Polícia procura criminosos que sequestraram professora da UFMG na Bahia

Um enredo que envolveu emboscada, perserguição, ameaças, sequestro, acidente e morte vitimou uma das maiores especialistas em formação de educadores indígenas do país, morta em desastre no Sul da Bahia, na noite de segunda-feira, depois de ser sequestrada, com o marido, por quatro assaltantes. A professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marildes Marinho da Silva, de 57 anos, doutora em linguística, e o também professor universitário André Mourthé de Oliveira, de 56, tinham deixado a comunidade indígena pataxó de Barra Velha (BA), onde ela havia dado aulas até domingo em um módulo do curso de formação intercultural de educadores, que também coordenava.

Era o primeiro dia de férias de Marildes. O casal havia deixado Itamaraju por volta das 16h30 em uma Pajero TR-4 prata dirigida por André, professor de economia da PUC Minas, com destino ao distrito de Caraíva, em Porto Seguro, onde encontraria uma amiga. Depois de dirigir pela BR-101, eles pegaram a estrada de terra. Após 30 minutos na rodovia vicinal, os dois foram ultrapassados por uma picape de cor escura, com quatro homens armados, dois deles encapuzados, que os obrigaram a parar. Um deles estava com uma espingarda calibre 12 e ameaçou atirar em André. Os outros estavam com revólveres.

Depois de render André e Marildes, os assaltantes assumiram a direção e seguiram nos dois carros até uma estrada estreita, no meio de um matagal. Em uma clareira, sob ameaça de armas apontadas para a cabeça, os professores ouviram os ladrões pedirem dinheiro, afirmando que sabiam que o casal havia comprado um terreno em Itamaraju. Como André disse não ter dinheiro, o bando revirou toda a bagagem e recolheu objetos de valor, como celulares, um notebook, uma câmera digital, um par de tênis, roupas diversas e um iPod.

Em depoimento prestado ontem à tarde ao delegado Ricardo Feitosa, da Delegacia de Proteção ao Turista de Porto Seguro, o professor relatou que os ladrões fizeram o casal refém, afirmando que iriam precisar da Pajero. Os dois encapuzados seguiram na frente, na picape. Como a professora alegou necessidade de ir ao banheiro, os outros se atrasaram um pouco.

Com a intenção de alcançar os comparsas, o assaltante que assumiu a direção partiu com a Pajero em alta velocidade. Em uma curva fechada, perdeu o controle da direção e o carro capotou três vezes. Marildes foi arremessada para fora, junto com um dos ladrões.

André conseguiu sair do carro e começou a procurar pela mulher já em meio à escuridão. Avistou um corpo estendido no matagal, mas, ao tocá-lo, percebeu que se tratava de um dos ladrões. O professor decidiu então se esconder, sem desistir de procurar por Marildes, mesmo com a clavícula fraturada e sentindo muitas dores.

A dupla que havia seguido na picape retornou e perguntou pelo casal aos comparsas. “Cadê a mulher? Cadê o cara?”, gritavam, segundo André. “A mulher morreu e o homem saiu correndo para aquele lado”, respondeu um dos envolvidos no acidente. Os ladrões desistiram de perseguir o professor, colocaram o comparsa ferido na carroceria da picape e fugiram. Ao se sentir seguro, André saiu do matagal e encontrou Marildes morta, perto do carro.

Desesperado, gritou por socorro, desorientado, na estrada escura. Apenas por volta das 21h foi ouvido por um caminhoneiro. Depois que a polícia foi avisada, André foi levado de ambulância para Eunápolis (BA), antes de ser transferido para um hospital particular de Porto Seguro. O corpo de Marildes foi para o IML da cidade. Depois da liberação, o traslado com destino a Belo Horizonte estava previsto para a madrugada de hoje. O velório está marcado para as 11h, no Parque da Colina, e o sepultamento, para as 16h.

Na noite de terça a polícia da região continuava à procura dos bandidos. A esperança era de que o ladrão ferido procurasse atendimento médico em algum hospital. André recebeu alta médica ao meio-dia de ontem. Durante toda a tarde, prestou depoimento à polícia.

O encontro que não ocorreu

Amiga do casal, a professora Ana Maria Gomes, que trabalhava com Marildes, conta que terminava suas férias e a colega começava as dela. “Eu voltava para Belo Horizonte e combinamos um encontro de passagem em Caraíva”, disse Ana Maria. Segundo ela, o casal foi abordado pelos ladrões por volta das 18h e o acidente ocorreu algum tempo depois. “O André está muito perturbado. O grau de violência foi assustador”, disse Ana Maria. Marildes deixou dois filhos. Vinícius, que estuda geografia na UFMG, foi a Porto Seguro reconhecer o corpo da mãe. O outro filho, Guilherme, que faz doutorado em economia na Universidade de São Paulo (USP), ficou sabendo da má notícia em Paris.

A professora da Faculdade de Letras Sônia Queiroz também era amiga de Marildes. Ela conta que desde as primeiras pesquisas de mestrado e doutorado o trabalho dela sempre foi voltado para a questão social, especialmente sobre a literatura e a escrita da população de baixa renda. Segundo Sônia, André é tranquilo, sempre dirige devagar e deve ter ficado apavorado quando percebeu a aproximação dos assaltantes.

Professora do setor de linguagem da Faculdade de Educação, Maria Zélia Versiani Machado ressaltou a importância da amiga Marildes para todos os que trabalham no Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita. “Ela foi uma das fundadoras do centro. Uma pessoa muito dinâmica. Atualmente, coordenava o curso de formação indígena na área da linguagem”, disse. (PF)

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/07/20/interna_gerais,240661/policia-procura-criminosos-que-sequestraram-professora-da-ufmg-na-bahia.shtml

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