Dois líderes camponeses do Movimento Nacional Campesino Indígena (MNCI) da Argentina foram presos na província de Santiago del Estero, nos últimos dois dias. Simultaneamente, foi expedida ordem de prisão contra outros 12 dirigentes. Em nota publicada hoje (8), o movimento denuncia a perseguição política que vem sofrendo, a qual considera parte de um processo de criminalização.
No dia 6, ocorreu a primeira detenção, de Alcides Santillán, posto em liberdade à tarde. Pouco depois, à noite, Rafael Martín Galván foi detido sob acusação de ameaças a Hortensia Policarpio de Valderrama. Ontem (7), o movimento apresentou solicitação de liberdade aos companheiros, mas não obteve resposta do juiz que expediu o mandado de prisão, Tarchini Saavedra.
Para completar a ofensiva, o 4º juizado criminal da capital da província (também denominada Santiago del Estero) expediu, também no dia seis, ordem de prisão contra os militantes Ángel Strapazzón, René Santillán, Javier Santillán, Lino Santillán, Deolinda Carrizo, Hugo Carrizo, Gustavo Carrizo e outros cinco. Eles são acusados de associação ilícita, danos, usurpação e porte de armas de guerra.
No comunicado, o MNCI afirma que a polícia e a justiça de Santiago del Estero estão utilizando “procedimentos fora da lei e manobras que recordamos desde os tempos da ditadura e do juarismo” para intimidar os camponeses.
“Estes companheiros e companheiras, entre muitos mais, são lutadores pela igualdade, a justiça e pelo direito à terra, à soberania alimentar, comprometidos com as camponesas e camponeses e os setores populares e eternos defensores dos direitos humanos”, esclarecem.
Em entrevista à Rádio Mundo Real, uma das militantes acusada, Deolinda Carrizo, ressaltou que a perseguição é motivada por produtores de soja, que querem ocupar cada vez mais terras, desalojando famílias camponesas. As ordens se baseiam em uma denúncia da Sociedade Julián Hnos, empresa que se reconhece como proprietária do campo La Flor, em disputa territorial com famílias camponesas da região.
Ela contou ainda que o juiz Tarchini Saavedra já emitiu resoluções semelhantes contra os militantes, uma delas na semana passada.
Deolinda sublinhou que o MNCI, agregando 50 organizações, foi constituído há 20 anos e já é reconhecido nacional e internacionalmente, sendo esse um dos motivos da perseguição. Para ela, não é por acaso o fato de os acusados serem alguns dos mais importantes dirigentes do Movimento.
O MNIC estima que, nos últimos dez anos, pelo menos 200 mil famílias foram expulsas do campo em decorrência das atividades do agronegócio.
Solidariedade
A Coordenadora Latino-americana de Organizações do Campo (Cloc) e a Via Campesina manifestaram solidariedade ao Movimento Nacional Campesino Indígena. Em pronunciamento, exigem o fim da criminalização dos camponeses argentinos, bem como penalização dos acusadores, “que constroem falsas provas e acusações infundadas aos companheiros do MNCI”.
Frente à crescente criminalização dos movimentos na América Latina, reforçam que os povos têm direito a resistir, lutar pela terra, por acesso à água e soberania alimentar, “direitos que foram condicionados pelos interesses do capital transnacional ligado ao agronegócio”. Pedem ainda que o pronunciamento de solidariedade seja divulgado ao máximo, como forma de desmascarar as classes dominantes e inserir a luta contra a criminalização na agenda e debate públicos.
Com informações de Púlsar, Kaosenlared e Rádio Mundo Real
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=57258