MS – Terenas de Cachoeirinha estão sob ameaça de despejo

Grupo retomou área pertencente à sua terra tradicional anteontem. Desde então está acuado por fazendeiros da região e sob ameaça de despejo violento

Indígenas do povo Terena da Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda (MS), estão acuados por fazendeiros. O grupo realizou anteontem (4) retomada das fazendas Charqueado e Petrópolis, esta última de propriedade do ex-governador do estado, Pedro Pedrossian. Parte das áreas ocupadas estão dentro da terra reconhecida como de ocupação tradicional dos Terena.

Conforme relatos, logo que entraram na fazenda Charqueado, os Terena sofreram intimidações. “Abordaram nossos companheiros (Terena) e ameaçaram tomar a moto de um deles se ele não informasse sobre quem estava na ação. Os policiais também ameaçaram invadir a Charqueado durante a noite”, denuncia Vahelé.

Já na Petrópolis, 20 pistoleiros ameaçavam os Terena dando tiros para o alto, apesar da presença da Polícia Militar. É a terceira vez que os Terena retomam a área. Em maio de 2010, após permanecer por sete meses na fazenda, a comunidade foi violentamente desalojada com o uso de bombas de gás lacrimogêneo, cães e balas de borracha.

 

Ontem pela manhã, cerca de 10 caminhonetes chegaram ao local. Desde então, diversas pessoas estão sentadas em frente ao acampamento indígena. Diversos policiais militares e civis, bem como a Polícia Rodoviária Federal estão no local, o que intriga a comunidade, já que não cabe a essas polícias agir nessas situações. Questões relacionadas aos povos indígenas devem ser tratadas pela Polícia Federal e órgãos federais competentes.

O clima no local é de tensão e medo. Os indígenas temem ataques por parte dos fazendeiros, que a todo instante gritam que retirarão o grupo do local, durante a noite, nem que para isso seja necessário abrir fogo contra os indígenas. Outro temor é que ocorra um desalojamento ilegal nas áreas retomadas hoje, como aconteceu em 2009, em Sidrolândia (MS).

Na ocasião, sem que houvesse ordem judicial de reintegração de posse, policiais militares e fazendeiros expulsaram ilegalmente os indígenas Terena da Terra Indígena Buriti. Ainda que houvesse decisão judicial nesse sentido, este tipo de operação envolvendo terras indígenas caberia somente à Polícia Federal. O inquérito deste caso, instaurado pela Polícia Federal, está em andamento.

Área retomada

A área retomada é uma pequena parte do total de 36.288 hectares da TI Cachoeirinha, já reconhecida como terra tradicionalmente ocupada pelo povo Terena, conforme o Relatório de Identificação publicado no Diário Oficial da União (DOU), em 2003.

Além da identificação, em 2007 foi assinada a Portaria Declaratória dos limites da terra indígena pelo ministro da Justiça. O procedimento administrativo de demarcação foi parcialmente suspenso em 2010, por decisão liminar proferida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em beneficio do ex-governador do MS.

Desde a assinatura da Portaria Declaratória, pouco se avançou para a conclusão definitiva da demarcação, ainda restando pagamentos de benfeitorias aos ocupantes não índios, a demarcação física da área e a assinatura do Decreto de Homologação pela Presidenta da República.

Após oito anos de espera, desde a publicação do relatório de identificação, o índio Vahelé Terena espera que as ações de hoje sirvam para pressionar o Supremo Tribunal Federal. “O processo ficou parado, ninguém fez mais nada. A Funai ficou negociando as benfeitorias, mas os fazendeiros se recusam a receber o dinheiro”, explica Vahelé. “Inclusive, já tem fazendeiro fazendo venda ilegal das terras. Na charqueado nem tem mais gado. Essa terra está no nome do fazendeiro, mas está na mão de um comerciante de Miranda que já ameaçou a comunidade”, continua.

Cleymenne Cerqueira

Cimi – Assessora de Comunicação

 

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