CDS lança mestrado em Sustentabilidade para indígenas

Metade das vagas serão reservadas a estudantes índios. Curso será feito em parceria com a Presidência da República

Cecília Lopes – Da Secretaria de Comunicação da UnB

O Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília dará início a um curso de mestrado que vai unir em uma mesma sala de aula alunos e professores índios para a elaboração de pesquisas sobre sustentabilidade junto a povos e terras indígenas. Com início previsto para o próximo semestre, o mestrado vai oferecer 26 vagas, das quais 13 estão reservadas para estudantes indígenas.

A ideia, de acordo com Mônica Nogueira, professora da Faculdade UnB Planaltina e do CDS, é que indígenas e não-indígenas troquem conhecimentos. “A criação desse mestrado é uma iniciativa inédita, que inova na metodologia, garante 50% das vagas para indígenas e a massiva participação deles como professores”, explica a docente.

As inscrições vão até 11 de fevereiro e as aulas começam em 27 de março. Para participar, os candidatos devem ter graduação em qualquer área do conhecimento. Os não-indígenas devem comprovar que já fizeram trabalhos junto aos povos indígenas.  Acesse o edital aqui.

Com duração de 22 meses, o curso terá quatro seminários integradores. O primeiro deles acontece entre 27 de março e 1º de abril. Os encontros serão comandados por professores, índios e estudiosos sobre tema. “Os seminários são chamados de integradores porque tem a finalidade de unir, compartilhar e integrar efetivamente os saberes”, explica Sandra Lima, coordenadora pedagógica do curso.

Gersem Baniwa, diretor do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas, é um dos professores do mestrado. Ele é mestre em Antropologia pela UnB e agora cursa o último ano do doutorado na mesma área. “O curso discutirá propostas não apenas de como lidar com a sustentabilidade dos povos indígenas e nem dos recursos naturais, mas de todo o Brasil”, afirma. Segundo ele, as terras indígenas representam 13% da área do país. “Parece pouco, mas estamos falando do patrimônio cultural e da biodiversidade brasileira”, comenta.

EXPECTATIVAS – Além dos seminários, haverá uma viagem para São Gabriel da Cachoeira (AM), que deve acontecer em julho. Os estudantes poderão ver de perto as práticas de 23 povos. Álvaro Tukano, índio da região, está animado com o encontro. “Os cientistas daqui vão conhecer os doutores da floresta, que andam de pés descalços e unhas sujas, mas possuem um conhecimento milenar”, afirma. Álvaro acredita que a troca de saberes será fundamental para que os brancos saibam do que realmente os índios precisam. “Nós queremos peixe no prato e terra sem agrotóxico”, exemplifica.

Para ele, a civilização dos brancos é muito complexa e por isso ainda não entendeu as necessidades dos índios. “Essa sociedade dos brancos mata. Os índios morrem de velhice, os brancos não. Nós achávamos que ser índio era uma vergonha, mas não é. Hoje em dia todo mundo quer ser índio”, afirma. “Espero que os estudantes saiam desse curso preparados para entender do que os povos indígenas precisam”, completa.

Mônica Nogueira explica que a excursão será fundamental para aprofundar o conhecimento de alunos e professores. “É importante a gente discutir criticamente em sala de aula sobre a gestão ambiental em terras indígenas, mas é fundamental conhecer a realidade deles de perto”, afirma. Gersem Baniwa afirma que a proposta de levar os estudantes em campo logo no ínicio do curso facilitará os debates. “Eles terão uma referência concreta, não apenas a literatura. As discussões serão mais realistas e intensas”, aposta.

Alfredo Silva Wapixana, presidente da Federação Indígena Brasileira e consultor para assuntos indígenas da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, conta que índios de todo o país estão interessados no mestrado da UnB. “Minha missão enquanto liderança é que muitos índios participem para que a gente consiga dar conta das crescentes demandas dos nossos povos”, explica. Ele afirma que é prioridade da Seppir – parceira da UnB no mestrado – investir na formação superior de indígenas como uma forma de promover a igualdade racial. “É importante ter pessoas qualificadas que entendam a realidade dos povos.”

Othon Leonardos, um dos professores responsáveis pela criação do curso, conta que há dez anos tenta incluir na academia outra forma de conhecimento cultural, como o dos indígenas. Nesse período, conheceu e conversou com sábios indígenas. “Agora nós conseguimos fazer uma ação junto com eles e não para eles. Nós aprenderemos com eles e vice-versa. Esperamos construir um diálogo verdadeiro”, afirma.

GRADE CURRICULAR

Módulo 1: epistemologia e fundamentos do indigenismo e da sustentabilidade

1. Seminário Integrador 1: diálogos interdisciplinares introdutórios
2. Indigenismo e sustentabilidade
3. História indígena e política indigenista no Brasil
4. Cultura e Sustentabilidade ambinetal
5. Direito/Justiça: conflitos e políticas públicas
6. Territorialidade e diversidade indígena
7. Excursão didática a São Gabriel da Cachoeira (AM)

Módulo 2: tópicos especiais em indigenismo e sustentabilidade

1. Etnociência, conservação de recursos genéticos e segurança alimentar
2. Patrimônio, memória e conhecimentos tradicionais
3. Cultura digital em territórios indígenas
4. Conflitos e projetos em terras indígenas
5. Saúde e medicina tradicional

Módulo 3: diálogo de saberes

1. Seminário Integrador 2: olhares indígenas sobre a educação
2. Encontro de saberes
3. Seminário Integrador 3: metodologias de pesquisa
4. Seminário Integrador 4: questões indigenistas na contemporaneidade
5. Seminários de orientação / Apresentação dos trabalhos de Conclusão

http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=4544#

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