“Reclaim the fields”: apoio à comunidade de Rosia Montana, Transilvânia, contra mineradora canadense

“Reclaim the fields” anuncia hoje, dia 1 de Dezembro de 2011, sua solidariedade com a população de Rosia Montana que há dez anos luta  contra o roubo criminoso e a expropriação. Rosia Montana é uma vila nas montanhas Apuseni, na Roménia, sob ameaça de ser destruída em nome do lucro pela Gabriel Resource’s, uma empresa de extração mineira de ouro. Caso venha a realizar-se, a exploração da mina proposta irá destruir a aldeia de Rosia Montana e introduzir a tecnologia de lixiviação de cianeto perigoso, ameaçando os sistemas de água da Roménia, com o potencial de acidentes devastadores.

A população local, apoiada por activistas internacionais, opõe-se aos planos para abrir a maior mina de exploração de ouro a céu aberto da Europa, que deslocaria centenas de famílias, resultando também em destruição ecológica generalizada e contaminação da paisagem protegida com cianeto. A campanha Salvati Rosia Montana (Salvar Rosia Montana) tem vindo a lutar dia-a-dia por esta região com o apoio e solidariedade de pessoas de todo o mundo. Alguns activistas do GAIA estiveram em Rosia Montana no passado mês de Setembro no encontro Reclaim the Fields. 1 de Dezembro é feriado nacional na Roménia, mas não é apenas por este motivo que durante o jantar popular partilharemos informação sobre a presente situação em Rosia Montana, no mesmo dia em que por vários pontos do mundo decorrem acções de protesto contra a exploração mineira de ouro em Rosia Montana.

A oposição local ao projecto da exploração da mina de ouro surgiu assim que foi anunciado pela empresa canadense Gabriel, no no 2000. Desde então, a resistência ao plano espalhou-se por toda a Romênia e além fronteiras. Durante os últimos 10 anos, Alburnus Maior, através da Campanha Salve Rosia Montana, mobilizou com sucesso milhares de pessoas, que têm evitado a realização dos planos até ao momento.

O plano de Avaliação de Impacto Ambiental para o projeto de exploração mineira foi suspenso em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente, devido à descoberta de ilegalidades cometidas pela empresa. Além disso, a sociedade civil ganhou vários processos judiciais contra a Gold Corporation, comprovando que o projeto de exploração mineira foi iniciado em condições ilegais e envolveu altos níveis de coacção, corrupção e abuso da população local. De acordo com a lei, o projecto de exploração mineira deve ser reiniciado a partir do ponto zero.

No entanto, o novo ministro romeno do Meio Ambiente quer avançar com uma decisão política que favoreça o projeto de exploração mineira, violando claramente as decisões judiciais, quer da Romênia como a legislação da UE sobre os procedimentos de Avaliação de Impacto Ambiental. O governo romeno parece disposto a apoiar os interesses das empresas apesar da oposição local. Uma nova lei sobre expropriação foi proposta recentemente no parlamento romeno, estndo prevista a votação durante o próximo mês. A lei permitirá às empresas privadas, em vez de ao Estado romeno e ao sistema judicial, realizar a expropriação forçada de moradores, numa clara violação dos direitos humanos.

Em diálogo com os activistas da ocupação, o porta-voz da empresa, Catalin Hosu, rejeitou qualquer relação entre a Gold Corporation e esta lei, e afirmou que não recorreria a usá-la caso seja aprovada. Em resposta, os activistas prometeram que, caso esta promessa não for mantida, a empresa será alvo de mais acções de protesto no futuro. A nível da UE, a Comissão Europeia tem vindo a recusar acompanhar uma resolução do parlamento europeu, de Maio de 2010, que obriga a fazer uma proposta legislativa para proibir o uso de cianeto na exploração mineira. A Gold Corporation manifestou a intenção de adotar a tecnologia de redução de cianeto em Rosia Montana, mas notícias recentes expõem que o uso dessa tecnologia vai ser muito mais caro que o previsto inicialmente. Em resposta a essa questão, Catalin Hosu respondeu que a Gold Corporation está empenhada em respeitar todos os romenos e legislação da UE, mas não especificou se esta tecnologia será adoptada ou descartada consoante os custos.

Mais informações em http://reclaimthefields.org/content/current-situation.

O que é a Reclaim the Fields

Reclaim the Fields é uma constelação de indivíduos e projectos colectivos dispostos a voltar ao campo e recuperar o controlo sobre a produção alimentar. O movimento define-se como um colectivo não-hierárquico de camponeses, futuros camponeses sem acesso à terra e qualquer pessoa envolvida em criar alternativas ao capitalismo através de iniciativas cooperativas, colectivas e autónomas, defendendo práticas reais de produção em pequena escala, ligando teoria e prática através de acções locais que respondem directamente aos desafios das actuais lutas globais.

Reclaim the fields é um movimento de raiz iniciado em 2007, no âmbito da concentração anti-G8 em Rostock, em Junho desse ano. O Reclaim the Fields apoia e encoraja a vida nos meios rurais e o regresso à terra. O âmbito do movimento é o da promoção da soberania alimentar e a cultura camponesa, particularmente entre os jovens e a população urbana, incentivando a modos de vida alternativos. O movimento procura assim novas alternativas ao modelo de produção capitalista, particularmente através de modelos cooperativos, colectivos e autónomos, orientados para as necessidades reais da população. A ideia subjacente é a de colocar a teoria em prática, interligando a prática e acções locais com lutas políticas globais.

Reclaim the fields trabalha cojuntamente com a Vía Campesina e pretende associar os vários movimentos que se revejam na mesma luta. Depois de várias reuniões, assembleias, participações em conferências internacionais e acampamentos (um na Suécia e outro em França), o colectivo reuniu-se mais uma vez para continuar a sua construção e fortalecer-se como conjunto. O local escolhido para Setembro de 2011 foi a Roménia.

O acampamento contou com cerca de 250 participantes e teve como tema principal o protesto contra a reabertura da mina de ouro de Rosia Montana, no Oeste da Roménia, onde uma empresa canadiana pretende levar a cabo métodos altamente destrutivos de extracção do ouro.

O encontro desenvolveu-se ao longo de 10 dias, num acampamento auto-gerido voluntariamente pelos participantes, onde se praticaram manifestações e uma acção directa em Rosia Montana, na qual se ocupou temporariamente o centro de visitantes da aldeia, implementado pela empresa de extracção mineira. Durante o encontro realizaram-se plenários diários para a gestão da vida comunitária e de decisões e processos relacionados com o futuro do movimento. Organizaram-se ainda variadas oficinas relacionadas com acção directa, agro-ecologia, sementes, eco-construção, permacultura entre outros, para além de projecções de filmes, trocas de sementes com os locais e entre participantes.

http://gaia.org.pt/node/16056. Enviada por GAIA.

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