Garimpo ameaça comunidade indígena no interior do Amazonas

A atividade de garimpeiros é denunciada durante encontro regional dos povos indígenas do município de Jutaí, distante 749 km de Manaus. A ameaça do garimpo não é novidade na área

Lideranças indígenas do município de Jutaí (a 751 quilômetros a oeste de Manaus), no interior do Amazonas, denunciaram que garimpeiros teriam invadido a ‘Terra Indígena Rio Biá’ e que a invasão foi facilitada por funcionários do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI – Médio Solimões), que atuam no Polo Sanitário Biá.

Os garimpeiros teriam participado de uma reunião entre os índios Katukina da aldeia Boca do Biá e negociado a permanência deles no local, segundo as lideranças.

De acordo com os indígenas que fizeram a denúncia, os garimpeiros estariam prospectando a região conhecida como ‘Ressaca da Onça’.

Os garimpeiros revolvem o fundo dos rios com dragas e despejam resíduos com mercúrio que contaminam as águas e os peixes, permitindo que o metal pesado entre na cadeia alimentar das populações. Isso coloca os moradores das aldeias do Biá em situação de risco, além de preocupar as intenções de indígenas e ribeirinhos de investirem no mercado de comercialização do pirarucu.

Esta não é a primeira vez que garimpeiros entram na área Katukina do Biá. Em 2005, durante os trabalhos de proteção territorial que a Operação Amazônia Nativa (OPAN) desenvolvia em parceria com os Katukina, uma expedição ao rio Mutum flagrou garimpeiros em plena atividade. O Mutum é o rio que faz a divisa da terra Katukina com a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Cujubim.

Na época, os 35 Katukina que participaram da expedição identificaram a região como terra tradicional do subgrupo Om djapa, possivelmente extinto por epidemias e miscigenação com invasores na época auge do extrativismo da borracha. O povo Katukina e a OPAN elaboraram, então, um comunicado ao Ibama sobre a presença dos garimpeiros no rio Mutum, assim como de outros invasores que extraíam e transportavam ilegalmente a madeira e capturavam quelônios. A resposta do poder público foi enérgica.

Em pouco mais de um mês estava montada uma operação de fiscalização, que removeu e autuou em mais de 500 mil reais, os responsáveis pela degradação dentro da terra indígena. Na operação, foram encontrados barcos fornecedores de combustível para as dragas no rio Mutum e na foz do rio Biá. Os fiscais apreenderam ainda motores, compressores, bombas de sucção, geradores de energia elétrica, mercúrio, combustíveis, ferramentas e outros materiais utilizados no garimpo.

Apesar da mobilização, em 2005 foi comprovada a continuidade das práticas clandestinas chefiadas por um garimpeiro conhecido como Maranhão. Atualmente, o maior grupo garimpeiro está instalado nas imediações do rio Boia – vizinho à Terra Indígena Rio Biá e cotada para se transformar em Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS). “A prefeitura de Jutaí quer criar mais reservas para suprir uma lacuna de áreas que ainda não estão protegidas, mas principalmente como estratégia para combater os garimpeiros”, explica o prefeito em exercício do município, Antônio Cândido.

Segundo ele, se a reserva do rio Boia e outras duas unidades de conservação tiverem seus trâmites de criação concluídos, Jutaí terá mais de 95% de sua área protegida. Isso não é pouco, uma vez que o município é o quarto maior em extensão do Estado do Amazonas (70 mil km2). “São quatro Suíças”, compara.

O Conselho dos Povos Indígenas de Jutaí (COPIJU) demonstrou surpresa com a denúncia feita durante o encontro regional e reagiu. “A gente ouve de vez em quando que estão mesmo acontecendo algumas atividades ilegais na Boca do Biá, mas só estamos sabendo disso agora. A COPIJU vai tomar conhecimento da situação e correr atrás do prejuízo”, avisou Francisco Peres, coordenador da entidade.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Garimpo-comunidade-indigena-interior-Amazonas_0_557344605.html

 

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.