A soberania alimentar como alternativa

Sergio Ferrari* (Tradução: Adital)

A solidariedade se mobiliza contra a fome no mundo e suas causas estruturais

A terra poderia alimentar 12 bilhões de pessoas
A presença na Suíça de dirigentes camponeses latinoamericanos
O MST do Brasil é convidado de honra

Mais de 1 bilhão de pessoas passam fome atualmente no mundo. Uma situação “escandalosa”, segundo a Federação Genebrina de Cooperação (FGC), que convoca, a partir da quinta-feira, 27 de janeiro, durante três dias, para um Encontro de Solidariedade para debater a problemática. “A alimentação em perigo, que tipo de agricultura queremos?” constitui o tema central do evento que tenta promover um olhar Norte-Sul sobre a soberania alimentar, como uma alternativa propicia ao ‘flagelo’ da fome.

Nova pedagogia para a tomada de consciência

“O aspecto mais importante desse evento é seu valor pedagógico”, sublinha Yanik Marguerat, responsável de comunicação da Federação. “Temos que superar o estágio da denúncia dos fenômenos para promover verdadeiras soluções para sair das diversas crises, entre elas, a da alimentação mundial”, sustenta.

Pretende-se chegar “a um público o mais amplo possível, sobre uma temática que não é simples de ser compreendida; porém, que tem também uma incidência direta no cotidiano suíço”, explica.

Em Genebra e em tantos outros lugares da Suíça muitos pequenos produtores agrários debatem hoje sobre seu futuro e a viabilidade ou não de seu trabalho e produção. “Buscamos aproximar a realidade vivida pelos camponeses da Suíça e da Europa com a dos da África, da Ásia e da América Latina. Compreender melhor um problema mundial comum para poder ser melhores cidadãos suíços e do planeta”, sublinha.

As malformações no tema da alimentação são estruturais, “do contrário não se pode explicar que exista 1 bilhão de famintos em um planeta que tem 7 bilhões de habitantes; porém, com recursos para produzir comida para 12 bilhões de pessoas”, enfatiza.

Convidados latinoamericanos

Entre os principais convidados internacionais, dois representantes latinoamericanos. Janaina Stronzake, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Brasil, e Pedro Quimbiamba, um dos responsáveis da Confederação Nacional de Organizações Camponesas, Autóctones e Negras do Equador (Fenocin).

Além deles, participarão Claude Girod, da Confederação Camponesa (França), organização nacional que faz parte da rede internacional Via Campesina; bem como Javier Sánchez, um dos dirigentes europeus da rede.

A sensibilização não se deve limitar a um exercício intelectual, explica o porta-voz da FGC; “e, por isso, integramos um programa variado de três dias que inclui conferências, debates, concertos, contos, exposições fotográficas e filmes”.

Longa experiência acumulada

Esse Encontro de Solidariedade será o terceiro (os anteriores em 2005 e 2008) organizado pela Federação Genebrina de Cooperação nos últimos dez anos. É uma iniciativa que se vai consolidando e que se perfila “como um dos eventos dessa natureza mais importantes da Suíça”, avalia Marguerat.

Quanto à origem do mesmo, “foi o resultado de uma pesquisa que fizemos em 2002 e que sublinha a importância de encontrar uma temática transversal que pudesse enriquecer o intercâmbio de suas associações membros”. Dito estudo nos indicava “a necessidade de ampliar a informação e sensibilização a um público mais diverso, que não estivesse necessariamente convencido da importância da cooperação e da solidariedade”, diz Marguerat.

“A fome não é uma fatalidade”

“Estamos convencidos de que a fome não é uma fatalidade”, sublinha o porta-voz da FGC. Daí a preocupação, para os organizadores do Encontro, de que a reflexão se situe na busca de opções, propostas e alternativas.

Nessa constelação de busca, “que muitas de nossas associações membros se manifestam favoráveis ao conceito de soberania alimentar”. “Defende o direito das pessoas e dos países a definir suas próprias prioridades agrícolas e alimentícias”.

Quinze anos depois de sua emergência como proposta, a soberania alimentar “se projeta como uma arma contra a pobreza e os desequilíbrios econômicos”.

No entanto, concluiu Marguerat, ficam abertas perguntas sobre as dificuldades com as quais se confronta, ou melhor, sobre a forma de implementá-la, e daí, a particular importância de iniciativas como a de Genebra.

*Sergio Ferrari, em colaboração com E-CHANGER e swissinfo.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=53498

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.