Danilo Gentili: ‘Se Dilma foi presa e torturada, é porque foi idiota’

Você provavelmente deve conhecer alguém capaz de oferecer um pedestal para um boçal

Luis Soares

O jornal britânico The Guardian publica matéria essa semana destacando uma possível febre enlouquecida por apresentadores de comédia stand-up no Brasil (recuso-me a intitulá-los humoristas). O título da matéria é ‘Comediantes brasileiros de stand-up lideram revolução contra a poderosa elite‘, e Danilo Gentilli, integrante do programa CQC e contratado da rede Bandeirantes de televisão, é tratado como um dos líderes desse movimento.

Tom Phillips, jornalista que assina a matéria, chega a essa conclusão com base em critérios completamente chulos. Ele acompanhou a performance de Gentili em alguns de seus shows, ficando impressionado com a reação do público que o ovacionou com energia desmedida. Também o impressiona o número de pessoas que seguem Gentili na rede social Twitter. Mas isso bastaria para alçar alguém à posição de, pasmem, líder brasileiro no novo milênio?

Seria preferível levar em conta o perfil da plateia que costuma se encantar com esse tipo de ‘comédia’ nos dias atuais. Sem querer rotulá-los, mas sofrer crise de risos com uma piada que refere-se à tortura de forma banal, é atestado de total desconhecimento da história do Brasil. Transcrevo Gentili: “Um presidente tem que ser esperto.  Se ela foi capturada e torturada, é porque foi estúpida“. De acordo com a matéria do Guardian, a frase citada reflete o ápice do show, sendo o momento mais divertido dos 80 minutos de monólogo. Assim reage a claque.

As mesmas pessoas que se divertem com essas colocações de mau gosto, são as que também não contiveram o riso quando Rafinha Bastos, amigo de Gentilli, falou pejorativamente de mulheres que amamentam em público, e que ‘mulheres feias devem agradecer ao serem estupradas‘. Não, esse público está longe de refletir a realidade nacional, assim como os seus famigerados líderes, mais preocupados em enriquecer as suas contas bancárias e integrar a elite econômica disseminando baboseiras, do que realmente contrariar uma suposta elite.

Se querem mesmo buscar uma imagem de líder ascendente na América Latina, tomem a chilena Camila Vallejo como exemplo, que encabeça um movimento engajado em mudar a realidade educacional do seu país, através de propostas consistentes, defendidas sob a ótica da racionalidade e com mobilizações populares de proporções tamanhas que impressionam o mundo, no cotidiano real, do embate, nas ruas.

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