Xukuru-Kariri e Karapotó-Guariri aguentam firme a intransigência do superintendente Frederico Campos, que declarou não reconhecer os povos como índios
![](http://estatico.primeiraedicao.com.br/_CACHE/images/keep_ratio/200_200/aW1hZ2Vucy8xMzE5ODM3MDYwZHNjMDE1ODcuanBn.jpg)
Fran Ribeiro
Desde a terça-feira (25) acampados na sede da Fundação Nacional do Índio em Alagoas (FUNAI) na Rua da Praia, no centro de Maceió, os 86 indígenas Xukuru-Kariri e Karapotó-Guariri aguentam firme a intransigência do superintendente da Função, Frederico Campos. O representante órgão no Estado deu declarações à imprensa na última quarta-feira (26) dizendo que não reconhece as famílias que ocupam a sede como índios.
A declaração repercutiu entre os movimentos sociais e nesta sexta-feira (28), os indígenas saíram às ruas do centro em protesto contra a apatia de Campos, que nega se reunir com os povos que estão acampados. A caminhada ganhou o apoio dos servidores do sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (SINTSEP), Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal e MPU (SINDJUS) e Sindicato dos Policiais Federais (SINDPOFAL) que se mostraram solidários ao movimento.
De acordo com o Cacique Chiquinho, Xukuru-Kariri, da aldeia Monte Alegre que fica há 15 km do centro de Palmeira dos Índios, a ocupação do órgão foi necessária devido a falta de resposta da FUNAI, que até hoje, não cadastrou as dezesseis famílias da aldeia. Sem o reconhecimento, os índios não têm acesso à saúde, educação e saneamento básico.
![](http://estatico.primeiraedicao.com.br/_CACHE/images/keep_ratio/200_4000/ZmNrX3VwbG9hZC9pbWFnZS9pbmRpb3MtZnVuYWkuanBn.jpg)
“O Frederico quer sentar somente comigo e isso eu sou contra. Nossa aldeia tem muitos problemas e é importante que ele ouça a todos para saber o que realmente acontece”, disse o Cacique à reportagem do Primeira Edição.
Sem o reconhecimento da comunidade de Monte Alegre como aldeia indígena, as famílias não tem como participar dos convênios da FUNAI com o Governo Federal, para desenvolverem as culturas da agricultura, criação de caprinos e a piscicultura, destinados a subsistência da aldeia. Com isso, o povo fica à mercê de doações.
Situação semelhante que acontece com a aldeia Karapotó-Guariri, que fica no povoado de Salubre, no município de São Sebastião. Segundo o Cacique Jorge Bernabé, há quatro anos entregou a documentação na sede da FUNAI, mas até hoje a comunidade não foi reconhecida.
“É engraçado ele dizer que não somos índios. Fomos à Brasília, e lá, na FUNASA [Fundação Nacional da Saúde] nós fomos cadastrados como povo. E como, aqui, não somos?”, indagou o Cacique. “Meu povo é índio. Minha família é o povo. Não tenho medo de afirmar que somos indígenas”, declarou Jorge, mostrando o relatório antropológico feito por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) que comprova que as duas comunidades são provenientes de ramificações dos povos originários.
![](http://estatico.primeiraedicao.com.br/_CACHE/images/keep_ratio/200_4000/ZmNrX3VwbG9hZC9pbWFnZS9jYWNpcXVlLWNoaXF1aW5oby5qcGc.jpg)
“O Frederico está nos discriminando. Só vamos sair daqui quando tivermos uma reunião e ele cadastre a gente”, emendou o Cacique Karapotó. Enquanto isso, as 86 pessoas entre mulheres, crianças, homens e idosos, permanecem acampados na sede da FUNAI, dormindo no chão do pátio, dividindo um saco de arroz e um de feijão doados pelo SINDJUS.
OAB interfere nas negociações
O presidente da Comissão de Direito das Minorias da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de Alagoas (OAB/AL) Aberto Jorge, teve uma longa conversa com os índios na tarde desta sexta-feira (28), na sede ocupada. Betinho disse à reportagem que a Ordem está preocupada com a situação dos dois povos, que estão há anos sem acesso a assistência que é deles por direito, e deve ser garantida pela FUNAI.
Alberto disse ainda, que a intervenção da OAB nas reivindicações dos índios serve de reflexão sobre a atual situação da FUNAI. “Tivemos a ciência de todas as tentativas de acordo entre as partes e que não foram encaminhadas pela FUNAI. A Ordem se inteirou da situação da luta desses povos pelo direto à terra e do reconhecimento deles como índios. Esse último ponto mais sério, pois existe a comprovação a partir de relatórios elaborados por profissionais qualificados”, explicou o advogado.
![](http://estatico.primeiraedicao.com.br/_CACHE/images/keep_ratio/200_4000/ZmNrX3VwbG9hZC9pbWFnZS9hbGJlcnRvLWpvcmdlLmpwZw.jpg)
Durante a reunião dessa sexta-feira, Alberto propôs um encontro entre representantes dos povos Xukuru-Kariri e Karapotó-Guariri, representantes do Ministério Público Estadual (MPE), antropólogos e pesquisadores, além do superintendente da FUNAI, Frederico Campos e a OAB.
“O indicativo é que em quinze dias essa reunião aconteça. Faremos um convite formal a essas pessoas e esperamos que se chegue a uma resolução. É dever da FUNAI legalizar ou não e dar uma definição a essas famílias”, revelou.
http://primeiraedicao.com.br/noticia/2011/10/28/superintendente-da-funai-ignora-indigenas-e-oab-entra-nas-negociacoes