Energia sim, Belo Monte Jamais!

Anderson Castro*

Antes de debatermos questões que dizem respeito aos impactos sócio-ambientais, precisamos desconstruir algumas inverdades ditas pelos grandes interessados em garantir com que a Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte saia do papel, a saber, governo federal, empresas eletro-intenisivas empreiteiras entre outros.

Para tal, é válido lembrar do tema “ENERGIA SIM, BELO MONTE NÃO!” usado em uma vídeo-matéria do Green Peace, onde os ativistas colocam um “Belo Monte de estrume”, na entrada principal do prédio da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), em Brasília (DF) durante o leilão das obras referentes a Belo “Monstro”, mostrando o que acham no que vai dar o referido projeto.

É notório que a população de nosso país necessita de energia, a exemplo de algumas cidades que, em pleno século XXI, não têm energia elétrica ou possuem fornecimento inadequado. Sem contar os recorrentes “apagões” que ocorrem nas grandes metrópoles, como o que ocorreu em novembro de 2009 deixando 10 (dez) estados brasileiros – entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná – sem fornecimento de energia elétrica.

Estes exemplos nos levam a pensar que é inevitável construir a UHE Belo Monte no rio Xingu na cidade de Altamira/PA e as Hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio no rio Madeira em Rondônia. Correto? LÓGICO que não. Ai você pode dizer que este artigo é fruto da cegueira militante de diversos ambientalistas e movimentos sociais que se colocam contra o desenvolvimento do Brasil. Se não conhecermos os reais interesses por trás da construção dessas obras faraônicas, perdemos o foco e iremos continuar a reproduzir essa conversa “fiada”.

O Brasil precisa de Belo Monte?

Belo Monte é o maior projeto do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. Compreende uma das mais de 100 grandes barragens que vêm sendo planejadas na Amazônia, onde grande parte destas ameaça terras indígenas e áreas protegidas.

Célio Bermann, professor do Instituto de Energia e Eletrotécnica da Universidade de São Paulo (USP), aponta em seu artigo “O Brasil não precisa de Belo Monte” uma série de alternativas para aumentar o fornecimento de energia elétrica. Entre elas Célio afirma que: se fossem repotenciadas as hidrelétricas brasileiras existentes com mais de 20 anos evitando perdas nos “linhões” de transmissão e nas redes de distribuição de energia e se fosse renovado o parque tecnológico das mesmas através da troca de equipamentos antigos e modernizando componentes e sistemas, não haveria necessidade de se construir novas hidrelétricas para atender as demandas energéticas de nosso país.

Bem, neste momento você deve estar se perguntando: “Se temos como otimizar a produção de energia sem causar danos sócio-ambientais porque o Governo Federal insiste em querer construir Belo Monte? Quais são os interesses que estão por trás deste empreendimento?”

Para tentar responder as perguntas feitas no parágrafo anterior, algumas informações são importantes. Saibam que as empreiteiras Andrade Gutierrez, Odebrecht, Camargo Correa foram responsáveis por contratar a empresa que elaborou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que gerou o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) sobre Belo Monte no Xingu. Ora, quem paga a banda escolhe a música.

Este ano, no dia 13 de abril de 2011, o Movimento Xingu Vivo para Sempre, organizou em Belém um seminário de formação, onde profissionais de áreas distintas, em conjunto com diversos movimentos sociais, apresentaram questionamentos que também nos ajudam a responder as indagações.

Durante o seminário, Felício Pontes (MPF/PA), após expor que os fiscais da eleição são formados por procuradores do Ministério Público Federal (MPF), relatou que foram as empreiteiras o maior grupo empresarial que financiou a campanha da Presidente Dilma em 2010. A partir desta informação começamos a perceber claramente o que na realidade está em jogo. Para eles, os poderosos, é o desenvolvimento do lucro de suas empresas e para nós é a vida acima de tudo. Em nome do “progresso” as elites nacionais mostram que pouco se preocupam com o meio ambiente em que vivemos. O Eldorado prometido trará na verdade doença, violência e miséria para a região.

Queremos que o Brasil se desenvolva erradicando a pobreza, garantido acesso a saúde e educação pública, gratuita e de qualidade para toda a população e não apenas para alguns iluminados.

Segundo Francisco Hernandes (Mestre em Energia, Doutorando em Energia PPGE USP): “Belo Monte é o terceiro ciclo do projeto, o primeiro foi a borracha (…). Falaram que o progresso viria com a borracha. Depois o progresso vinha com a transamazônica. Não veio não, né? Agora o progresso vem com Belo Monte. E o pessoal tá dizendo que vai vir com Belo Monte. Quando ele diz isso ele ta dizendo que não veio nos outros dois ciclos também. Isso tem que ser denunciado e a história da eletricidade brasileira bem próxima da gente em Tucuruí mostrou que esse progresso não veio e as conseqüências ambientais e sociais vieram (…)” (transcrito da fala do professor durante o seminário do Movimento Xingu Vivo).

Continuaremos JUNTOS resistindo até o fim fortalecendo a luta em Altamira, criando comitês de luta contra Belo Monte em escolas, Universidades, repartições de serviço, em outros Estados, em outros países. JUNTOS com DCE’s, grêmios, coletivos estudantis de luta. Juntos com personalidades como Marinor Brito, Edmilson Rodrigues, Dira Paes, James Cameron, Arnold Schwarzenegger e principalmente com o povo trabalhador. JUNTOS anunciaremos a primavera!

*Anderson Castro, estudante de Psicologia da UFPA, Comitê Metropolitano Xingu Vivo Para Sempre e Coordenador da Rede Emancipa PA.

http://xingu-vivo.blogspot.com/

 

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