BA – Moradores de Caetité impedem a entrada de carga nuclear na cidade, já que autoridades não respondem a protestos

Enviada por Diacisio Ribeiro Leite, da CPT Sul/Sudoeste – BA

Cerca de 2000 moradores da cidade de Caetité realizaram neste domingo no inicio da noite uma vigília em protesto, “contra o lixo atômico e em defesa da vida”. O protesto foi uma iniciativa da Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité (Ba), da Comissão Pastoral da Terra, da Cáritas e do Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania após informação de que um comboio com containers de material radioativo estaria se deslocando de São Paulo com destino à região da mina de urânio em Caetité – Bahia.

A população, revoltada com o descaso e com a total desinformação por parte da INB acerca do conteúdo da tal carga radioativa, bloqueou a rodovia que liga Caetité ao distrito de Maniaçu, principal rota de acesso à área da mina de urânio, impedindo a passagem das carretas com os containers. Com o bloqueio da rodovia, as carretas se deslocaram partindo algumas em sentido a cidade de Lagoa Real e outras por estradas vicinais que dão acesso ao local da Mina. A população se manteve no local em vigília e com gritos de protesto.

Segundo os manifestantes, a preocupação agora é quanto ao caminho alternativo que está sendo buscado pelo comboio para desviar dos manifestantes, uma vez que as demais estradas de acesso à mina não oferecem condições que garanta a chegada do material com segurança, expondo ainda mais a população ao risco com um possível acidente.

As organizações envolvidas com o ato informaram que foi feito comunicado ao Ministro da Ciência e Tecnologia, ao Governador da Bahia, à Ministra de Meio Ambiente, ao Presidente do IBAMA, à Diretoria de Licenciamento Ambiental – DILIC, ao Superintendente do IBAMA / Bahia, à Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia, à Comissão Nacional de Energia Nuclear, à INB – Indústrias Nucleares do Brasil, à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal da Bahia e ao Ministério Público Estadual da Bahia solicitando pedido de explicações e providências de acordo à competência de cada um, porém ainda não obteve nenhuma resposta.

Por volta das vinte e uma horas o Prefeito da cidade, José Barreira, compareceu ao local da manifestação e declarou publicamente que o mesmo não tinha nenhum conhecimento acerca da carga que estaria chegando ao município e afirmou que não permitirá que a mesma seja descarregada sem antes ter conhecimento do tipo de material transportado de quais os riscos oferece à população.

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Carta enviada no dia 12/05/2011 pela Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité e pela Associação Movimento Paulo Jackson- Ética, Justiça, Cidadania a diversas autoridades, até agora sem resposta:

Salvador, 12 de maio de 2011
Ilmos. (as):
Sr. Aluisio Mercadante, Ministro da Ciência e Tecnologia
Sr. Jaques Wagner, Governador da Bahia
Sra. Izabella Mônica Vieira Teixeira, Ministra de Meio Ambiente
Sr. Curt Trennepohl, Presidente do IBAMA

Com cópia:
Diretoria de Licenciamento Ambiental – DILIC; Sr. Célio Costa Pinto, Superintendente do IBAMA / Bahia; Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia; Prefeitura Municipal de Caetité; Câmara de Vereadores de Caetité; Comissão Nacional de Energia Nuclear; Indústrias Nucleares do Brasil; Sindicato dos Mineradores de Brumado; Polícia Federal;
Ministério Público Federal da Bahia; Ministério Público Estadual da Bahia

Ref: CHEGADA DE CARGA RADIOATIVA A CAETITÉ, NA BAHIA

Tomamos conhecimento de que chegará a Caetité uma carga de material radioativo, vindo de outro estado, que não sabemos a quê se destina.

Será lixo radioativo para ser depositado em Caetité?

Estarão trazendo material das antigas usinas paulistas, a USIN – que guarda cerca de 1.500 toneladas de Torta II (concentrado de urânio e tório) – e a USAM, que também guarda toneladas desse material atômico – ou do Planalto de Poços de Caldas, que estoca cerca de 12.500 toneladas de Torta II?

Estarão vindo lixo atômico das experiências da construção do submarino nuclear e mais toneladas de material radioativo de urânio, em diversas formas, do Centro Tecnológico da Marinha (Iperó-SP), para reprocessamento em Caetité?

Será que, devido ao gasto de 40 milhões de dólares com a importação de urânio, por causa da queda da produção de Caetité, querem “misturar” o minério caetiteense, de alto teor, com a Torta II (urânio de baixa qualidade), e, assim, colocar o produto no mercado externo, diminuindo o prejuízo?

Por que este material está vindo para Caetité?

Será Caetité um dos três municípios brasileiros que, segundo a CNEN, já se dispuseram a receber lixo atômico do Programa Nuclear Brasileiro, em troca de royalties e outras compensações financeiras, mistério mantido a sete chaves, pela CNEN, que não informa quais são esses municípios?

Quais riscos esta carga trará para o Município e os moradores da região?

Por se tratar de uma empresa federal, este material pode ser trazido sem que a comunidade seja previamente informada?

Autoridades rodoviárias dos estados, municípios e da União autorizaram o transporte, como define a Lei, e tomaram as providencias cabidas?

E a Prefeitura Municipal e o Estado da Bahia autorizaram a importação deste lixo?

Os órgãos fiscalizadores federais, estaduais e municipais não devem explicações à população de Caetité?

Porque o IBAMA ainda não divulgou o relatório da inspeção feita na Unidade de Concentração de Urânio, realizada em 4 e 5 de abril passado? O que será que viram os inspetores? Ou nada viram?

Tendo em vista a falta de transparência que caracteriza o setor nuclear, e considerando que o vazamento desta noticia levou grande intranqüilidade aos trabalhadores da INB e às populações da região, estamos solicitando a Vs. Sas., respostas urgentes a estas perguntas, que atormentam a comunidade, bem como pedimos esclarecimentos à Comissão Nacional de Energia Nuclear, à INB, ao Sindicato dos Mineradores de Brumado, ao Prefeito Municipal e Câmara de Vereadores de Caetité, ao Ibama e Superintendência desse órgão na Bahia e à Policia Federal, aos quais estamos enviando cópia desta mensagem.

Atenciosamente,

Adélia Alves de Brito Nunes
Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité

Zoraide Vilasboas
Associação Movimento Paulo Jackson- Ética, Justiça, Cidadania

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