“Tememos ser os próximos a morrer”, afirma dirigente do MST no Pará

Por Gabriel Bonis, da Carta Capital

“Essa morte nada mais é do que a permissão para assassinar, o direito de uma classe exercer a violência sobre a outra via eliminação física”. É assim que a liderança do MST no Sul do Pará, Charles Trocate, define o assassinato do agricultor Valdemar Oliveira Barbosa, 56, na manhã de quinta-feira 25, em Marabá, em conversa com o site de CartaCapital, por telefone.

De acordo com nota divulgada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Barbosa, que era sócio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e líder de ocupações de terras na região, foi morto a tiros por dois pistoleiros que trafegavam em uma moto.

Segundo a Agência Pará de notícias, órgão do governo do estado, a Polícia Civil já iniciou as investigações sobre o assassinato, o sexto de uma liderança camponesa no estado apenas em 2011 e com um agravante: a vítima já havia registrado denúncia de ameaça à Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá em maio deste ano. “Vivemos em uma situação de preocupação, em que seremos os próximos a morrer”, desabafa Trocati.

Há cerca de um ano, Valdemar passou a coordenar um grupo de famílias que ocupava a Fazenda Califórnia na cidade de Jacundá, despejado do local no fim de 2010. Porém, Piauí, como era conhecido, ameaçava retomar o acampamento.

A CPT, assim como Trocati, acredita que o crime pode ter ligação com a tentativa de reocupar a fazenda. “Numa região em que há essa fração da burguesia agrária e onde os recursos públicos agem para coibir e eliminar fisicamente, não há outro depositário dessa morte se não o latifúndio”, diz a liderança do MST.

Segundo Trocati, nem mesmo a operação do governo federal “Defesa da Vida”, lançada no Pará, Rondônia e Amazonas em junho para combater o crime organizado e acelerar as investigações de mortes em assentamentos, apoiada pelo Exército e Forças Armadas, conseguiu solucionar o problema da violência contra lideranças camponesas. “O plano do governo é só falácia, estamos em uma região em que o progresso e o desenvolvimento está baseado no uso intensivo do capital natural”.

O militante ainda acusa a atual gestão do governador Simão Jatene (PSDB-PA) de compromisso com o latifúndio e repressão ao invés do diálogo. “Há uma mudança de paradigma no comportamento do Estado, na maneira de tratar problemas sociais, ambientais, ecológicos e agrários como casos policiais”. Para ele, a antecessora Ana Julia (PT-PA) também não tinha uma agenda de mudanças na política agrária, mas havia diálogo com os movimentos do campo. “Houve menos fogo cruzado”.

Após o assassinato do casal de extrativistas José Cláudio e Maria do Espírito Santo em Nova Ipixuna, esse é o quarto trabalhador morto com indícios de motivação por disputa territorial. Apenas o caso dos ambientalistas foi parcialmente investigado e até o momento não houve prisões nos seis homicídios.

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http://www.mst.org.br/node/12384


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