MA – Governo do estado agride quilombolas

João Alberto discute com quilombolas e causa tumulto em protesto no Leões

Uma marcha de trabalhadores rurais e quilombolas, ontem (5) pela manhã, terminou em tumulto, depois que o ex-senador e atual secretário estadual de Programas Especiais, João Alberto de Souza (PMDB), discutiu com quilombolas ao chegar de carro ao Palácio dos Leões, destino final da caminhada.

Os manifestantes em nenhum momento impediram a passagem do carro ocupado pelo ex-senador, mas mesmo assim, ao chegar à sede do governo, às 10h, ele parou, abriu a janela do veículo e questionou acintosamente aos trabalhadores sobre a motivação do protesto.

Três lavradores e uma lavradora se dirigiram ao carro. Um dos líderes da marcha, Almirandi Costa, de São Vicente Ferrer, respondeu que o protesto era contra a violência no campo, em especial contra o assassinato do lavrador Valdenílson Borges, 24 anos, no domingo (2) de manhã, no povoado Rosário, em Serrano do Maranhão.

Almirandi disse a João Alberto que esse e outros crimes no campo eram culpa da “irresponsabilidade do governo estadual”, que não proporcionava segurança aos lavradores ameaçados de morte no Maranhão.

João Alberto retrucou, irritado: “Irresponsável é você” (referindo-se a Almirandi). O líder rural, então, pegou um microfone e pediu para que João Alberto repetisse “pra todo mundo ouvir” quem o político achava “irresponsável”, ocasião em que o tumulto começou, com os policiais militares – fardados e à paisana – que fazem a segurança do Palácio dos Leões partindo para cima dos manifestantes.

João Alberto chamou os lavradores de ‘irresponsáveis’ e provocou uma confusão e agressão aos trabalhadores.

Na tentativa de tirar o microfone da mão de Almirandi, um policial feriu outro na cabeça. Depois de causar a confusão, João Alberto fechou a janela do carro e se retirou, deixando para trás policiais e trabalhadores se agredindo.

Após a situação se acalmar, o protesto prosseguiu, com os lavradores cantando e pedindo “Justiça no campo”. A viúva do camponês assassinado, Ana Maria dos Reis Abreu, 25 anos, e sua irmã, Jodeílde Borges, 38, participaram da marcha e afirmaram ao Jornal Pequeno que também estão sendo ameaçadas de morte.

Segundo elas, o assassino de Valdenílson Borges, identificado como Edvaldo Silva – que está foragido – é filho de um homem conhecido como “Dudu Fogão”, que há vários anos ameaça as famílias de lavradores do povoado Serrano, com a intenção de tomar suas terras.

“A polícia e o governo tentam marginalizar nosso movimento, que é pacífico”, disse Almirandi Costa ao JP.

Momentos antes do episódio envolvendo João Alberto, um dos policiais responsáveis pela segurança do Palácio dos Leões já havia atirado uma Hilux para cima dos manifestantes, por pouco não ferindo vários deles.

Fim da ocupação do Incra – na terça (4), os quilombolas, sem-terras e índios que ocupavam e bloqueavam os portões da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Anil, deixaram o local. Os ocupantes obtiveram do governo federal o compromisso de que, nos dias 19 e 20 de novembro, o presidente nacional do Incra, Celso Lacerda, vem ao Maranhão para definir formas para agilizar as principais reivindicações do movimento: titulação de terras e proteção aos lavradores ameaçados de morte. (Colaborou Maria do Socorro Arouche).

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