Seminário sobre Mudanças Climáticas e Justiça Social

Por Beatriz Catarina Maestri*

Com o tema: Impactos e Desigualdades no Mundo Urbano, aconteceu nos dias 8 e 9 de julho de 2011, no Colégio Sagrada Família, no bairro Ipiranga, em São Paulo, o Seminário sobre Mudanças Climáticas e Justiça Social. O evento foi promovido pela Rede Jubileu Sul, em conjunto com pastorais e movimentos sociais da Grande São Paulo e contou com a participação de militantes de várias cidades desta região e outras vizinhas.

O aquecimento global tem provocado mudanças climáticas que afetam todas as formas de vida, dentre as quais a vida das populações mais pobres. Isto implica em repensar o modelo de sociedade, a matriz energética, os modos de produção e de consumo e o próprio modelo de desenvolvimento que vem sendo marcado pela economia de mercado capitalista que promove o consumo exacerbado, a precarização das condições sociais e a exploração a todo custo dos bens naturais.

Assim, os recursos naturais vão se esgotando de maneira acelerada e a poluição da atmosfera faz com que a Terra já não consiga manter o equilíbrio da vida. Como resultado, milhões de seres humanos não têm acesso aos bens necessários à sobrevivência, enquanto uma minoria concentra grande parte da riqueza existente.

Nas cidades, o quadro não é nada animador. O modelo como foram se expandindo questiona e faz pensar a quem, de fato, estão servindo. Entre os maiores problemas que fazem parte do contexto urbano estão: transporte, impermeabilidade do solo, uso irregular do solo e especulação imobiliária, grande quantidade de carros tornando o trânsito caótico, poluição, produção de lixo doméstico e poucas políticas de reciclagem, indústria e eletrônicos, canalização de córregos, ocupação de áreas de risco, dentre outros.

Os mais afetados, sabemos, são sempre os mais pobres, o que vai aprofundando as desigualdades sociais, culturais e econômicas. Esses e outros aspectos atuais, referentes ao tema citado, foram debatidos no Seminário que contou com a assessoria de Ivo Poletto, do Fórum Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Social, e teve como obejtivos:

a) A partir da observação da realidade, de como as Mudanças Climáticas impactam a população, o meio ambiente e o planeta, analisar quem são os verdadeiros responsáveis.

b) A partir da compreensão da realidade, dos impactos e das causas, identificar quais iniciativas, soluções e alternativas podemos fazer juntos;

c) Nos alimentar com a mística e a espiritualidade da Mãe Terra, para criar oportunidades e fazer a resistência a este modelo depredador e suas falsas ou precárias soluções.

Outro assessor que contribuiu com o aprofundamento na compreensão do fenômeno das Mudanças Climáticas e seus efeitos foi o professor e físico, Paulo Artaxo, que coordena o Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e é membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo ele, Brasil e Indonésia, juntos, são responsáveis por 60% de todas as emissões de gás do efeito estufa. O Brasil é o maior emissor de gás de efeito estufa por desmatamento. Precisamos reduzir essas emissões de gases o mais rápido possível e usar os recursos naturais de nosso planeta de forma inteligente.

Para outra assessora do Seminário, a ativista ambiental e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Marijane Lisboa, é preciso “pensar a política energética para produzir menos, consumir menos e distribuir melhor. As hidrelétricas não são a solução, precisamos reduzir o consumo de energias fósseis e promover a formação de energias renováveis”. E destacou ainda que o Brasil não investe em energia eólica e solar, portanto, devemos pressionar por isso e, neste debate, questionar sempre: energia para quê e para quem?

Ivo Poletto lembrou que precisamos construir novos instrumentos de enfrentamento e produzir uma mudança cultural, mudança nas nossas relações com as pessoas e com todo o ambiente. Para exemplificar essa busca por novas relações com todo planeta, citou a fala de um indígena, o presidente da Bolívia, Evo Morales: “Se nós, povos indígenas da América Latina sobrevivemos a cinco séculos de decreto de extermínio, deve ser porque somos portadores de valores que talvez venham a salvar a humanidade!”

Além dos debates, os participantes se debruçaram sobre as mudanças climáticas e seus impactos na região urbana, relacionando-os com o acesso aos recursos de nosso planeta, aos direitos sociais e ambientais tendo em vista uma verdadeira justiça climática.

Foram, ainda, acolhidas as boas notícias neste campo, projetos e práticas que fazem a diferença em nossa região, como o trabalho dos catadores de material reciclável, do Projeto Recifran, ligado ao Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), e as atividades da Associação de Integração Campo e Cidade (MICC), no apoio à agricultura familiar, estes na Grande São Paulo; e o Projeto Geração de Renda – Gestão de Resíduos Sólidos, da Cáritas de Botucatu (SP).

Em grupos, foram relacionadas ações de continuidade desse debate e atividades de mobilização na perspectiva de reivindicar políticas públicas e justiça ambiental.

O Seminário foi espaço fundamental para formação e maior consciência da responsabilidade e compromisso de cada um com a vida toda do planeta. Os desafios que ficam são muitos, mas, no coletivo, a força também é maior. E fazemos nossos os 12 compromissos assumidos pelo 2º Simpósio Nacional de Mudanças Climáticas e Justiça Social, especialmente o primeiro: “Empenhar nossa força na mobilização social e formação de consciência das populações sobre a urgência de iniciativas que se coloquem na linha da defesa dos direitos das pessoas, integradas à defesa do ambiente e do Planeta Terra”.

 

* Catequista Franciscana e missionária do Cimi Regional Sul – Equipe São Paulo

 

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5671&eid=403

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