O Grande Senhor da Casa Grande é “quase” preto

Por Arísia Barros

Os cinco séculos do fértil território rodeado pelas águas que os “desbravadores”, todos homens brancos, europeus, católicos, heterossexuais (?) descreveram como “um mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos”, são quase todos, marcados pela política do ferro e fogo das capitanias hereditárias e da escravização geracional.

A governança do segundo menor estado das terras de Cabral promove um processo de redistribuição da política do mando, como um modelo europeizado de apartheid sócio-político, cristalizando a cartografia do poder na demarcação histórica de espaços institucionais: um cargo para você, dois para mim. Dois cargos para você, cinco para mim.

E para o povo?

Ah! Para a vencida e despolitizada ampla massa minorizada- que decide eleição- com o levantamento de bandeiras “por vinte contos”, ansiando por uma individualização da “república feliz”, é disponibilizado o “sistema de controle estatal”, ou a redistribuição da face invisível do poder.

Esse invisível pedaço de chão, marcado por uma pobreza e violência nacional e extrema, observada atentamente por uma elite autoritária e repressora, seqüestra ideologias e identidades populares, simplesmente redistribuindo as migalhas do poder, como uma “suposta” proteção política e subterrânea, ou a malversada política da utilidade humana, perpetrando a ideologia da “cumplicidade’ no imaginário social e do “instrumento” contemplado e privilegiado.

É a cooptação da consciência humana nos territórios da ausência do estado: políticas públicas, possibilidades, oportunidades de acesso aos bens materiais e culturais.

Seremos nós, a ampla maioria minorizada cúmplices da compra oficial de consciências a preços módicos?

Assumir espaço de poder é abandonar a condição de reinterpretar esse mesmo poder, assumindo a contemporânea sujeição esquizóide do sim senhor! Não, senhor! Em uma cartilha secularmente forjada pela casta dominante?

Qual o valor do tributo que se paga pela possibilidade de ser livre, ter identidade política na “esquecida” República dos Palmares?

A despolitização é filhote parido na luta egocêntrica pela auto-sobrevivência, patrocina o massacre popular contra a própria essência da democracia.

Democracia é uma metáfora aética do estado?

O estupro (consensual segundo o deputado Demóstenes Torres (DEM-GO) no território avistado pelo donatário, Duarte Coelho propiciou uma dissolução coletiva da imagem identitária cultuada pelos vencedores. Surgiu a segunda via dos homens transfigurados, os ditos “miscigenados”, que assumiram os códigos iguais para a sobrevivência da velha ordem política e econômica dos desbravadores.

Atualmente, se contrapondo a realidade do extremismo étnico da província, recentemente afogada pela águas, Um Grande Senhor da Casa Grande, referendado pelo voto popular, mantém intacta a natureza do domínio-repressor dos desbravadores, como marco dominante do poder político, apesar da sua pele “quase” preta.

Fonte: Cada Minuto

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