O racismo da VEJA: “A ministra, o racismo e as luzes do doutor Ophir”

Deixando claro quem pensa o quê (negritos do autor):

Por Reinaldo Azevedo

Ontem, segundo a Folha Online, a ministra da Igualdade Racial, Luíza Bairros, no programa “Bom dia, Ministro”, acusou Jair Bolsonaro de praticar racismo e afirmou que há brancos incomodados com o espaço que os negros vêm ocupando. Disse mais:

“Isso [ocupação de espaço pelos negros] provoca reação. Para muitas pessoas, parece perda de espaço. Isso demonstra como ser branco, na sociedade brasileira, implica em determinados privilégios em detrimento dos direitos dos negros em geral”.

Tentei recuperar o programa, não consegui. Ao longo do dia, fiquei à espera de um desmentido da ministra. Não veio! Depois de ler a nota de Ophir Cavalcanti, presidente da OAB, acusando JaIr Bolsaro de ter violado a Constituição, pensei: “Doutor Ophir é advogado e presidente da OAB. É um homem justo. Agora ele vai emitir uma nova nota afirmando que a ministra também violou a Carta.”

Às vezes, sou um ser puro, inocente. A nota não veio.

O que a ministra disse não requer interpretação. Lá vou eu de novo. O que diz a Carta no inciso 42 do Artigo 5º?
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.
A Lei, no caso, é a 7.716, de 1989, que teve dois artigos alterados pela 9.459, de 1997. O que proíbe o Artigo 20?
“Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.”

Eu não acho que Luíza “praticou” ou “induziu” preconceito de raça. Quanto a “incitar”… Se temos uma ministra de estado, uma autoridade, que considera que “ser branco implica privilégios em detrimento dos negros em geral”, é perfeitamente lícito concluir que ela está incitando “os negros em geral” a se mobilizar contra, ATENÇÃO!, o “ser branco”. Não é contra um branco solapador de direitos no particular, mas contra o “ser branco”, todos os bvrancos. Então é luta racial! Quem seria louco de processar a ministra, não é mesmo? Felizmente, não existe um “movimento branco” para fazê-lo!

Como o doutor Ophir não fez nada, vai ver leu essas palavras de modo diferente. Se ele me enviar a explicação alternativa, publico aqui.

Folha deu sumiço à declaração

O mais curioso é que a Folha, a de papel, deu sumiço à declaração que foi publicada na Online. Daqui a pouco, é como se nunca tivesse existido. Vocês sabem: no Brasil, racismo só pode ser praticado por branco, certo? Lembro-me de uma entrevista que a então ministra Matilde Ribeiro deu à BBC Brasil. Reproduzo um trecho:

BBC Brasil – No Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos?
Matilde Ribeiro –
Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou”.

Isso aconteceu em março de 2007. Escrevi, à época, o texto Ministra Matilde Ribeiro  tem de ser demitida e processada. O resto da imprensa não deu um pio.  Processada não foi. Acabou fulminada pelo escândalo dos cartões corporativos.

Se o doutor Ophir fosse presidente da OAB, suponho que teria engrossado o silêncio.

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-ministra-o-racismo-e-as-luzes-do-doutor-ophir/


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