A piada do dia: “O Doutor advoga para esses sem terras?”

“Após um dia exaustivo, é fundamental compartilhar pequenas histórias com os/as companheiros/as que temos. Próximos ou distantes, conhecidos ou reconhecidos na nossa luta cotidiana comum.

Aqui no Ceará, estamos tentando livrar três trabalhadores sem terra que retiravam telhas velhas de casas abandonadas para dar um mínimo de condições aos barracos onde acampam, aguardando vergonhosamente a estúpida demora na aquisição, pelo estado, de um imóvel improdutivo.

Tentando fazê-lo, fui recebido por um belíssimo “o doutor advoga para esses sem terras?”, pela Ilma. Diretora da Vara. Tentei argumentar; não para convencer, mas por essa nossa insistência invencível de defender algo que nos é tão caro: os nossos valores e a dignidade do que defendemos.

Essa pergunta é uma bela síntese do reacionarismo do nosso judiciário que permeia, de forma estrategicamente conveniente às classes dominantes, desde os servidores do balcão aos julgadores mais distintos e elevados.

Atualmente temos oito presos no Ceará. Ao menos dez trabalhadores, esse ano, aqui no estado, tiveram constrangimentos na liberdade. Alguns motivos: “roubo” de castanha, por quem precisa comer; “roubo” de telhas, por quem precisa se proteger; “tentativa de roubo” de água, por quem precisa beber!

Ainda é pelo mínimo de garantismo que lutamos? Por uma mera e correta aplicação da legislação penal? Por um mínimo de dignidade? Sim.

Cláudio
advogado de sem terra.

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