Crônica do julgamento do assassinato do Cacique Marco Verón

por Miryám Hess*

Após 8 anos decorridos do assassinato do grande líder Marco Verón era grande a expectativa de que houvesse justiça no Julgamento que se deu na Justiça Federal de São Paulo (para ter isenção). Crianças, mulheres e homens Guarani pintados e com cocares estavam presentes, entre estes as vítimas de tortura (filhas e filhos do Cacique Marco Verón). Início: manhã do dia 21 de fevereiro de 2011, término: noite de 25 de fevereiro de 2011. Longa jornada em busca de que a verdade prevalecesse. Tensão, sofrimento, risos, esperança.

A FUNAI materialmente contribuiu apenas com o ônibus da vinda dos indígenas Guarani de Mato Grosso do Sul para São Paulo; ressalte-se o empenho e zelo com que o Procurador da FUNAI, Alexandre, e o servidor Pereira, atuaram com os indígenas. Esse ônibus da FUNAI foi dispensado e voltou vazio na 6ª feira. Na noite de 21 de fevereiro os indígenas dormiram na Tekoá Pyaú. De 3ª a 6ª feira os indígenas dormiram no albergue da Prefeitura de São Paulo. Tanto a volta dos indígenas para Dourados/MS como a alimentação e roupas vieram do auxílio conseguido através de articulações do CIMI, Movimento Indígena Revolucionário, Rede GRUMIN de Mulheres Indígenas, Terre Indigene, Tribunal Popular: o Estado Brasileiro no Banco dos Réus, entre outros. Contribuíram: a APROPUC, o Conselho Regional de Psicologia/SP, o PSOL, munícipes, entre outros.  Foi graças a esta solidariedade que a situação dos indígenas não foi muito pior.

Durante nosso apoio aos indígenas ouvimos relatos impressionantes sobre as torturas e aterrorizamentos sofridos por filhas e filhos do Cacique Marco Verón. Um filho dele nos relatou a tentativa de assassinato que sofreu, uma das filhas dele foi torturada grávida e perdeu a criança uma semana depois das torturas (a perda da criança nem sequer constou dos autos do Processo), outra filha dele teve que parar um curso superior de Direito. Até as crianças netas do Cacique Marco Verón foram ameaçadas pela quadrilha de assassinos do Cacique. Vimos também as mentiras proferidas pelo advogado dos assassinos para toda a grande imprensa, ávida também de ouvir as mentiras dos assassinos. Grande imprensa esta surda e cega para com a versão dos indígenas.

Na noite de 25 de fevereiro era grande a tensão aguardando o resultado do Julgamento. Aparentemente se faria justiça neste Processo. Um ex funcionário da fazenda, não indígena, depôs em favor dos indígenas. Um delegado federal depôs em favor dos indígenas, O Ministério Público Federal depôs em favor dos indígenas. Entretanto, o resultado do Julgamento não condenou os réus por assassinar o Cacique Marco Verón. Eles foram condenados, minimamente, por formação de quadrilha, tortura e seqüestro. No entendimento de integrantes do Movimento Indígena Revolucionário presentes no apoio aos indígenas, este Julgamento apenas se presta para que nos próximos assassinatos de lideranças indígenas se tome mais cuidado (não seqüestre, não torture, não deixe tantas pistas …). Dizer que houve avanço porque através deste Julgamento se gerou jurisprudência para que todos os próximo s julgamentos envolvendo indígenas possibilite o depoimento na língua indígena não apaga a dor do coração da viúva e demais familiares do Cacique Marco Verón, além de perpetuar a impunidade dos crimes contra a pessoa indígena.

*Conselheira do Conselho da Rede GRUMIN de Mulheres Indígenas, ativista do Movimento Indígena Revolucionário.

União Campo, Cidade e Floresta.

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