Ameaças de greve e forte tensão no Moçambique contra Vale

 

Por Jeremias Vunjanhe

“Um novo ciclo de escravatura está a tomar conta do nosso País com a conivência dos nossos dirigentes”. “A Vale veio gravar nossa pobreza”.

Leia a seguir uma reportagem do Moçambique, a respeito da primeira carga de carvão mineral para exportação.

O processo de carregamento e partida do primeiro comboio com 2700 toneladas de carvão mineral extraído pela Vale Moçambique em Moatize, província de Tete para a cidade da Beira decorreu sob fortes tensões e ameaças de paralisação das actividades relativas à extracção, processamento e exportação do carvão mineral de Moatize, província de Tete no centro de Moçambique. Os trabalhadores da Empresa brasileira Vale apontam o pagamento de baixos salários, dualidade de critérios no tratamento dos trabalhadores moçambicanos e estrangeiros (na sua maioria brasileiros), falta de transparência na contratação de mão-de-obra e incumprimento das promessas de compensação às comunidades reassentadas, como sendo as principais razões para o seu posicionamento.

“Estamos fartos de falsas promessas, discriminação e uma carga horária de trabalho excessiva que não corresponde com os péssimos salários que a Vale Moçambique nos paga”, disse um dos trabalhadores daquela empresa mineira insatisfeito e revoltado com a situação.

A gravidade das ameaças e o ambiente de crispação vividos em Moatize antes do processo de carregamento e partida do primeiro comboio com 2700 toneladas de carvão mineral extraído pela Vale Moçambique obrigaram a realização de uma visita de emergência do ministro moçambicano do interior Alberto Mondlane ao Projecto de mineração da Vale em Moatize. Durante a visita realizada no dia 1 de Agosto último, Mondlane manteve encontros com os dirigentes e trabalhadores da Vale num esforço para ultrapassar o impasse.

Segundo fontes laborais afectas ao projecto da Vale, o ambiente de tensão e a onda de descontentamentos no seio dos trabalhadores que marcou os dias que precederam a circulação do primeiro comboio carregado de 2700 toneladas de carvão mineral de Moatize, continuam e são extensivos a quase todas as empresas contratadas pela Vale para a prestação de serviços em diversos sectores e resulta da continuada atitude de arrogância, falta de diálogo e da inobservância dos direitos dos trabalhadores por parte dos responsáveis do projecto com a conivência de sectores importantes do Governo de Moçambique.

“Um novo ciclo de escravatura está a tomar conta do nosso País com a conivência dos nossos dirigentes. O País está a ser vendido aos bocadinhos e a nossa dignidade posta em causa por projectos que apenas beneficiam alguns políticos” consideram os trabalhadores da Vale Moçambique.

Fontes próximas ao projecto de carvão de Moatize avançam que o ambiente de tensão prevalece até ao momento agravado pela iminente rescisão de contracto da empresa brasileira Odebrecht Internacional, até então a construtora privilegiada do projecto, forçada pela pressão política do Governo de Moçambique feita à Vale com vista a assegurar a concessão de mais obras à empresa moçambicana CETA comprada na sua totalidade pelo grupo Insitec do qual o Presidente da República Armando Guebuza é acionista.

No passado dia 14 de Julho de 2011, o director geral da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, reuniu-se com os trabalhadores da sua companhia

O “Vale” da Desgraça

“O reassentamento foi só para nós os desgraçados. Estamos a sofrer e a cada dia que passa, as condições de vida estão a piorar. Nem a Vale muito menos o Governo se dignam a ouvir e a resolver as nossas preocupações” disse um jovem contactado em Cateme, local de reassentamento a 45km da Vila de Moatize e a 75km da cidade de Tete.

“Estamos a sofrer. A Vale veio agravar a nossa pobreza. Em Chipanga nós vendíamos a lenha e carvão. Vendíamos os nossos produtos alimentares. Aqui em Cateme, só estamos nós os desempregados e pobres sem acesso ao mercado e sem fontes de renda” disse

Informações disponíveis, indicam que a tarifa de baixos salários praticada pela Vale, suas empresas contratadas e por outros projectos de investimentos tem sido imposta pelo Governo como forma para manter o equilíbrio entre os salários praticados nestes projectos com os das outras instituições estatais e governamentais.

http://www.justicanostrilhos.org/nota/821

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