Mexicanos enviam ajuda de emergência aos indígenas Tarahumara após relatos de suicídios

As autoridades mexicanas e grupos de cidadãos começaram a enviar ajuda de emergência para as comunidades indígenas da Serra de Tarahumara, no Norte do México, depois de um responsável local ter relatado dezenas de suicídios entre a população afectada pela fome, que não foram confirmados.

Criança indígena Tarahumara junto a estação de comboios no Norte do México (Heriberto Rodriguez/Reuters)

Por Isabel Gorjão Santos

Na Serra de Tarahumara, no estado mexicano de Chihuahua, vive-se uma situação de crise alimentar, confirmou o porta-voz da Cruz Vermelha no México, Rafael González. Afetada pela seca e pelo frio, a comunidade indígena Tarahumara deixou de ter com que se alimentar e na semana passada o secretário da prefeitura de Carichí Ramón Gardea, que é também membro da Frente Organizada de Camponeses Indígenas, colocou um vídeo na Internet a relatar cerca de 50 casos de suicídios. Mais tarde viria a admitir que não tivera essa informação em primeira mão, mas o seu apelo desencadeou donativos que estão agora a ser encaminhados para a comunidade indígena.

“As mulheres indígenas ficam desoladas quando estão quatro ou cinco dias sem conseguir alimentar os filhos”, disse Gardea, citado pelo Washington Post. “Estão tão desesperados que, desde Dezembro, 50 homens e mulheres subiram à montanha e atiraram-se para o vale. Outros enforcaram-se”, adiantou.

Os suicídios foram posteriormente negados pelo governo do estado de Chihuahua, mas a situação da comunidade Tarahumara é desesperante. As autoridades locais já admitiram que há uma séria emergência alimentar. “A situação é grave, esta é uma seca sem precedentes”, disse à BBC o governador de Chihuahua, César Duarte. “Não havia uma seca assim há 70 anos”.

A situação agravou-se, mas não é inédita, adiantou ao diário El Informador o activista pelos direitos humanos Javier Ávila. “Estamos interessados em combater as causas, não os efeitos, porque todos os anos é enviada comida e cobertores mas todos os anos a população indígena sofre com a fome”.

Em vários locais do país os mexicanos efectuaram donativos para ajudar os Tarahumara, após o apelo que os tornou notícia no passado fim-de-semana. “É importante ajudá-los”, disse à Associated Press Elisa Jimènez, uma habitante da Cidade do México. “Eles precisam da nossa ajuda sempre, não só agora”. A Secretaria de Desenvolvimento Social do México também começou a distribuir 14 mil pacotes de ajuda alimentar na Serra Tarahumara, através de 104 albergues indígenas em 23 municípios de Chihuahua.

Ignacio Varela Ortega, presidente da autarquia de Carichí, disse numa entrevista ao diário Milenio que não tinha qualquer informação sobre suicídios, mas confirmou a situação de escassez alimentar. “O que há é fome, que afecta cerca de 65 por cento da população”. Confirmou ainda que houve três ou quatro mortes relacionadas com doenças agravadas pela fome, entre elas a de um bebé de seis meses que não resistiu a uma pneumonia.

A comunidade é conhecida pela sua resistência, pela capacidade de percorrer quilometros durante cinco ou seis horas nas montanhas só com umas sandálias rudimentares. No ano passado a Cruz Vermelha local efetuou duas expedições à montanha com ajuda alimentar, mas este ano serão três, com toneladas de comida e cerca de 5000 cobertores.

http://www.publico.pt/Mundo/mexicanos-enviam-ajuda-de-emergencia-aos-indigenas-tarahumara-apos-relatos-de-suicidios-1529498

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