Casai de Manaus demora para agendar consulta e índios decidem voltar às aldeias

Em reunião realizada no último domingo, pacientes indígenas expuseram uma série de situações e precariedades vividos por eles na Casai


Elaíze Farias

 

Aguardando desde julho por consulta, exame e cirurgia, o indígena Moisés Luiz da Silva, 31, da etnia Baniwa, decidiu abandonar sua estada na Casa de Saúde Indigena (Casai), em Manaus, e voltar para sua aldeia, em São Gabriel da Cachoeira ( a 851,23 quilômetros de Manaus), sem o tratamento que precisava para o seu antebraço quebrado.

Moisés diz que voltará com dores e com dificuldades de se movimentar, mas se não retornar poderá perder o emprego em uma fundação como consultor de agricultura familiar junto a comunidades indígenas.

O indígena conta que, após não receber sinalização alguma de que seu tratamento iria começar, decidiu bancar uma consulta particular de R$ 200. Ele também conseguiu fazer um exame no Hospital Adriano Jorge, contando com ajuda de amigos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O procedimento cirúrgico não será realizado, porque a Casai ainda não agendou, segundo ele. “Vim com encaminhamento para me tratar em Manaus. Se eu soubesse que demoraria tanto não teria vindo”, disse ele, que retornará para sua aldeia nesta sexta-feira (26).

O caso de Moisés é apenas um entre os mais 100 pacientes que aguardam durante semanas e até meses por uma primeira consulta. “Uma tia minha está na Casai de Manaus desde maio e ainda não sabe o que tem. Não começou sequer o tratamento. Ela quer voltar para aldeia mas o pessoal da Casai não deixa”, conta Moisés.

Reunião

Preocupados com o excesso na demora para iniciar o tratamento de saúde, pacientes e acompanhantes dos doentes indígenas realizaram uma reunião na Casai no último domingo. O documento foi registrado em uma ata escrita por uma das pacientes, cuja cópia foi enviada por Moisés à reportagem.

Na ata, os indígenas reclamam do que eles consideram desorganização por parte dos funcionários da Casai, da falta de interesse em agilizar as consultas e da presença de profissionais com pouca experiência em atuar em saúde indígena. Muitos acenam para o desejo voltar para suas aldeias, mesmo sem o tratamento.

Eles também acusam a gerência de ficar pouco tempo no expediente e afirmam que chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei/Manaus), Adarcyline Rodrigues não vai ao local.

Outro problema citado foi a falta de transporte terrestre, fluvial e aeronave para o deslocamento às aldeias dos pacientes que receberam altas.

“Se não tem médico suficiente melhor encaminhar para o município do que permanecer na Casai/Manaus, sem tratamento. A Casai precisa de profissionais indígenas que demonstram interesse de trabalhar na melhoria de saúde dos pacientes indígenas. Não queremos apenas profissionais novatos que vêm aqui para uma experiência ou estágio para sua promoção de estudo. Queremos profissionais gabaritados”, diz trecho do documento.

Isolamento

Uma das maiores queixas apresentadas na reunião de domingo refere-se ao isolamento a que são submetidos os indígenas. A Casai de Manaus fica localizada no KM-25 da rodovia AM-010 e não tem sinal de celular nem telefone fixo.

“A gente fica isolado, sem ter como falar com nossos familiares. Os parentes das aldeias não sabem o que está acontecendo conosco. Poderiam instalar um telefone público”, diz Moisés, que tem três filhos e veio acompanhado da mulher.

Moisés conseguiu falar com a reportagem do portal acrítica.com porque veio a Manaus nesta terça-feira (22) articular sua viagem de volta a São Gabriel da Cachoeira.

“A situação está muito precária. Parece que não existe uma organização para verificar as prioridades. Tem gente que está ali há mais de quatro meses. Há até pessoas que estão morando na Casai. Conseguiram fogão, geladeira, armário”, relata Moisés, que vive na aldeia Itacoatiara-Mirim.

Sesai

A reportagem ligou para o Núcleo do Ministério da Saúde, em Manaus, e tentou falar com Adarcyline Rodrigues, mas ela não atendeu ao pedido. O coordenador da Casai Manaus, identificado apenas como Severo, nao foi encontrado pelo celular fornecido à reportagem.

A assessoria de imprensa da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesac), com sede em Brasília, foi procurada por email e telefone. A assessoria prometeu responder, mas não o fez até o fechamento desta matéria.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/Indigenas-decidem-voltar-aldeias-demora_0_541146239.html

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.