ES – Pescadores proíbem entrada da Fibria em festa na Barra do Riacho

Protesto dos pescadores contra a atuação da Fibria na região.

Flavia Bernardes

A festa dos pescadores da Barra do Riacho e Barra do Sahy, em Aracruz, norte do Estado, foi marcada pelo protesto da categoria contra a atuação da Fibria na região. Segundo eles, após 44 anos atuando no município, a empresa não mudou em nada a realidade local. Pelo contrário, a empresa está cada vez mais distante da comunidade, segundo o presidente da Associação dos Pescadores da Barra do Riacho e Barra do Sahy (Aspebr), Vicente Buteri.

A festa realizada neste final de semana, na Barra do Riacho, arrecadou 3 mil quilos de alimentos para pescadores e famílias carentes da região obrigadas a conviver com o desequilíbrio ambiental e social.

“Em 44 anos aqui no Estado ela não ajudou em nada a comunidade. E eu não estou falando de dar coisas, porque esta não é a obrigação da empresa. Mas muitos anos se passaram desde as suas primeiras promessas de desenvolvimento, sendo que hoje, temos a mesma estrutura de 44 anos atrás. Ela não cumpre condicionantes e parece até que quer eliminar os pescadores do mapa”, ressaltou Vicente Buteri.

A empresa repete com a comunidade pesqueira a mesma postura denunciada por índios e quilombolas da região. E, com a Fibria – junção entre Aracruz Celulose e Votarantim Celulose e Papel (VCP) – a situação piorou. Segundo os pescadores, não há mais qualquer canal de comunicação entre empresa e comunidade.

“Antes tinham pessoas que atendiam ao telefone e nos ouviam sobre as reivindicações. Ainda assim, tivemos que ocupar o Portocel para que ela nos ouvisse sobre o assoreamento gerado por ela na Boca da Barra e que nos impediu de pescar por meses. Agora, nem isso temos. Até o documento que enviamos pedindo apoio para a festa dos pescadores foi perdido pela empresa”, desabafou Buteri.

A informação é que a Fibria está formando comissões na região e divulgando que irá alterar a realidade local. Entretanto, segundo os pescadores, a categoria não foi incluída nas comissões que deverão acompanhar a expansão do porto privativo da empresa.

Segundo os pescadores e os líderes comunitários da região, a empresa só se mobiliza quando quer se expandir. Aapós o licenciamento de seus projetos, a empresa não tem o mesmo empenho em fomentar o desenvolvimento local, conforme divulga na região.

O pedido de apoio à festa dos pescadores foi enviado para a empresa em junho deste ano e, segundo Buteri, só este mês a empresa informou que não iria apoiar a festa e que havia perdido o documento enviado pelos pescadores.

“A Barra do Riacho e a Barra do Sahy não é só violência como dizem por ai, essa é a conseqüência de tudo que ocorre por aqui. Mas, por outro lado, tem gente de verdade aqui que precisa de carinho e atenção, essa festa é nosso único lazer e não queremos quem não é parceiro da comunidade aqui”, explicou o presidente da Aspebr.

Ao se instalar em Aracruz, a então Aracruz Celulose, hoje Fibria, desviou água do rio Doce para abastecer suas fábricas. Portanto, quando suas comportas estão fechadas, o fluxo do rio Riacho diminui, impedindo que os pescadores saiam para o trabalho. A interferência na região já deixou os pescadores impedidos de sair com seus barcos para o mar por mais de quatro meses.

E, apesar de seus projetos de expansão, a Fibria ainda não resolveu este problema. Os pescadores lembram que os problemas com o assoreamento do rio começaram logo após a construção do  Portocel. Nesse período, os pescadores afirmam ter cobrado diversas vezes um enroncamento que tornasse permanente a saída da água do rio, mas nada foi feito.

Além disso, os pescadores reclamam que o projeto de construção do Portocel II, da Fibria, aumentará o fluxo de embarcações prejudicando a pesca na região. Os ruídos gerados por elas no meio ambiente marinho também foi apontado no Relatório de Impacto Ambiental (Rima), como um forte impacto para o meio ambiente na região, capaz de gerar o desaparecimento de espécies de peixes na região.

Com a implantação do porto, a comunidade pesqueira se reduziu e, hoje, resistem na região apenas 150 pescadores artesanais. A informação é que eles chegam a perder R$ 200,00 por dia quando as comportas construídas para garantir o abastecimento de água das usinas da empresa são fechadas.

Ao todo, a Fibria vai construir quatro novos berços de atracação, com capacidade para receber navios com até 244 metros de comprimento e 15 metros de calado. Os navios que atracam no Portocel hoje têm capacidade para 40 mil toneladas, e os que atracarão em Portocel II terão capacidade para até 70 mil toneladas.

Para tanto, o projeto irá gerar, segundo o Rima, a perda da diversidade biológica; alteração da comunidade ictiológica; atropelamento de animais; alteração da qualidade do ar e aumento da concentração de materiais particulados em suspensão no ar; alterações morfológicas; alteração da qualidade dos recursos marinhos; soterramento e mortandade da comunidade bentônica; alteração da área costeira; aumento de risco de contaminação; interferência na desova de tartarugas marinhas; erosão costeira, entre outros impactos.

O Portocel II também tornará a pesca na região ainda mais restrita, não apenas pelos impactos ambientais, mas pela área ocupada para a sua atividade.

http://www.seculodiario.com.br/exibir_not.asp?id=24352

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