indígena Guarani-Kaiowá da tekoha (terra) Ñanderu Laranjeira, vimos através desta carta explicitar as nossas vidas diárias diante da úlitma ordem de despejo expedida pela Justiça Federal em Dourados-MS. Em primeiro lugar, queremos contar a todos os juízes e sociedades que estamos coletivamente em estado de medo, desespero e dor profunda, já sobrevivemos em situação mísera e perversa há várias décadas.

Hoje [ontem], no dia 26/01/2012, nós compreendemos claramente que nós não temos mais chances de sobreviver culturalmente e nem fisicamente neste país Brasil, visto que em qualquer momento seremos despejados de nossa área antiga reocupada por nós; portanto, estamos com muita tristeza e perplexa, ao receber esta notícia da oficial da Justiça e da Polícia Federal e FUNAI. Já estávamos, com alegria, praticando o nosso ritual sagrado do dia-a-dia, aqui, em minúscula terra antiga reocupada Ñanderu Laranjeira, em que retornamos nos últimos dois anos.

Aqui, em pequeno espaço, passamos a praticar apenas os nossos rituais religiosos sagrados jeroky para preservar a nossas vidas e garantir a nossa sobrevivência como povo indígena originário do Brasil. Aqui, em pequeno espaço de terra antiga, estamos exclusivamente para sobreviver culturalmente, tentamos reeducar as crianças na nossa cultura para vida boa, por isso praticamos diariamente o ritual religioso sagrado onde transmitimos entre a nova geração o bom viver futuro teko porã para não se envolver nas violências adversas existentes em toda a parte do Mundo, queremos garantir a vida boa teko porã de todas as crianças indígenas que estão nascendo e crescendo aqui em pequeno espaço de terra antiga Ñanderu Laranjeira.

Queremos sobreviver dignamente e culturalmente, com essa grande esperança retornamos e estamos aqui em pequena terra antiga. Nós não somos um povo indígena nocivo e nem destrutivo. Em torno de nosso acampamento, há plantação de soja, nós aconselhamos para não estragar e nem fazer mal a ninguém, respeitamos os não-indígenas os proprietários de lavoura de soja, mesmo que eles ameacem nossas vida diariamente de modos cruéis, impedindo a estrada de nós, não deixando entrar para nós as assistências à saúde a os alimentos etc. Diante disso, há dois anos, nós comunidades indígenas apenas rezamos para que eles (os brancos) compreendam nossas vidas e nossas histórias antigas neste local. Não agredimos ninguém porque o nosso ritual religioso controla a nossa vida e nosso comportamento diariamente, para isso rezamos e acabamos de construir uma casa de reza oga pysy no pequeno espaço de terra antiga. Hoje (26/01/2012) recebemos o aviso triste da oficial da Justiça, juntamente com a PF e FUNAI, de que seremos despejados pelas forças policiais em qualquer momento de nosso pequeno espaço antigo.

No lugar pequeno antigo em que estamos morando hoje, há ainda muitas plantas medicinais ao longo de rio e córrego, há ainda sapé para cobrir a casa, por isso acabamos de construir várias casas de sapé. Aqui estamos felizes com as crianças, rezando todas as noites, educando diariamente para que não se envolvam nas violências adversas. Aqui, não ameaçamos a vida de não-índios e nem corremos risco de ameaças dos não-índios, por isso nos sentimos bem integralmente nesse pequeno espaço de nossa antiga terra.

Por essa razão, pedimos para permanecer aqui, para continuar a prática de nossa cultura e garantir um futuro melhor de nova geração indígena para o país Brasil. Não queremos ser despejados daqui. Em outro espaço de terra distante, não seremos felizes e nem seremos seguros para mantermos a nossa vida e prática culturais vitais, já fortalecidos e preservados aqui no pequeno espaço antigo Ñanderu Larajeira. Não queremos perder mais a nossa nova geração (crianças e jovens) para o mundo de violências existentes tanto nas aldeias superlotadas quanto nas margens da periferias das cidades e rodovias, por isso contamos com a compreensão e atenção de Vossas Excelências para que possamos continuar a sobreviver culturalmente aqui no pequeno espaço antigo Ñanderu Laranjeira, em que iniciamos a nova vida boa longe das violências adversas existentes das aldeias superlotadas e das margens da BR.

Queremos sobreviver culturalmente e fisicamente aqui, queremos proteção e apoios vitais das Justiças do Brasil para garantir a nossa nova geração guarani-kaiowá neste país sem vítimas de violências perversas.

A partir de hoje, a princípio, a nossa sobrevivência depende exclusivamente da Justiça do Brasil, por isso confiamos nas compreensões das Justiças do Brasil.

Aqui aguardamos as visitações e ações das Justiças do Brasil.

Atenciosamente,

Assinamos nós, 170 membros (100 crianças, 30 idosos, 40 adultos) do povo indígena Guarani-Kaiowá da tekoha (terra) Ñanderu Laranjeira-Rio Brilhantes-MS.

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=6070&action=read

Enviada por Vania Regina Carvalho.

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