Velho Chico: Euforia movida a gás

Ao completar três anos em Brasília, onde fazia faculdade de sistemas de informação, Pedro Júnior Resende, de 23 anos, recebeu em janeiro um telefonema. Do outro lado da linha, o pai dele tinha um pedido pouco usual: queria que Pedro trancasse a matrícula e voltasse o quanto antes para Brasilândia de Minas, na Região Noroeste, a 490 quilômetros de Belo Horizonte. “Ele disse que eu precisava ajudá-lo a administrar o hotel da família porque o movimento tinha crescido muito”, conta o universitário. Dias depois, foi a vez de um amigo de Pedro, Heraldo Ferreira, de 24, retornar à cidade após oito anos morando no Distrito Federal. Ele também decidiu se empenhar nos negócios da família.

A novidade que está fazendo jovens voltarem à pacata Brasilândia de Minas é a descoberta, pela Petrobras, de uma jazida de gás natural no município. A confirmação da reserva ocorreu em abril, mas desde o ano passado o movimento de funcionários da estatal transformou a rotina da cidade, de apenas 15 mil habitantes. Hotéis e restaurantes foram os primeiros a lucrar. Agora, a cidade começa a entrar na mira de construtoras e outras empresas. “Firmas interessadas em vir para cá nos sondam constantemente”, diz o prefeito, João Couto. “Só construtoras de imóveis foram cinco. Uma planeja erguer 240 moradias e outra, 150 unidades”, contabiliza. Diante de tanto movimento, ele prevê que a população de Brasilândia de Minas deve dobrar em pouco tempo.

As possibilidades para Brasilândia de Minas com a confirmação da jazida não param por aí. Na cidade, a expectativa é que a Petrobras trabalhará para que duas termelétricas, orçadas em US$ 1,2 bilhão, sejam instaladas na Bacia do Velho Chico. A estatal ainda não sabe o tamanho exato da reserva, o que será calculado na próxima fase do trabalho, mas pesquisas feitas há quase três décadas estimaram que as jazidas na Bacia do Velho Chico podem ter cerca de 1 trilhão de metros cúbicos do combustível. Se a previsão for confirmada, o país se tornará autossuficiente na produção do insumo. O Brasil importa, anualmente, 30 milhões de metros cúbicos de gás da Bolívia.

O poço em Brasilândia foi batizado de Oseas, nome de um dos profetas esculpidos por Aleijadinho em Congonhas, e tem 3,4 mil metros de profundidade. Nos próximos dias, a Petrobras vai perfurar outro poço, chamado de Amos, em João Pinheiro, onde espera encontrar gás a três mil metros abaixo do solo. O investimento da estatal nas duas reservas soma R$ 40 milhões.

“Eldorado” Com a perspectiva de crescimento da cidade, o universitário Pedro Resende e o pai decidiram ampliar os negócios em hotelaria. Eles já alugaram o segundo andar de um prédio comercial vizinho ao hotel da família para abrir mais cinco apartamentos. “A cidade caminha para ser o novo Eldorado do Brasil”, anima-se Pedro. O colega Heraldo, que atua no mesmo ramo, concorda. “Deixei o emprego de técnico em informática e um bom salário, mas aqui está melhor. Construiremos outras quatro suítes”.

A descoberta da jazida começa a mudar a vida de trabalhadores de Brasilândia, cujo carro-chefe é o agronegócio. Rogério Pereira Nunes, de 27, deixou o emprego de frentista, onde recebia R$ 700, para ser um dos motoristas dos diretores da estatal. O novo contracheque é de R$ 1,2 mil. “E tenho direito a tíquete refeição, de R$ 330 por mês, e plano de saúde”, comemora. Moradores de outras cidades também são atraídos. José Teixeira, de 55, deixou o caminhão que dirigia em Montes Claros, no Norte, para ser o encarregado de segurança do Oseas. “Sinto saudades da esposa e filhos, mas o salário vale a pena”.

Terrenos Brasilândia de Minas deverá acompanhar a realidade de Morada Nova de Minas, às margens do lago de Três Marias, na Região Central do estado, a 390 quilômetros da capital. Ali, uma reserva foi localizada em setembro de 2010 por um consórcio – formado pela Codemig, Orteng, Delp Engenharia e Imetame Energia – e criou clima de otimismo pela possibilidade de receber royalties da exploração do insumo e pela chegada de empresas interessadas no produto, como siderúrgicas. A perspectiva de crescimento fez o preço de imóveis disparar.

“O valor dos terrenos dobrou em Morada Nova”, afirma o corretor Valdir Pio dos Santos. “Quando a reserva foi descoberta (em setembro), vendi 40% a mais do que no mesmo período anterior. As pessoas estão comprando, principalmente, lotes para investimentos”, acrescenta. O motorista Cesóstere Pinto Ribeiro, de 56, deu sorte: comprou sua casa antes do início da corrida do gás. “Paguei R$ 20 mil e já vale R$ 40 mil”.

O prefeito de Morada Nova de Minas, Alex Rocha, espera que a descoberta atraia investimentos públicos e privados para a região. “A cidade teve grande visibilidade”, avalia. “Nossa economia é movida pelo agronegócio e turismo. O gás, quando começar a ser explorado, vai virar o nosso carro-chefe”. Assim como a Petrobras, a Codemig também depende de novos estudos para saber o tamanho exato da reserva e quando a matéria-prima poderá ser explorada.

ESTADO DE MINAS, 30-5-2011

http://impresso.em.com.br/

 

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.