O que há de novo no velho higienismo?

Novidade não é. A vocação higienista dos administradores públicos das grandes metrópoles brasileiras parece ser cíclica e se repete (como farsa?). Esta semana, a operação policial em Pinheirinho, São José dos Campos, mostrou – e não deixou dúvidas – qual é o conceito de cidade a povoar o imaginário que orienta as ações do poder público neste contexto em que um tal “progresso” está na ordem do dia.

Até onde se sabe, a ação policial de remoção da comunidade – referida por inúmeros usuários das redes sociais como “massacre” – envolveu cerca de 1800 agentes, desalojou cerca de 1500 famílias e, depois de dois dias de confronto, deixou vários feridos (há relatos que dão conta de assassinatos não noticiados pelas grandes empresas de mídia).

Tirando as grandes empresas de comunicação dos parênteses, estas também repetem o papel que têm desempenhado ao longo da história, nas diferentes conjunturas em que o poder público decidiu que as comunidades populares seriam eleitas os grandes entraves para que seus ideais elitistas de urbanidade prevalecessem. Desde que se deparou com as favelas e habitações populares, a grande imprensa – quase sempre em bloco com o Estado – insiste em tratá-las como desafio a suposta ordem urbana, construindo um conjunto de justificativas “objetivas”, seja no campo da saúde pública, da segurança, da moral, entre outros.

A legitimação e naturalização da violência contra os pobres, e o descaso quanto a diversos aspectos de suas vidas, se deve em muito a estes tipos de discursos, que por vezes se combinam para que ações absolutamente criminosas sejam percebidas com indiferença. Mais um exemplo dessa trama é a atual “cruzada contra o crack”, na qual a saúde é pretexto para uma intensa campanha de expulsão de todos aqueles que não tem lugar nas cidades, sobretudo, após esta nova onda de apelos à “ordem”. Como se não bastasse, o tema passa ainda a ser tratado como assunto de segurança pública, desencadeando uma série de operações policiais nas chamadas cracolândias (a questão não era de saúde?).

A “dobradinha” segurança e saúde virou “pau pra toda obra”, seja para justificar o higienismo disfarçado de política anti-drogas, seja para expulsar 1500 famílias de seus lares, em nome da especulação imobiliária e de um ideal de cidade violentamente sociocênctrico.

http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=1159

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