Nações Unidas confirmam adesão ao Pacto Mundial de empresa violadora dos direitos humanos

Camila Maciel, Jornalista da Adital
“O carro-chefe das Nações Unidas (ONU) em matéria de negócios está sendo utilizado para encobrir abusos aos direitos humanos”, é o que denuncia a nota de imprensa da organização Survival Internacional, divulgada hoje (5). A afirmação refere-se à inclusão da empresa brasileira Yaguarete Porá, do setor de pecuária, no Pacto Mundial das Nações Unidas.

O Pacto foi planejado para as empresas que se “comprometem a alinhar suas estratégias e operações a dez princípios universalmente aceitos em quatro áreas temáticas: direitos humanos, padrões laborais, meio ambiente e anticorrupção”, de acordo com o texto de apresentação da ONU.

A empresa pecuarista, por sua vez, foi acusada e multada por cortar ilegalmente a floresta dos povos indígenas ayoreo, no lado paraguaio. De acordo com a Secretaria de Ambiente do Paraguai (Seam), que determinou a multa, a empresa “ocultou dados essenciais sobre a existência de indígenas dentro da propriedade no processo de licenciamento”, assinala a nota no site da Survival Internacional.

Pelo exposto, os indígenas pedem a expulsão da Yaguarete Porá do Pacto Mundial. Líderes desse povo escreveram ao Pacto Mundial das Nações Unidas, expressando sua “preocupação e frustração” diante desse fato. No entanto, a resposta foi que o Pacto Mundial não tem “nem os recursos, nem a autoridade para investigar nenhum de seus integrantes”, de acordo com nota de imprensa da organização.

Alguns dos povos ayoreo, que são compostos por subgrupos diferentes, ainda seguem ocultos na floresta. “Sua terra, no entanto, está sendo rapidamente destruída para dar passagem às fazendas de gado”, assinala Survival Internacional. Cerca de 78.549 hectares de terra dos totobiegosode, subgrupo ayoreo mais isolado, está em posse da Yaguarete Porá

Para o diretor da Survival, Stephen Corry, a adesão da empresa pecuarista “é uma burla ao Pacto Mundial das Nações Unidas”. A Empresa, inclusive, promoveu sua inclusão por meio do site oficial, criando “uma falsa imagem de sua responsabilidade corporativa”, assinala a nota de imprensa. “Se a ONU não assegura que as empresas que exibem seus logotipos cumprem as regras, esses tipos de iniciativas perdem todo o significado”, reclamou o diretor.

A destruição das florestas dos ayoreo

Os povos ayoreos são um dos últimos povos indígenas isolados da América Latina. Desde 1993, tentam obter o título de propriedade de suas terras. Com o avanço da pecuária, muitos membros dessa etnia foram obrigados a abandonar suas moradas. A empresa brasileira Yaguarete Porá é a principal responsável pela destruição da floresta nesse território.

Segundo Survival, a empresa é omissa às reclamações. Os indígenas denunciam a dificuldade em negociar com a Yaguarete para fazer justiça aos direitos de posse das terras dos indígenas. Somente em 2009, cerca de três mil hectares de terra foram destruídos pela empresa.

Para mais informações: http://www.survival.es/

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=58047

 

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